terça-feira, 5 de abril de 2016

GERUNDISMO e ENDORREIA:


- O gerundismo está absolutamente difundido. Às vezes assisto à palestras e acabo 
prestando atenção à forma que ao conteúdo tamanho é o uso do gerundismo.
Doem meus ouvidos. 
[Graça, São Paulo/SP].


O BCCCV informa:



Também o leitor Joilson Leal, de Belo Horizonte/MG, se interessa pelo tema 
e pergunta: 
- "Qual o macete para descobrir o gerundismo e não entrar nesse horror?"


Se o gerundismo é fenômeno linguístico relativamente recente no Brasil, 
não o é a endorreia — "é assim que os puristas chamam ao abuso do gerúndio 
e ao seu uso pouco vernáculo", 
informa Rodrigues Lapa, em Estilística da Língua Portuguesa (1959:177). 


Esse nome um tanto esdrúxulo provém da formação do gerúndio nos verbos da
segunda conjugação [vendo, tendo, vendendo etc.] e chama a atenção para um 
excesso de gerúndio no português brasileiro que chega a soar mal aos falantes
do português europeu. Lá se diz, por exemplo, "estão a fazer renda" em vez de
"estão fazendo".


Dizem que a endorreia é francesismo. Já o gerundismo é atribuído à influência 
do idioma inglês no Brasil. Seria uma tradução malfeita de "I am going to do 
something" [literalmente: Estou indo fazer algo], ou então a tradução ao pé da 
letra de um futuro muito usado pelos americanos: "We will be sending you the 
catalog soon, que se poderia traduzir por: -  "Nós estaremos lhe enviando o 
catálogo em breve". Em português temos a opção de dizer:
" Nós lhe enviaremos..." ou "nós vamos lhe enviar o catálogo", sem necessidade
da fórmula  - *Nós vamos estar lhe enviando.


Esta construção abusiva do gerúndio é muito utilizada nos serviços de atendimento
ao cliente por telefone e telemarketing, e nesse caso pode se explicar por uma 
tradução apressada dos manuais que vêm do exterior. Mas ela se repete em 
inúmeras outras circunstâncias porque de fato entrou no gosto do brasileiro
— veja-se a endorreia tão nossa!


De qualquer modo, há que se distinguir o bom do mau emprego gerundial. 
"O problema consiste em saber se de fato o uso do gerúndio traz vantagem 
estilística sobre os outros processos" (ibidem, p. 178). Vale dizer que ele é 
muito apropriado nos casos em que se necessita transmitir a ideia de:
movimento, de progressãoduraçãocontinuidade.


É correto, então, nestes exemplos (reais):

                   1)     Em virtude do atraso, estaremos recebendo o pagamento em 
conta corrente nos dias 27 e 28.

                   2)     — Podemos nos encontrar no fim-de-semana?

                           — Infelizmente não, pois vou estar viajando.


                   3) Em outros artigos ela estará dando maior atenção a cada um 
desses temas.

                   4) Ela deve estar fazendo as tarefas de casa agora.

É abusivo — gerundismo — nos seguintes casos:

                   5) Vou aproveitar o 13º para estar pagando tudo. [devemos trocar 
por: para pagar].

                   6) Concomitantemente, temos que estar discutindo
e reconstruindo um currículo escolar que venha a ser um
instrumento de formação integral. [temos que discutir e reconstruir].

                   7) Estes temas devem servir para estarmos aprofundando as 
discussões. [para aprofundarmos].

                   8)     Nossos atendentes vão estar efetuando a cobrança
 somente em maio. [vão efetuar = efetuarão].


Repetindo o que vimos na coluna NTL 120 e considerando as frases acima: 
evita-se  o gerundismo ao fazer a troca da locução verbal ESTAR mais 
GERÚNDIO por um simples INFINITIVO (flexionado ou não), desde que 
não se trate efetivamente de uma ação durativa, como nos exemplos 1 a 4.



Maria Tereza de Queiroz Piacentini

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