segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MIM: Rapidinha de Português

O BCCCV esclarece:

(Para mim estudar é uma alegria.)
Nada de errado nessa construção. 
Porém, nesse caso, o pronome oblíquo mim não é sujeito de estudar.
Observe que houve apenas uma inversão da ordem natural da frase. 
Em ordem direta teríamos: Estudar é uma alegria para mim.
Onde “para mim” funciona como complemento de estudar.
Para deixar clara a função de complemento de “para mim, recomenda-se separá-lo do verbo por uma vírgula.
Exemplo: Para mim, estudar é uma alegria.
Outros exemplos: Para mim, subir a escada é difícil.
Invertendo: Subir a escada é difícil para mim.

Fonte: 1001 dúvidas de português, de José de Nicola e Ernani Terra. Editora Saraiva.

domingo, 29 de outubro de 2017

REGÊNCIA: Verbo responder

RAPIDINHA DE PORTUGUÊS:

Quando se comunica alguma coisa (falando ou escrevendo) em resposta, o verbo responder pode ser transitivo direto ou indireto; no último caso significa que se usa a preposição “a”. A regência tradicional é, por exemplo, “responder a uma carta”, e não “responder uma carta”, considerando-se que alguém responde algo [diz alguma coisa] de uma pergunta, em uma carta etc. No português brasileiro, todavia, essa preposição é muitas vezes omitida, motivo pelo qual no dicionário Houaiss se vê: “1 dizer ou escrever em resposta  Exs.: respondemos que todos somos iguais / responder (a) uma carta / r. às perguntas”.
 

O BCCCV esclarece:

De qualquer forma, gostaria de recomendar o emprego da preposição, que é clássico e mais elegante: 
 
Favor responder às questões.
 
O rapaz está respondendo a [um] processo.
 
Já respondi ao questionário enviado pela internet.
 
Ela não soube responder à pergunta formulada pelo juiz.
 
A essa pergunta ninguém respondeu.
 
Deus respondeu às nossas súplicas.
 
Cabe observar, também, que o verbo responder pode ser usado como transitivo direto e indireto ao mesmo tempo; a pessoa é sempre objeto indireto: 
 
O candidato respondeu “sim” à maioria das questões.
 
Respondeu ao auxiliar de escritório que o receberia.
 
Não sei o que ele respondeu aos colegas.
 
Eles devem ter respondido que aceitariam o desafio.
 
Vamos responder-lhe imediatamente.




Maria Tereza de Queiroz Piacentini 
 

PAIZINHO ou PAISINHO?

 As duas palavras existem na língua portuguesa e estão corretas
Têm, contudo, significados diferentes.

O BCCCV esclarece:



Paizinho é o diminutivo da palavra pai.
Paisinho é o diminutivo da palavra país. 
A pronúncia dessas duas palavras é também diferente. 
Em paizinho há um ditongo: pai-zi-nho.
Em paisinho há um hiato: pa-i-si-nho.

Exemplos com paizinho (pai)

  • Amo muito meu paizinho e minha mãezinha.
  • Paizinho, você está se sentindo cansado?

Exemplos paisinho (país)

  • Cansei de viver neste paisinho.
  • Em minhas últimas viagens conheci um lindo paisinho na Europa.

Formação do diminutivo

As palavras paizinho e paisinho são formadas a partir de derivação sufixal. No português, existem vários sufixos que formam o grau diminutivo das palavras, como -inho, -zinho, -ito, -zito, -ino, -ela,…, sendo os sufixos -inho e -zinho os mais utilizados, uma vez que se juntam a substantivos, adjetivos, advérbios e até pronomes.
Em paizinho, é acrescentado o sufixo nominal diminutivo -zinho à palavra pai: pai + -zinho. Em paisinho, é acrescentado o sufixo nominal diminutivo -inho à palavra país: país + -inho. 
Estes dois sufixos se comportam de modo diferente aquando da formação do grau diminutivo das palavras. O sufixo -inho se liga ao radical das palavras e o sufixo -zinho se liga às próprias palavras. 
O grau diminutivo dos substantivos indica diminuição e pequenez, mas pode transmitir também uma ideia de carinho, com grande valor afetivo, ou uma ideia de menosprezo, de troça.

Quando usar o sufixo -inho?

Havendo a consoante s no radical das palavras, usamos o sufixo -inho:
  • país: paisinho (país + -inho);
  • casa: casinha (casa + -inha);
  • liso: lisinho (liso + -inho);
  • português: portuguesinho (português + -inho);
  • lápis: lapisinho (lápis + -inho).

Quando usar o sufixo -zinho?

Não havendo a consoante s no radical das palavras, usamos o sufixo -zinho:
  • pai: paizinho (pai + -zinho);
  • pé: pezinho (pé + -zinho);
  • café: cafezinho (café + -zinho);
  • xícara: xicarazinha (xícara + -zinho);
  • homem: homenzinho (homem + -zinho).
Alguns autores defendem que o z do sufixo -zinho apenas funciona como um elemento de ligação entre a palavra e o sufixo diminutivo -inho, não reconhecendo -zinho como um sufixo independente, mas sim uma variação do sufixo -inho.
Nota: Quando há a consoante z no radical das palavras, usamos apenas o sufixo -inho:
  • rapaz: rapazinho (rapaz + -inho);
  • beleza: belezinha (beleza + -inho).









VERBOS PRONOMINAIS:

Recebemos algumas consultas sobre o uso dos pronomes reflexivos me, te, se, nos junto com verbos tradicionalmente pronominais como os do título. Há mesmo necessidade de usá-los? Ou seja, o correto é ela casou ou ela se casouSentou-se ou sentou um minutinho? 
O BCCCV esclarece:


Ao pesquisar em dicionários (comuns e de regência), descobre-se que há possibilidades diversas; já existe um aval para a eliminação, mesmo no nível culto, do pronome reflexivo junto com os verbos citados (salvo divorciar, que sempre é apresentado como pronominal: divorciar-se). Isso quer dizer que é facultativo o uso do pronome nestes casos:
 
Casar
Jucira anunciou que vai (se) casar. Casei(-me) cedo. Li que Mara vai (se) casar com Mauro.  Pedro e eu vamos (nos) casar brevemente.
 
Sentar
Jucira preferiu sentar(-se) no sofá. Sentei(-me) e descansei um minuto. Chegamos cedo e (nos) sentamos à mesa principal.
 
Mudar
Jucira vai mudar(-se) para outra casa. Resolvi (me) mudar para Timbó. Decidimos que (nos) mudaríamos daqui tão logo saísse a aposentadoria.
 
Mesmo no caso do verbo divorciar-se há uma tendência – por contaminação sintática, pois as construções linguísticas se cruzam, se mesclam, se interinfluenciam – a suprimir o pronome, de que é prova a declaração à revista Istoé, em maio de 2005, da nossa grande escritora Lygia Fagundes Telles: “Divorciei, casei outra vez, com o Paulo Emílio Salles Gomes”.
 
O cuidado que se deve ter, para que o texto seja considerado bom e agradável de ler, é com a clareza em primeiro lugar. Por exemplo, se você escreve “finalmente resolvi mudar”, não se sabe qual o sentido: mudar o quê? Portanto, se for deslocamento de um lugar para outro, escreva “finalmente resolvi me mudar”.  Depois vem a sonoridade da frase – muitas vezes “nos mudamos” soa melhor do que “mudamos”. Isso significa que não é preciso haver uniformidade, isto é, empregar o pronome todas as vezes ou suprimi-lo sempre. Pode-se variar no caso dos verbos casar, sentar e mudar, conforme a clareza ou sonoridade que se deseja.
 
No mais, é recomendável usar os pronomes reflexivos sempre que a situação o exija. É melhor e mais culto falar “ele se formou na USP” do que “ele formou na USP”, só para dar outro exemplo.  
 
Ainda sobre o uso dos pronomes oblíquos (reflexivos e não reflexivos), temos duas consultas:
 
--- Aqueles dois se batem e se opõem está certo? Ou o correto seria Aqueles dois se batem e opõem? Márcio S. Fontes, Florianópolis/SC
 
--- Se puderes me ajudar eu ficarei muito grato. Há algum erro gramatical na seguinte frase: Há de se saber comunicar-se?Ivson Tiago Müller de Souza
 
Quando se empregam em sequência dois verbos usados com pronome proclítico, as duas formas ou modelos são corretos: se batem e se opõem ou se batem e opõem. O mais estilístico, porém, é não repetir o pronome oblíquo quando este vem anteposto ao primeiro verbo:
 
Aqueles dois se batem e opõem.
 
Ele se rasgava e desfazia em elogios.
 
As células se expandiram e modificaram.
 
Nós o vimos e saudamos com efusão.
 
Não o quero nem desejo mais.
 
Há de se saber comunicar!  
 
No caso da última frase, pode ser-lhe dada outra redação: Há de saber comunicar-se, em que o sujeito não é indeterminado, mas sim implícito (oculto): [Ele] há de saber comunicar-se.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini