quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

GRAFIA: Com hífen ou sem hífen?

 --- Hora extra possui hífen ou não? N. M., Rio de Janeiro/RJ


Não. Hora extra se escreve sem hífen porque a palavra extra nesse caso funciona como adjetivo, com o significado de “suplementar, adicional”. Como adjetivo ou substantivo, extra tem flexão no plural: horas extras, aulas extras, edições extras; ganhou mais um extra, deixando na poupança todos os extras que recebe pelo trabalho aos domingos.


--- Qual é a grafia correta: multi-habilidade ou multihabilidade? C. D., São Paulo/SP


A grafia a ser usada é multi-habilidade. O prefixo multi é escrito sem hífen, dobrando-se o R e o S quando a palavra-base começa com tais letras: multirracial, multissecular; multiexemplar, multiatividade, multimilionário, multilíngue. O uso do hífen é obrigatório quando o segundo elemento inicia por h e diante de palavra iniciada pela vogal imulti-hotelaria, multi-horticultura, multi-hospedeiro; multi-instalação, multi-irrigação.


--- Qual a justificativa para não se colocar hífen na palavra composta supramencionado? Dessa maneira, é correto escrever supracitado, retromencionado? C. K. S., Tubarão/SC



O #BCCCV informa:


Conforme o novo Acordo Ortográfico, os prefixos terminados em vogal, como supra e retro, só levam hífen diante de h ou de vogal idêntica. Portanto: supracitado supramencionado, supra-axilar, supra-hepático; retroescavadeira, retroinjeção, retromencionado, retroprojetor, retro-ocular, retro-operar.


--- Por qual razão moto-próprio leva hífen? M. L. O. C., Rio de Janeiro/RJ


O substantivo composto moto-próprio (que significa “documento papal editado por iniciativa pessoal e espontânea do próprio Papa” e tem o plural motos-próprios), à semelhança das expressões sinônimas moto-perpétuo (pl. motos-perpétuos) e moto-contínuo (pl. motos-contínuos) leva hífen porque aqui “moto” não é prefixo mas substantivo, com o significado de “movimento, giro”. Não confundir o substantivo hifenizado moto-próprio com a expressão latina motu proprio, que se traduz na locução portuguesa de moto próprio, ou seja, “espontaneamente, por seu próprio ‘movimento’, de vontade própria”, como neste exemplo: “Janete deixou o cargo de assistente de moto próprio”.


Já os compostos com o elemento prefixal MOTO, que remete a motor ou à redução da palavra motocicleta, comportam-se como o prefixo retro, visto acima: motoboy/ motobói, motopropulsor, motonáutica, motorreator, motosserra, motossegadora, mototáxi, mototaxista.


--- Gostaria que me confirmassem a forma correta de grafar a seguinte palavra composta: diretora-presidente ou diretora-presidenta? C. R. Q., Santos/SP


As duas estão corretas. Como a palavra presidente admite dois femininos (presidente e presidenta) você pode escolher entre diretora-presidente diretora-presidenta. Ver também Não Tropece na Língua 22.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

REGÊNCIA:

 TENDÊNCIA  + VERBO VIVER: 

-- Minha dúvida diz respeito ao uso da preposição de em situações como “a tendência é de”. Tenho encontrado frases ora com a preposição, ora sem, como exemplifico a seguir. Maria Laís Pestana, São Paulo/SP

O #BCCCV informa:



- Tendência é de que problemas com chuvas aumentem em São Paulo. Portanto, a tendência é que I.

- Tendência é ampliar política de benefícios.

- Tendência é de aumentar as exportações agropecuárias este ano.

- A tendência é de as provas oficiais se expandirem para além do Estado.

- A tendência é as taxas futuras seguirem o comportamento do mercado de câmbio.

Em outubro, tendência é de melhoraMercado não teme mais Lula e a tendência é a queda do dólar.


O substantivo tendência pode ser regido por mais de uma preposição, quais sejam a, de, em, para:


Tem tendência à embriaguez.

Opõe-se à sua tendência de conferir o ascendente.

Observou a tendência natural das crianças em contrariar tudo.

A senhora respondeu que não tinha tendências para freira.


Contudo, quando se tem a construção tendência + verbo ser + predicativo (ou oração predicativa), a preposição pode ser omitida. Aliás, a frase fica melhor sem ela:


A tendência é melhorar.

Nossa tendência é conquistarmos o hexa.

A tendência é a queda dos preços.


--- No jornal O Estado de S. Paulo de 1º/10/02, na coluna Espaço Aberto, foi publicado o artigo “Para onde vamos”, de Rubem de Freitas Novaes. Dele extraí o excerto: “Descontado o exagero, é muito apropriada ao momento que vivemos.” Pergunto se a regência do verbo viver está correta. A. A. F., São Paulo/SP


Segundo os dicionários, o verbo viver é usado com a preposição em no caso de complemento de lugar:
 

Ele vive em São Paulo há anos.

Vive na casa do sogro.


A mesma regência acontece nas expressões “viver em paz” e “viver em família”. Também se usa a preposição em quanto se tem um adjunto adverbial de tempo posposto ao verbo:


Nossos avós viveram em um século marcado por profundas transformações.

Vivemos/estamos vivendo numa época de muita violência.

Esse autor viveu no século das Luzes.


Por outro lado, o verbo viver dispensa qualquer preposição quando significa “passar a vida; vivenciar, experimentar, passar por; fruir, desfrutar, aproveitar (a vida)”:


Ela disse que nunca viveu certas experiências.

Vive uma vida folgada.

Os melhores momentos da minha infância foram vividos solitariamente.

Vivemos bons momentos juntos.


Assim sendo, o autor da frase poderia defender sua redação dizendo que ali o verbo viver é transitivo direto (sendo o pronome “que” o objeto direto) porque ele quis lhe dar o sentido de “experimentar, gozar, desfrutar”: os momentos que vivemos = os momentos vividos, os momentos presentes.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

GERÚNDIO: (Com vírgula e sem vírgula):

 --- Gostaria de saber em quais casos, efetivamente, deve-se empregar o gerúndio. Rosemary Toffoli, São Paulo/SP


É impossível ver todos os tipos de emprego numa só coluna, Rosemary. Mas há duas semanas tivemos a oportunidade de analisar e estudar um caso, aquele em que o gerúndio precedido de vírgula dá ideia de adição em substituição ao conectivo “e”.  Repito um exemplo: Ligou para o celular de D. Marisa, no sábado, lamentando o sequestro. No domingo voltou a falar com Lula, marcando uma conversa pessoal. Isso equivaleria a dizer: “Ligou para o celular de D. Marisa, no sábado, e lamentou o sequestro. No domingo voltou a falar com Lula e marcou uma conversa pessoal”.


O #BCCCV esclarece:



Vejamos agora o uso do gerúndio sozinho (sem verbo auxiliar) numa situação de oração reduzida adverbial de modo depois da oração principal. Neste caso específico, quando o gerúndio denota MEIO, MODO ou INSTRUMENTO – respondendo, portanto, à pergunta como? –, não se usa a vírgula, pois então se trata de uma oração subordinada na sua ordem normal, que é depois da principal. [É importante observar que no parágrafo anterior se falou de gerúndio que une orações coordenadas.] Eis alguns exemplos de orações reduzidas modais de gerúndio (sem a vírgula, portanto):


O presidente subiu a rampa correndo.

A cigarra passou a vida cantando.

Mandou pintar o edifício empregando mão de obra local.

Dewey já comentava a importância de “aprender fazendo”.

A criança constrói sua cultura brincando.

Finda a sessão, a ré saiu chorando da sala.

Esse fato contribui ainda mais para afastá-lo da sua missão de eliminar conflitos realizando a justiça.

O Direito deve retomar o seu papel de instrumento de ordenação respondendo às convenções morais.

Em 1831 um empresário decidiu minorar a falta de transportes públicos de Nova York encomendando um veículo para 12 pessoas a um fabricante de carruagens.


Em Portugal, é bom que se diga, o gerúndio é desprezado nesse tipo de frase. Lá se costuma empregar a oração reduzida de infinitivo, que nós brasileiros também usamos (mas não tanto): Subiu a rampa a correr / passou a vida a cantar / a criança constrói sua cultura a brincar / saiu da sala a chorar e assim por diante.


Podemos afirmar também que a ausência da vírgula diante do gerúndio (ou oração gerundial) é a regra em qualquer tipo de oração adverbial na sua ordem habitual, isto é, depois da oração principal, não anteposta nem intercalada. Constata-se esse uso mais frequentemente quando o gerúndio equivale a uma oração adverbial final, ou seja, aquela que exprime uma finalidade (poderíamos dizer que responde à pergunta para quê?):


Telefonou para sua mulher dizendo que ia jantar fora.

O BC emitiu nota oficial desmentindo os boatos especulativos a respeito dos juros.

Ele renunciou objetivando facilitar as investigações.

A imobiliária deve enviar e-mail ao locador avisando-o de que fez despesas em seu favor.




Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PROATIVO ou PRO-ATIVO? INSERTO/INCERTO:

 PROATIVO, INSERTO, DILAÇÃO E PATROL

--- Como devemos escrever: proativo ou pró-ativo? Alexandra Pontes, Salvador/BA


Escrevia-se apenas sem hífen: proativo; mas a edição de 2009 do VOLP (Vocabulário Ortográfico, oficial) também registra pró-ativo. O termo vem do inglês “pro-active/proactive” e se refere a algo ou alguém que antecipa futuros problemas, necessidades ou mudanças, que seja capaz de mudar eventos em vez de reagir a eles, fazendo com que as coisas aconteçam; é ser ágil e competente, portanto. Exemplos:


O #BCCCV esclarece:



Estamos sendo desafiados a assumir uma postura proativa frente às novas tecnologias.

A frequente lentidão no processo de implantação dos centros regionais de informática obriga-os a estabelecer uma dinâmica proativa na busca de parceria com empresas que têm recursos para investir em programas sociais.


O adjetivo proativo também pode ser transformado em advérbio:


O diretor da empresa reagiu proativamente em relação às demandas trabalhistas de seus empregados.


--- Gostaria de saber a forma correta de escrever: baixela em aço inox ou baixela de aço inox? Mônica Tagliari, São Paulo/SP


Diz-se “baixela de aço inox”, assim como se diz panela de ferrocolher de madeiraanel de ouro, pois “de” é a preposição que se usa para exprimir a qualidade de um ser.


--- Qual a diferença entre inserto/incerto e dilação/dilatação? E.G.O., Porto Velho/RO


Inserto = inserido. Incerto = duvidoso. Exemplo:


Duas das sugestões insertas nos anais do simpósio foram trazidas pelo nosso grupo.


Dilação = prorrogação, adiamento; o mesmo que dilatação:


Pedimos a dilação do prazo para que pudéssemos reunir o dinheiro necessário.


O termo dilatação também se refere, por outro lado, ao aumento de dimensões ou de volume, ampliação, propagação.


--- A palavra certa é: patrol ou patrola? Itatiana Leite dos Santos, Goiânia/GO


Os dicionários registram patrol patrola como palavras sinônimas e que têm o mesmo significado de niveladora: “máquina de terraplenagem munida de lâmina e utilizada para regularizar o terreno, abrir valetas e executar pequenas escavações, podendo ser rebocada ou de autopropulsão; patrol, patrola, plaina, aplanadora”.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini