terça-feira, 14 de setembro de 2021

MISTIFICAR ou MITIFICAR/ DESMITIFICAR ou DESMISTIFICAR?

Na coluna Não Tropece na Língua 107 há a seguinte frase: “Moradia própria. Desmistificar o conceito de que somente a casa própria é digna de apoio da lei”. Gostaria de saber se neste caso o mais adequado não seria o uso de desmitificar ao invés de desmistificar. Thais Guedes, Florianópolis/SC Mitificar ou desmitificar tem a ver com mito. Mistificar ou seu contrário, desmistificar, tem a ver com engano, logro, ilusão, engodo, falsidade, enganação. No caso apresentado pela leitora, portanto, está correto dizer “desmistificar o conceito”, pois se trata de desmascarar esse engano (na visão do autor) ou tirar as pessoas da ilusão de que somente a casa própria é digna de apoio da lei.
Vejamos esses termos em mais situações de uso: MITIFICAR significa “tornar mito”. Mitificação = transformação em mito. A ideologia fascista mitifica não só as formas históricas de integração racial, como procura tornar vivos os antagonismos sociais, o mecanismo da concorrência capitalista. Gabeira foi sempre mitificado pela mídia. Observou ali uma inclinação para a demonização e mitificação do judeu. MISTIFICAR quer dizer “abusar de credulidade de alguém; iludir, ludibriar; falsear”, ou até mesmo “fantasiar”. Mistificação = logro, burla, engano. Apelam a qualquer recurso, mistificando a opinião pública. Mistifica quem fala em Brasil grande. O autor aponta a mistificação do capitalismo: doença mundial, conspiração mundial, ruína mundial. DESMITIFICAR significa destituir algo do seu aspecto mítico [de mito], irreal, fantástico, lendário ou atrativo, tornando-o banal, comum, trivial. Os médicos têm desmitificado a impotência como uma questão puramente emocional. Uma passada pelos bastidores pode desmitificar a mais bela das mulheres. DESMISTIFICAR significa desmascarar, destituir do caráter místico, misterioso, ilusório, falso. Para o exercício da democracia, a desmistificação dos pretensos grandes homens deve ser considerada um passo à frente. Temos a possibilidade de desmistificar ideias antigas, deuses de barro, santos que não são santos. * Maria Tereza de Queiroz Piacentini-
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sexta-feira, 18 de junho de 2021

LATINISMOS: AD HOC, SINE QUA NON, IPSO FACTO

 --- O que significa ipso facto? G. B. L., Curitiba/PR

 

A expressão latina ipso facto quer dizer “pelo próprio fato”, como resultado da evidência do fato, como sua consequência natural; ela é empregada, então, com o sentido de “por isso mesmo, consequentemente, por via de consequência, naturalmente”:

 

O #BCCCV esclarece:

Ao sucumbir a este sensacionalismo, privilegiando os interesses comerciais em detrimento de um conteúdo jornalístico crítico e, ipso facto, desrespeitando a inteligência do leitor, a Folha macula definitivamente a sua reputação.
 

Processados, o juiz de direito acolheu-os, declarando, ipso facto, nula a execução. 
 

Não sendo a renovação da licença expressamente requerida pelo contribuinte, inocorre o fato gerador da taxa. Ipso facto, não há como se falar em legalidade de sua exigência na renovação anual.
 

Você pode frequentar as aulas, mas isso não quer dizer que seja aprovado e ipso facto receba os créditos da disciplina.

 

--- Gostaria de saber o significado da expressão sine qua non; qual a origem e qual seu uso. E. A. A., Laranjeiras do Sul/PR

 

A tradução literal de sine qua non é “sem a qual não”, a indicar que uma condição, fator, cláusula ou circunstância é essencial, indispensável para a realização de determinado ato, evento ou circunstância:

 

A capacidade de conter e integrar os impulsos de ódio por meio de tendências amorosas é condição sine qua non para tornar possíveis quatro satisfações indispensáveis ao viver: a liberdade, a verdade, a beleza e a justiça.

 

Na expressão latina original já se encontra a palavra “condição” – conditio sine qua non. Neste caso pode também ser usada sem a partícula “non”:

 

A quitação das dívidas anteriores foi conditio sine qua non para que o grupo empresarial fizesse novos investimentos.


O equilíbrio de deveres e obrigações é conditio sine qua da convivência internacional.

 

--- O que quer dizer um “secretário ad hoc”?  Viviana Silva, Aracaju/SE

 

A locução latina ad hoc significa “para o momento”. Ela é usada, então, com o intuito de informar que algo (um fato, uma função, um cargo, uma pessoa) é provisório, isto é, foi criado rapidamente, para um propósito específico e momentâneo:

 

Em vista da ausência do secretário Paulo Lemos, a nossa gerente de Recursos Humanos vai elaborar a ata na qualidade de secretária ad hoc.
 

Tentando entender as causas da inadequação das instituições monetárias e fiscais brasileiras, afirma Franco que elas resultam do fato de terem se desenvolvido para serem mecanismos executores de prioridades nacionais ad hoc sob o controle de regras decisórias autoritárias.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

PREFIXOS e suas regras:

PREFIXAR, PRÉ-FIXAR E CASOS AFINS:

 --- Qual a regra de utilização do prefixo pre em palavras como pré-história e predestinação? A. L. C., Bom Jesus do Itabapoana/RJ

 

A regra (estabelecida em 1943) para o uso do acento agudo em tais casos – pré ou pre – é a pronúncia aberta ou fechada do E. Isso significa que, quando o prefixo é tônico –  PRÉ –, ele se separa da palavra seguinte por hífen. Quando átono – PRE –, aglutina-se ao segundo elemento. O Acordo Ortográfico (2009) assim se expressa: [usa-se o hífen] “d) Nas formações com os prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover)” – Base XVI, 1º. 

 

O #BCCCV esclarece:


Assim, de um lado temos pré-história, pré-estreia, pré-pago, pré-datado, pré-moldar, pré-habilitar, pré-natal, pré-fabricado, pré-molar, pré-adolescente, pré-cozido, pré-olímpico, pré-coma – para dar mais alguns exemplos.

 

De outro lado, encontramos predestinação, predispor, predisposição, precogitação,  prejulgar, predizer, predominar, pressupor, preordenar etc. 

 

Um problema é quando não se distingue facilmente entre e aberto e e fechado, como em preanunciar, preaquecer ou precitado (“citado anteriormente”). Não se pode esquecer que em muitas regiões do Brasil há uma predominância do timbre aberto, o que leva por conseguinte ao pré tônico. Muitos brasileiros, ou a maioria, falam por exemplo “pré-estabelecer” e “pré-condição”, mas a grafia oficial é “preestabelecer” e “precondição”. 

 

Em virtude dessa ambivalência é que o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa 2009 já registra duas grafias em alguns casos: pré-eleito, pré-eleição e preeleito, preeleição; pré-embrião e preembrião; pré-demarcar, pré-demarcação e predemarcar, predermarcação. 

 

Sugiro que o leitor anote quatro casos, bastante comuns, de palavras habitualmente pronunciadas com som aberto mas escritas sem hífen e portanto sem acento gráfico:  

 

O ajuste foi aceito de acordo com as condições preestabelecidas.
 

Os fatos preexistentes não nos permitem mudar de rota.
 

Está sendo minuciosamente predeterminado cada passo do plano.
 

Serão predefinidos os termos em que faremos a negociação.

 

Outras duas palavras que comportam um comentário à parte são pré-fixado e prefixado. Quando se trata de “colocar prefixo em”, não há dúvida de que só se usa prefixar (ou aprefixar):

 

Para se formar um novo verbo em português, basta prefixar uma forma primitiva.

 

Já no âmbito da economia, a forma que apresenta mais lógica e clareza, por trazer a ideia de prazo fixado com antecedência e por ser efetivamente pronunciada com timbre aberto, é pré-fixar, que ainda se opõe melhor a pós-fixar e a pós-datar. A questão é que nem todos os dicionários brasileiros registram a forma com hífen, encontrada entretanto no Dicionário de Usos do Português do Brasil (Francisco S. Borba, 2002):

 

Títulos de renda pré-fixada.
 

Você faz uma transação cuja margem de lucro são os juros e correção monetária pré-fixada.

 

Há outro caso parecido: preconceito em alguns casos específicos escreve-se pré-conceito, para fazer a distinção entre a intolerância, ou “atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio”, e o conceito formado a priori, seja favorável ou não.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 21 de maio de 2021

PORÉM: Conjunção Adversativa (USO)

 --- Os manuais de redação afirmam que não se pode iniciar oração com porém. Por quê? Solange Loos, Curitiba/PR

 

--- Nunca se usa porém em início de parágrafo? Todas as gramáticas condenam tal uso ou há alguma brecha para usá-lo? N. N. R., Brasília/DF

O #BCCCV esclarece:


 
Temos aqui duas questões: o uso de porém no início da oração e do parágrafo. Não há jornal ou revista que não contenha pelo menos uma frase ou oração iniciada pela conjunção adversativa “porém”. Isso faz parte da nossa escrita, sempre fez. Dois exemplos: 
 
O lançamento dessa medicação é um avanço, porém a reportagem não comentou o seu preço. 
 
Vence quem ganha mais e cede menos. Porém, ceder é preciso. 
 
Assim, não vejo razão para uma afirmação deste tipo: “Porém: Não inicia oração e, por isso, deve aparecer no interior dela”. Pode-se até dizer que essa conjunção fica elegante, talvez requintada, quando aparece no meio da oração (p. ex., “Ceder, porém, é preciso”), mas não que essa deva ser a regra.
 
E já que se trata mais de estilo do que de erro, que Gladstone Chaves de Melo tome a palavra. O conhecido professor mineiro-carioca, doutor em língua portuguesa e autor de mais de 30 obras, em seu livro Iniciação à Filologia Portuguesa (1957,  p.353) faz as seguintes ponderações no capítulo “Como se deve estudar a língua”:
 
“Todo o ensino da língua deve consistir em apurar o sentimento da linguagem. Mostrar o que está certo, chamar a atenção para o que está bem [...] Aprimorar o gosto, despertar e fomentar o senso de distinção, exercitar a plasticidade da inteligência, para fazer compreender que para cada uso linguístico há uma linguagem especial, de tal modo que não é possível estabelecer esquemas rígidos, grosseiramente aplicáveis a todos os casos [...].
“Se alguém traz no bolso do colete a regra seca de que não se começa a frase por pronome oblíquo, como poderá apreciar a beleza daqueles versos do Evangelho nas Selvas, de Fagundes Varela, quando Anchieta encontra uma índia cismarenta, lhe dirige a pergunta: ‘O que fazias, filha’?, e ouve como resposta: ‘Me lembrava dessa criança’? [...]
“Se alguém levou a sério a lição veiculada por Cândido de Figueiredo de que ‘não é bem português’ a colocação de porém no início de frase – não obstante as centenas de exemplos em contrário, desde os mais antigos até os mais modernos textos –, se alguém levou a sério a cerebrina teoria, não poderá saborear devidamente a beleza desta construção de A cruz mutilada, de Herculano: ‘Porém, quando mais te amo...’ ”
 
Quanto à segunda questão, de fato não convém iniciar parágrafo com porém, mas e senão, que são as adversativas por excelência. Se essas três conjunções têm valor adversativo, isto é, exprimem a incompatibilidade das ideias envolvidas, elas devem estar ligadas de imediato ao enunciado anterior, dando pois sequência à afirmação principal ou tópico frasal do parágrafo, embora com ideia de oposição, contrariedade.
 
As outras assim chamadas conjunções adversativas [portanto, entretanto, contudo, todavia, não obstante] são na verdade “advérbios que estabelecem relações interoracionais ou intertextuais” (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 2001:322), podendo por isso dar início a um novo parágrafo, ao contrário de mas e porém.

 


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

REGÊNCIA e outros:

 -- A cerveja que desce redondo ou redonda? C. B. M., Londrina/PR

 

O #BCCCV esclarece:

O assunto voltou à tona quando começou a circular nova frase: “Beber redondo é beber com responsabilidade”. Está correto usar, em ambos os casos, a forma redondo, pois aí o adjetivo “redondo” está sendo usado como advérbio de modo, a modificar o verbo, como se fosse “redondamente”. Neste caso ele fica neutro, ou seja, no masculino singular, ainda que um eventual substantivo na mesma oração esteja no feminino ou no plural, pois – repetindo – não é ao substantivo que esse tipo de adjetivo-advérbio se refere, mas sim ao verbo. De outra parte, não se pode dizer que a cerveja é redonda. 
 
Usar o adjetivo adverbialmente é prática bastante usual em português, como se vê abaixo:
 
Agiu certo. 
 
Jane saiu leve.
 
Ande rápido, por favor.
 
Paulo pisou firme.
 
Os idosos pediram que falássemos alto.
 
Resolveu investir pesado na área de ecoturismo.
 
O programa corrige automaticamente informações digitadas errado.
 
O governo tem caminhado lento nas negociações.
 
Quem estacionar na Zona Azul sem cartão será multado direto.
 
É como se disséssemos: “Agiu acertadamente. Saiu com leveza. Pisou firmemente ou com firmeza. Ande rapidamente. Falamos em voz alta. Resolveu investir muito ou maciçamente. Informações digitadas de modo errado/erradamente. Tem caminhado lentamente. Será multado sem apelação”.
 
Ver também, sobre o assunto, a coluna Não Tropece na Língua 26.
 
 
--- Gostaria de saber a correta regência do verbo constar.  G. C., Belém/PA
 
--- Quando devemos usar constar de e constar no, na ou em? Ex: Meu nome está constando na lista de aprovados ou da lista de aprovados? Veja se meu nome consta na ou da lista? Grace C. F. Deana, Brasília/DF
 
As duas preposições – de e em – são corretas quando se usa o verbo constar com o sentido de “estar escrito, registrado ou mencionado” ou “fazer parte, incluir-se”:
 
Seu nome consta da lista de aprovados.
 
Consta nos autos que... Consta dos autos que...
 
Tal vocábulo nunca constou nos dicionários.
 
Vou fazer constar o incidente em meu relatório.
 
O ideal seria que nesse caso só se usasse o complemento regido da preposição em, mas de qualquer modo se aceitam as duas formas. Já quando constar tem o significado de “ser composto, constituído ou formado; consistir em algo”, usa-se apenas a preposição de:
 
Os Lusíadas constam de dez cantos.
 
A casa que alugamos consta de peças grandes e arejadas.
 
Seu relatório constava de 50 páginas, mas teve de reduzi-lo a 35.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

GERÚNDIO SEM VÍRGULA (2)

 Vamos encerrar hoje as lições sobre o uso do gerúndio em relação à vírgula. Vimos em duas colunas precedentes que se coloca a vírgula antes do gerúndio quando ele equivale a uma oração coordenativa iniciada pela conjunção “e”; e não se coloca a vírgula para separar as orações reduzidas de gerúndio adverbiais de finalidade ou de modo quando vêm depois da oração principal.

O #BCCCV esclarece:


 

O caso a ser tratado agora se refere ao uso do gerúndio sem a vírgula quando este equivale a uma oração adjetiva restritiva. É bom lembrar que mesmo a oração adjetiva restritiva desenvolvida – introduzida pelo pronome relativo “que” em vez do gerúndio – jamais vem separada por vírgula.

 

Seguem alguns exemplos de construção frasal contendo subordinadas adjetivas restritivas. Em primeiro lugar, a oração reduzida de gerúndio; em segundo, a oração desenvolvida:

 

Foi interessante ver um palhaço engolindo fogo.

Foi interessante ver um palhaço que engolia fogo.
 

Todo lojista, seja proprietário ou locatário, tem o direito de exigir documento comprovando as despesas efetuadas.

Todo lojista, seja proprietário ou locatário, tem o direito de exigir documento que comprove as despesas efetuadas.
 

Foi acusado de prática de nepotismo envolvendo a filha.

Foi acusado de prática de nepotismo que envolve a filha.
 

Disse que devemos redigir um texto alertando sobre a prevenção de doenças.

Disse que devemos redigir um texto que alerte sobre a prevenção de doenças.
 

Há torcedor do Figueirense achando que o Guga tem perdido algumas partidas por causa das cores [branca e azul] do seu uniforme.

Há torcedor do Figueirense que acha que o Guga tem perdido algumas partidas por causa das cores do seu uniforme.
 

Que sirva de exemplo a decisão do juiz gaúcho condicionando a expedição da carta ao pagamento do valor devido.

Que sirva de exemplo a decisão do juiz gaúcho que condiciona a expedição da carta ao pagamento do valor devido.
 

As ações envolvendo a unidade especial de combate ao tráfico não foram divulgadas.

As ações que envolvem a unidade de combate ao tráfico não foram divulgadas.
 

São feitas muitas compras sem que o comprador tenha recibo comprovando o pagamento realizado.

São feitas muitas compras sem que o comprador tenha recibo que comprove o pagamento realizado.
 

Pessoas dirigindo em alta velocidade naquele local terão a carteira apreendida.

Pessoas que dirigem em alta velocidade naquele local terão a carteira apreendida.
 

Levamos à apreciação da Câmara projeto de lei proibindo a importação de alho.

Levamos à apreciação da Câmara projeto de lei que proíbe a importação de alho.

 

A maioria das pessoas que tem a prática da escrita usa corretamente esse tipo de frase sem precisar fazer a análise que proponho. Mas como esse conhecimento é importante para revisores e professores de língua portuguesa e não costuma aparecer nos compêndios e livros de gramática, resolvi abordá-lo integralmente, até como forma de consulta para outras pessoas igualmente interessadas e curiosas.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

GRAFIA: Com hífen ou sem hífen?

 --- Hora extra possui hífen ou não? N. M., Rio de Janeiro/RJ


Não. Hora extra se escreve sem hífen porque a palavra extra nesse caso funciona como adjetivo, com o significado de “suplementar, adicional”. Como adjetivo ou substantivo, extra tem flexão no plural: horas extras, aulas extras, edições extras; ganhou mais um extra, deixando na poupança todos os extras que recebe pelo trabalho aos domingos.


--- Qual é a grafia correta: multi-habilidade ou multihabilidade? C. D., São Paulo/SP


A grafia a ser usada é multi-habilidade. O prefixo multi é escrito sem hífen, dobrando-se o R e o S quando a palavra-base começa com tais letras: multirracial, multissecular; multiexemplar, multiatividade, multimilionário, multilíngue. O uso do hífen é obrigatório quando o segundo elemento inicia por h e diante de palavra iniciada pela vogal imulti-hotelaria, multi-horticultura, multi-hospedeiro; multi-instalação, multi-irrigação.


--- Qual a justificativa para não se colocar hífen na palavra composta supramencionado? Dessa maneira, é correto escrever supracitado, retromencionado? C. K. S., Tubarão/SC



O #BCCCV informa:


Conforme o novo Acordo Ortográfico, os prefixos terminados em vogal, como supra e retro, só levam hífen diante de h ou de vogal idêntica. Portanto: supracitado supramencionado, supra-axilar, supra-hepático; retroescavadeira, retroinjeção, retromencionado, retroprojetor, retro-ocular, retro-operar.


--- Por qual razão moto-próprio leva hífen? M. L. O. C., Rio de Janeiro/RJ


O substantivo composto moto-próprio (que significa “documento papal editado por iniciativa pessoal e espontânea do próprio Papa” e tem o plural motos-próprios), à semelhança das expressões sinônimas moto-perpétuo (pl. motos-perpétuos) e moto-contínuo (pl. motos-contínuos) leva hífen porque aqui “moto” não é prefixo mas substantivo, com o significado de “movimento, giro”. Não confundir o substantivo hifenizado moto-próprio com a expressão latina motu proprio, que se traduz na locução portuguesa de moto próprio, ou seja, “espontaneamente, por seu próprio ‘movimento’, de vontade própria”, como neste exemplo: “Janete deixou o cargo de assistente de moto próprio”.


Já os compostos com o elemento prefixal MOTO, que remete a motor ou à redução da palavra motocicleta, comportam-se como o prefixo retro, visto acima: motoboy/ motobói, motopropulsor, motonáutica, motorreator, motosserra, motossegadora, mototáxi, mototaxista.


--- Gostaria que me confirmassem a forma correta de grafar a seguinte palavra composta: diretora-presidente ou diretora-presidenta? C. R. Q., Santos/SP


As duas estão corretas. Como a palavra presidente admite dois femininos (presidente e presidenta) você pode escolher entre diretora-presidente diretora-presidenta. Ver também Não Tropece na Língua 22.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini