sábado, 30 de abril de 2016

RAPIDINHA DE PORTUGUÊS:

O que são sinônimos e antônimos?

O BCCCV informa:

O nosso post essa semana vai ajudar na aula de português. Falaremos sobre sinônimos e antônimos. Você sabe a diferença entre eles? Preste atenção que você verá como é simples distinguir cada um deles.
Sinônimos são palavras que tem o mesmo significado. Exemplo: qual o sinônimo de enxergar? Bem, você pode substituir “enxergar” por “ver”. Vamos a uma frase: “Estou vendo aquele rapaz” é o mesmo que falar: “Estou enxergando aquele rapaz”.
antônimos são palavras de significados contrários. Como “tudo” ou “nada”. Usaremos duas frases para exemplificar: “A menina comeu tudo do prato” e “A menina não comeu nada do prato”.
Viu como é fácil? Abaixo mais exemplos para você fixar melhor o assunto:
Sinônimos
A menina está muito feliz! Ou… A menina está muito contente.
O menino mora bem longe da escola. Ou… O menino mora bem distante da escola.
A prova deixou os alunos nervosos. Ou… A prova deixou os alunos estressados.

Antônimos
Aquele homem é alto. Ou… Aquele homem é baixo.
Hoje pela manhã tomei o leite muito quente. Ou… Hoje pela manhã tomei o leite muito frio.
Este caderno é pequeno. Ou…. Este caderno é grande.

A LÍNGUA:

A língua é para falar ou ter paladar?

O BCCCV informa:

Já pensou que chata seria a nossa vida se  não pudéssemos sentir o sabor de deliciosas guloseimas ou das frutas? Pois é, a nossa língua, que não serve somente para falar, também foi feita para sentirmos o gosto dos alimentos, e ter o prazer do paladar, um dos cinco sentidos que o ser humano é capaz de ter.
Antes de mais nada, vale esclarecer que sabor e gosto são coisas diferentes. Sim, porque o sabor vem da combinação do paladar com o olfato, outro sentido humano. O olfato é responsável por 90% e o gosto por 10%. Seria então gosto cheiroso ou cheiro gostoso? Deixa para lá! Mas a verdade é: como é que sentimos o sabor das coisas na língua? Simples…bom, nem tão simples, mas vamos lá!
Na parte de cima da nossa língua nós temos pequenas elevações, que são chamadas de papilas gustativas ou linguais. Estas são formadas com células sensoriais, ligadas à terminações nervosas, responsáveis por captar o estímulo dos sabores. E assim, somos capazes de identificar quatro sabores primários: doce, salgado, azedo ou ácido e amargo. Mais recentemente, foi descoberto mais um: umami, que é algo perto de “muito saboroso” e que está presente em muitos elementos, sejam naturais ou artificialmente, tal qual os realçadores de sabor encontrados nos pratos da culinária oriental. O primeiro umami que experimentamos, é o sabor do leite materno.
Durante muito tempo fomos ensinados que existiam regiões especificas em nossa língua para sentir cada tipo de sabor. Mas cientistas descobriram que não é bem assim. A capacidade de sentir os sabores não é feito em separado, mas distribuídos por todas as partes da nossa língua. Quer fazer o teste? Coloque vários tipos de alimentos e distribua por partes distintas da língua. 

FORMA USUAIS DE POLIDEZ: Desculpe; desculpa; desculpe-me; desculpa-me



-- Como tenho lido e ouvido versões várias, pergunto: o certo é desculpe o transtorno ou desculpe pelo transtorno? O Houaiss cita como exemplo desculpe a insistência enquanto Sacconni abomina desculpe a nossa falha. O que faço? Marcelo, Recife/PE

Ora, ora, que intransigência. Há várias maneiras corretas de pedir desculpas. O Padre Vieira, nos seus famosos Sermões(1679), já usava o verbo desculpar como transitivo direto (sem preposição): “Por isso já desculpa a ingratidão dos homens com a sua ignorância”. Os exemplos clássicos e atuais são inúmeros nesse sentido. Pode o leitor amigo confiar e continuar a dizer:
 
Desculpe o atraso.
 
Desculpe a insistência.
 
Desculpem o pouco conforto no nosso Flat e fiquem à vontade.
 
Desculpa o mau jeito!
 
Desculpa a minha fraqueza, podes?
 
Desculpem as brincadeiras.
 
Peço que vocês desculpem nossos amigos pelos excessos cometidos.
 
Queira desculpar a falta de urbanidade dos colegas.
 
A boa senhora estava sempre disposta a desculpar os outros.
 
Desculpe, não ouvi bem, pode repetir?
 
É bom notar que a forma verbal desculpe é o imperativo da terceira pessoa (você), e desculpa é da segunda, isto é, refere-se atu. Ao empregar desculpem, estamos falando com mais de uma pessoa: [vocês] desculpem. Essas são formas usuais de polidez, para justificar ou minimizar a falha cometida. 
 
Essas fórmulas ou frases de desculpas também poderiam ser usadas pronominalmente, ou seja, com o pronome átono e uma preposição:
 
Querida, desculpe-me pela demora.
 
Desculpe-me por insistir no assunto.
 
Não vou desculpá-lo por tanto atraso!
 
Desculpa-me por ter te chamado tão cedo.
 
Peço desculpar-me pelos erros que deixei passar no texto. 
 
No entanto, até por comodismo, costuma-se deixar pronome e preposição de lado. Aliás, observe-se que falamos da preposição por na versão acima, atual. Já nos exemplos registrados em dicionários antigos e novos a preposição encontrada é de, e também com quando se trata de “alegar ou pretextar como desculpa”: 
 
O visconde abriu a porta da sala imediata, culpando-se e desculpando-se da demora.
 
Desculparam-se de só chegar àquela hora.
 
Tornou o mineiro a desculpar-se da insuficiência e mau preparo da comida.
 
Teresa, desculpando-se com o cansaço, arrancou-se ao martírio de não poder chorar em silêncio.
 
--- Na frase: Muito caros fulano, beltrano e sicrano. A dúvida é relativa ao emprego das palavras Muito caros. E o porquê dessa utilização. A.R., Paranaíba/MS
 
O emprego da expressão muito caros, embora raro, está correto. O adjetivo plural caros está no lugar de queridos. Seria assim:
 
Fulano, beltrano e sicrano são queridos.
 
Fulano, beltrano e sicrano são muito queridos.
 
Fulano, beltrano e sicrano são muito caros.  
 
Isso corresponde a dizer, no início de um discurso ou de uma correspondência:
 
Caros amigos
 
Meus amigos muito caros
 
Muito caros amigos...
 
Muito caros fulano, beltrano e sicrano.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

CRIMES dos arts. 240 e 241-B do ECA

É possível configuração dos crimes dos arts. 140 e 141-B do ECA mesmo que as vítimas estivessem vestidas? STJ decide.


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O STJ decide a possibilidade de configurao dos crimes dos arts 140 e 141-A do ECA mesmo que as vtimas estivessem vestidas
O STJ entendeu recentemente que fotografar cena e armazenar fotografia de criança ou adolescente em poses nitidamente sensuais, com enfoque em seus órgãos genitais, ainda que cobertos por peças de roupas, e incontroversa finalidade sexual e libidinosa, adequam-se, respectivamente, aos tipos do art. 240 e 241-B do ECA.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Portanto, configuram os crimes dos arts. 240 e 241-B do ECA quando fica clara a finalidade sexual e libidinosa de fotografias produzidas e armazenadas pelo agente, com enfoque nos órgãos genitais de adolescente - ainda que cobertos por peças de roupas -, e de poses nitidamente sensuais, em que explorada sua sexualidade com conotação obscena e pornográfica.
Neste sentido entendeu o STJ - 6ª Turma. REsp 1.543.267-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/12/2015 (Info 577).

quarta-feira, 13 de abril de 2016

LINGUAGEM JURÍDICA: NÃO HÁ COMO NEGAR...


O BCCCV esclarece:

--- Li num Código de Processo Civil comentado as seguintes frases: Não se há cogitar..., se há verificar é que..., não há mais aplicar o artigo. Pergunto: as três formas estão corretas? Obrigada. Maria Cristina, São Paulo/SP
 
Não vejo como abonar tal uso numa linguagem atual e elegante. Nos casos acima ou falta a partícula como, ou falta um de. São sintaticamente boas e corretas estas frases:
 
Não há que se cogitar em mudar a função criadora do juiz.
 
Não há como se cogitar em mudar a função criadora do juiz, que não é um porta-voz da vontade do Legislador.
 
Não se há de cogitar em mudar a função criadora do juiz.
 
Pois há de se verificar que houve imprudência e má-fé.
 
Não há mais como aplicar o artigo, argumentou o advogado.
 
Não sendo a empresa ou o estabelecimento sujeitos de direitos, não há como falar em sucessão de empresas.
 
Não há como se falar em nulidade do julgamento por falta de intimação.
 
Não há que se falaem nulidade do julgamento.
 
Não há como negar à jurisprudência e à doutrina a condição de fontes mediatas do Direito.    
 
Não há que se acolher a proposta.
 
Não há como (se) acolher a proposta.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

LINGUAGEM JURÍDICA: PLÚRIMO ou PLURIMO?

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O BCCCV informa:


- Por questão meramente prática, sempre escrevi a palavra plúrima acentuada. É assim que escrevo para me referir a um ‘tipo’ de ação na esfera trabalhista ou para indicar a pluralidade de devedores, credores ou de obrigações, por exemplo, na esfera cível. Contudo, lendo alguns textos em jornais, internet etc. tenho notado que alguns escrevem plurima, ou seja, sem  acentuação. A forma correta é com ou sem acento? Natanael Vieira dos Santos, São Paulo/SP

Para começar, vejamos o que significa a palavra plúrimo, pois ela é praticamente desconhecida fora do âmbito jurídico e não consta nos dicionários como vocábulo em português. Quando se quer fazer menção a uma pluralidade ou multiplicidade de situações ou coisas, tem-se usado o termo latino plúrimo em vez de múltiplo, ou seja, aquilo que comporta mais de um elemento, como nestes exemplos:
A dissertação trata da cidadania plúrima como reflexo da competição entre sistemas-Estados.
“Da própria natureza do direito de propriedade decorre, antes de mais nada, que um domínio plúrimo não pode existir sobre uma e mesma coisa, plúrimo não no sentido de formas diversas de propriedade (...), mas no sentido de várias propriedades iguais e igualmente plenas sobre a mesma coisa.”
Geralmente a decisão é proferida por uma Junta de Conciliação e Julgamento em dissídio individual ou plúrimo, exercendo o tribunal mera revisão recursal.
Há certas relações jurídicas com diversos titulares ativos ou passivos (daí a legitimidade plúrima) que, pela sua própria natureza, não comportam cisão.
A origem do termo é o latim “plurimus, a, um”, que é o superlativo de “multus” (muitos), trazendo o dicionário latino a significação de “muito numeroso, ou o mais numeroso ou muito abundante, o mais abundante”.
Adaptada ao português, a palavra plúrimo deve ser acentuada para que se informe a leitura correta, pois do contrário um desavisado pode lê-la como paroxítona: /pluríma/. Ocorre a mesma questão de acentuação com as palavras latinas deficit, superavit, alibi, habitat, forum, por exemplo, que não sendo mais escritas com grifo em itálico ou aspas acabaram recebendo um acento gráfico no seu processo de aportuguesamento: déficit, superávit, álibi, hábitat, fórum.



Maria Tereza de Queiroz Piacentini -

terça-feira, 12 de abril de 2016

O HINO NACIONAL e seus significados:

O Hino Nacional do Brasil é realmente um dos mais bonitos do mundo. Já prestou atenção na letra? Mas apesar de ser bem bonito e emocionante, ele tem algumas palavras não muito usuais. Como esta semana celebramos o Dia do Hino Nacional (a primeira vez que ele foi executado foi no dia 13 de abril de 1831), resolvemos fazer a “tradução” destas palavras para você. O hino pode ser conferido aqui.
Plácidas: calmas, tranquilas
Ipiranga: Rio onde às margens D.Pedro I proclamou a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822
Brado: Grito
Retumbante: som que se espalha com barulho
Fúlgido: que brilha, cintilante
Penhor: garantia
Idolatrada: Cultuada, amada
Vívido: intenso
Formoso: lindo, belo
Límpido: puro, que não está poluído
Cruzeiro: Constelação (estrelas) do Cruzeiro do Sul
Resplandece: que brilha, iluminidada
Impávido: corajoso
Colosso: grande
Espelha: reflete
Gentil: Generoso, acolhedor
Fulguras: Brilhas, desponta com importância
Florão: flor de ouro
Garrida: Florida, enfeitada com flores
Idolatrada: Cultivada, amada acima de tudo
Lábaro: bandeira
Ostentas: Mostras com orgulho
Flâmula: Bandeira
Clava: arma primitiva de guerra, tacape

domingo, 10 de abril de 2016

CONCORDÂNCIA NOMINAL: QUANDO NECESSÁRIO ou QUANDO NECESSÁRIAS?

- Solicito-lhe a gentileza de elucidar algumas dúvidas, que seguem abaixo em forma de frases:



1ª Portanto, é importante visitar periodicamente a lavoura para identificar as espécies que são nocivas e adotar medidas somente quando necessário (ou necessárias?).

2ª Neste caso, é necessário o tratamento do solo com inseticidas... ou Neste caso, o tratamento do solo com inseticidas é necessário. S. A., Piracicaba/SP
 
Com respeito à segunda parte da consulta, e em complemento às duas lições anteriores sobre concordância nominal, podemos registrar que a ordem não altera os fatores quando temos a situação de concordância com um substantivo determinado:
 
1) É necessário o tratamento do solo com inseticida.
 
2) O tratamento do solo com inseticidas é necessário.
 
Vejamos um exemplo com substantivo feminino – também não se altera a concordância:
 
1) É necessária a adubação do terreno.
 
2) A adubação do terreno é necessária.
 
Vale relembrar que sempre que começamos uma frase desse tipo na ordem direta, isto é, com o sujeito precedendo o verbo, a concordância é obrigatória. Você pode dizer É necessário areia, mas não *Areia fina é necessário. Ou: É proibido minissaias no recinto, mas jamais *Minissaias é proibido neste recinto. O correto gramaticalmente é Minissaias são proibidas / As minissaias estão proibidas / As intervenções do público ficam proibidas.
 
No tocante à primeira parte da consulta, as duas opções são igualmente válidas:
 
(a) Vamos adotar medidas de controle quando necessário. (ou: se necessário)
 
(b) Vamos adotar essas medidas quando necessárias. (ou: se necessárias)
 
Em (a) temos a fórmula neutra – o adjetivo necessário está se referindo a um sujeito implícito, que é o pronome isso:
 
(a) Vamos adotar medidas de controle quando [isso for] necessário.
 
Outros exemplos com o neutro:
 
Só faremos consulta ao STJ quando necessário.
 
Se necessário, fixaremos os padrões de uso.
 
Vamos estabelecer normas de conduta se necessário.
 
Já no caso de (b), o adjetivo necessárias concorda com medidas, sujeito não repetido mas subentendido pelo leitor:
 
(b) Vamos adotar medidas de controle quando [essas medidas forem] necessárias.
 
Outros exemplos:
 
Só faremos consulta ao STJ quando necessária.
 
Se necessários, fixaremos os padrões de uso.
 
Vamos estabelecer normas de conduta se necessárias.
 
É evidente que as frases do segundo bloco de exemplos – com a flexão do adjetivo no feminino e no plural – não soam tão bem quanto as do primeiro. Também a concordância deve atender à eufonia. Isso implica dizer que usar “quando necessário/se necessário” é sempre melhor. E mais garantido em termos de acerto.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

terça-feira, 5 de abril de 2016

GERUNDISMO e ENDORREIA:


- O gerundismo está absolutamente difundido. Às vezes assisto à palestras e acabo 
prestando atenção à forma que ao conteúdo tamanho é o uso do gerundismo.
Doem meus ouvidos. 
[Graça, São Paulo/SP].


O BCCCV informa:



Também o leitor Joilson Leal, de Belo Horizonte/MG, se interessa pelo tema 
e pergunta: 
- "Qual o macete para descobrir o gerundismo e não entrar nesse horror?"


Se o gerundismo é fenômeno linguístico relativamente recente no Brasil, 
não o é a endorreia — "é assim que os puristas chamam ao abuso do gerúndio 
e ao seu uso pouco vernáculo", 
informa Rodrigues Lapa, em Estilística da Língua Portuguesa (1959:177). 


Esse nome um tanto esdrúxulo provém da formação do gerúndio nos verbos da
segunda conjugação [vendo, tendo, vendendo etc.] e chama a atenção para um 
excesso de gerúndio no português brasileiro que chega a soar mal aos falantes
do português europeu. Lá se diz, por exemplo, "estão a fazer renda" em vez de
"estão fazendo".


Dizem que a endorreia é francesismo. Já o gerundismo é atribuído à influência 
do idioma inglês no Brasil. Seria uma tradução malfeita de "I am going to do 
something" [literalmente: Estou indo fazer algo], ou então a tradução ao pé da 
letra de um futuro muito usado pelos americanos: "We will be sending you the 
catalog soon, que se poderia traduzir por: -  "Nós estaremos lhe enviando o 
catálogo em breve". Em português temos a opção de dizer:
" Nós lhe enviaremos..." ou "nós vamos lhe enviar o catálogo", sem necessidade
da fórmula  - *Nós vamos estar lhe enviando.


Esta construção abusiva do gerúndio é muito utilizada nos serviços de atendimento
ao cliente por telefone e telemarketing, e nesse caso pode se explicar por uma 
tradução apressada dos manuais que vêm do exterior. Mas ela se repete em 
inúmeras outras circunstâncias porque de fato entrou no gosto do brasileiro
— veja-se a endorreia tão nossa!


De qualquer modo, há que se distinguir o bom do mau emprego gerundial. 
"O problema consiste em saber se de fato o uso do gerúndio traz vantagem 
estilística sobre os outros processos" (ibidem, p. 178). Vale dizer que ele é 
muito apropriado nos casos em que se necessita transmitir a ideia de:
movimento, de progressãoduraçãocontinuidade.


É correto, então, nestes exemplos (reais):

                   1)     Em virtude do atraso, estaremos recebendo o pagamento em 
conta corrente nos dias 27 e 28.

                   2)     — Podemos nos encontrar no fim-de-semana?

                           — Infelizmente não, pois vou estar viajando.


                   3) Em outros artigos ela estará dando maior atenção a cada um 
desses temas.

                   4) Ela deve estar fazendo as tarefas de casa agora.

É abusivo — gerundismo — nos seguintes casos:

                   5) Vou aproveitar o 13º para estar pagando tudo. [devemos trocar 
por: para pagar].

                   6) Concomitantemente, temos que estar discutindo
e reconstruindo um currículo escolar que venha a ser um
instrumento de formação integral. [temos que discutir e reconstruir].

                   7) Estes temas devem servir para estarmos aprofundando as 
discussões. [para aprofundarmos].

                   8)     Nossos atendentes vão estar efetuando a cobrança
 somente em maio. [vão efetuar = efetuarão].


Repetindo o que vimos na coluna NTL 120 e considerando as frases acima: 
evita-se  o gerundismo ao fazer a troca da locução verbal ESTAR mais 
GERÚNDIO por um simples INFINITIVO (flexionado ou não), desde que 
não se trate efetivamente de uma ação durativa, como nos exemplos 1 a 4.



Maria Tereza de Queiroz Piacentini

CONCORDÂNCIA: SUBSTANTIVO e NUMERAIS

Como é certo falar?
Fica Vossa Senhoria convocado para a 1ª e 2ª Sessão Extraordinária ou: 
para a 1º e 2º Sessões Extraordinárias...? 
(Adriana Maria Fermino da Costa, Brotas/SP)

Quando se trata da concordância de um substantivo com dois numerais - 
cardinais ou ordinais - há três opções corretas:
                    1) a 1ª e 2ª Sessão Extraordinária [subst. no sing. e só o primeiro artigo]
                    2) a 1ª e 2ª Sessões Extraordinárias [subst. no plural, um só artigo]
                    3) a 1ª e a 2ª Sessão Extraordinária [subst. no sing. com repetição do artigo]

Não se costuma colocar o substantivo no plural quando se repete o artigo definido 
(mais a preposição, quando for o caso) no segundo elemento, como no exemplo
3. Dito de outro modo: normalmente só se repete o artigo quando o substantivo 
determinado está no singular; portanto, repetindo-se o artigo não há necessidade 
do plural. De qualquer maneira, deve sempre prevalecer a eufonia, aquilo que soa bem.

Outro ponto: ainda que se opte pelo substantivo no plural, o artigo permanece no 
singular, a concordar com o numeral singular. Vejamos uma frase para exemplificar:
em vez de "as 5ª e 6ª Câmaras são competentes" diga-se "a 5ª e 6ª Câmaras são 
competentes". Então: o artigo fica sempre no singular.
Mais exemplos com as variáveis de uso:
                Peço parar no 1º e 2º andar. 
                Peço parar no 1º e 2º andares.


                Peço parar no 1º e no 2º andar.
                Dirigiu-se à quarta e quinta série.
                Dirigiu-se à quarta e a quinta séries.
                 Dirigiu-se à quarta e à quinta série.


Observamos que uma frase como "dirigiu-se às quartas e (às) quintas séries" 
tem outro significado: quer dizer que existem várias séries de quarta e várias 
de quinta. Também é interessante notar que quando não há determinação dos 
substantivos (com a/o, da/do, à, temos duas e não três opções, sendo melhor 
e mais recomendável a alternativa com o singular:


                Foram publicadas decisões de juízes de 1º e 2º grau.


                Foram publicadas decisões de juízes de 1º e 2º graus.
                 Sua tese analisa o ensino de 1ª a 4ª série no planalto catarinense.
                Sua tese analisa o ensino de 1ª a 4ª séries no planalto 
catarinense.


Quando o substantivo precede os numerais é de praxe colocá-lo no plural:
                Leia pelo menos os capítulos 1 e 2.
                Reformulamos os artigos 9º e 10º do projeto lei.
                O elevador parou nos an dares 3º e 4º.


--- Sempre fico em dúvida quanto ao caso de citações como: 
Estou enviando os ofícios números (nºs) 21 e 23 ou os ofícios nº 21 e 23. 
(Nair Hygina F. R. Pinto, São Paulo/SP)


Trata-se da mesma questão de concordância nominal, só que agora antes 
dos dois numerais você tem também o substantivo número/nº
o qual pode ir ou não para o plural:



                Estou enviando os ofícios nºs 21 e 23.
                Estou enviando os ofícios nº 21 e 23.


Nessa segunda forma - melhor - fica subentendida a repetição do substantivo:
 os ofícios nº 21 e [nº] 23.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sábado, 2 de abril de 2016

CONCORDÂNCIA NOMINAL:


O BCCCV informa:


Os adjetivos bom, necessário, preciso e proibido, entre outros, em função predicativa e antepostos ao sujeito, ficam invariáveis (ou seja, no masculino singular) quando o sujeito da oração constitui-se de substantivo usado de forma indeterminada, de modo vago ou geral, portanto sem artigo definido. Temos abaixo alguns exemplos:

1) Água pura é bom para tudo.
2) Cerveja é gostoso no verão.
3) É necessário muita fé, antes de mais nada.
4) É necessário boa vontade para fazer tal serviço.
5) É proibido entrada de pessoas estranhas.
6) Proibido saída.
7) Proibido carroças na ponte das 7 às 19 h.
8) É proibido animais na enfermaria e no pátio.
9) É preciso qualidades de modelo para ser elegante?
10) É preciso consciência.
 
Desde que haja a determinação (com o artigo definido ou pronome), a concordância é exigida, dizem os manuais de gramática. Eu diria que essa concordância é comum, mas não chega a ser absoluta. Vejamos o mesmo tipo de frase com o substantivo-sujeito determinado: 
 
1) A água que bebemos é boa.
2) É gostosa essa cerveja.
3) É necessária toda a fé possível para se chegar ao céu.
4) É necessária a boa vontade de uma santa para fazer tal serviço.
5) É proibida a entrada de pessoas estranhas.
6) É proibida a saída antes do término da sessão.
7) São proibidas as carroças na ponte das 7 às 19 h.
8) São proibidos os animais sem dono na enfermaria e no pátio.
9) São precisas as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.
10) É precisa a consciência de uma criança para ser feliz.
 
Até o número 8 temos frases usuais, de uso corrente. Mas as construções 9 e 10 soam completamente artificiais. O que se pode concluir, então, é que no português brasileiro não se costuma flexionar o adjetivo “preciso” quando anteposto ao sujeito. Nós até flexionamos seu similar “necessário”, mas não o adjetivo “preciso”, que sempre tem uma implicação de neutralidade, como vimos na coluna Não Tropece na Língua 226. Comprove-se o fato: 
 
É preciso as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.
 
É preciso a consciência de uma criança para ser feliz.
 
Ou se usa o adjetivo assim no neutro, ou se faz a substituição:
 
São necessárias as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais.
 
É necessária a consciência de uma criança para ser feliz.
 
Nessa esteira, perguntou uma leitora se está correta a concordância nominal na seguinte frase: Para a implementação da lei seránecessária modificação na estrutura administrativa do Estado. Sua dúvida é se ela deveria usar necessário, já que o substantivo modificação não está antecedido de nenhum artigo (e não está – explico – porque aí se subentende uma modificação ou alguma/ qualquer modificação).
 
A frase está correta, sim, pois é possível usar o neutro/masculino singular nesse caso, mas não obrigatório. Portanto as duas formas são válidas. Enfim, o que rege esse tipo de concordância é a eufonia.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini