sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

CRASE: Casos diversos

--- É correto escrever: A contratada deve refazer os serviços as expensas da empresa? Qual é o certo: A contratada deve refazer os serviços às expensas suas ou às expensas próprias? Maria Luiza, Rio de Janeiro/RJ



No primeiro caso é incorreto escrever “as expensas” (sem acento de crase), pois a expressão comporta ou apenas a (simples preposição) ou às, à semelhança da locução “às custas de”:
 
A contratada deve refazer os serviços às expensas da empresa.
 
Ele vive a expensas da mulher.
 
Ao sair de casa, quando completou a maioridade, João começou a viver a suas expensas.

Oferecemos a hospedagem, mas as refeições correm às suas expensas
 
Também é possível falar às próprias expensas. E ainda se pode inverter a ordem das palavras nesta locução: “vive a expensas suas” ou “vive às expensas suas, às expensas próprias”.
 
 
--- Por que na frase: o prêmio foi entregue à quem menos merecia, usa-se crase e na frase: o prêmio foi dado a quem não merecia, não se usa? Jaciene Nascimento, Nilópolis/RJ
 
Em nenhuma das frases apresentadas é correto o uso da crase. A grafia certa é: 1. O prêmio foi entregue a quem menos merecia e 2. O prêmio foi dado a quem não merecia.  Diferente seria: O prêmio foi entregue àquele que menos merecia, em que a palavra sublinhada está por “a aquele = para aquele”.
 
 
--- Consulta sobre o emprego da crase. Estaria correta a frase “Boa noite à todos”? Por quê?  Gildete da Silva Cordovil, Rio de Janeiro/RJ
 
O correto é sem o acento – mesmo quando o pronome estiver no feminino:
 
BOA NOITE A TODOS
BOA NOITE A TODAS
 
Isso porque todo e toda, pronomes indefinidos, não são determinados pelo artigo. E como se sabe, a crase é o processo de junção da preposição A como o artigo definido A.
 
 
--- Por que dizemos "ir ali" ao invés de "ir àli" (a ali)? Gustavo Lacerda, Curitiba/PA
 
Escreve-se  “vou ali", sem acento, porque não existe a ocorrência de "a + ali". O verbo ir pode ser usado de várias maneiras (só no Dicionário de Regência, de Celso Luft, ele ocupa mais de uma página) e uma delas é como intransitivo: verbo ir + advérbio (locativo). Neste caso, não há a incidência da preposição A. Seguem alguns exemplos: "Queremos ir ali agora. Vou lá, sim. Vamos para lá. A listagem do material necessário vai em anexo, conforme solicitado. Vai abaixo a nominata. Ele sempre ia na frente”.
 
 
--- Relatório referente à compra solicitada... favor informar se existe crase após referente. E o porquê. Cida Parra, São Paulo/SP
 
Sim, o correto é escrever referente à compra solicitada.  A razão é que referente a  forma uma locução na qual o A é uma preposição (veja o masculino: referente ao prazo solicitado) e o substantivo compra está determinado pelo artigo definido A.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

CONCORDÂNCIA NOMINAL:

DE FESTAS E CERIMÔNIAS

--- Gostaria de saber se na frase "Cidade de Deus é indicado para 4 oscar", como saiu em alguns jornais da internet, está correto o emprego no singular da palavra oscar. Não seria Oscares (no plural), concordando com o numeral? Reginaldo da Silva França, Brasília/DF


A palavra Oscar tem sido usada no singular por se tratar de nome próprio – e em inglês – que adjetiva um nome comum, no caso o prêmio (“Oscar prize” no original). Ou seja, no plural falamos dos prêmios Oscar. Contudo, está ocorrendo com esse termo o mesmo que aconteceu com Havana, por exemplo, que ao designar os charutos [de Havana] se tornou substantivo comum: “Fumas um havana?” Então, é possível que em português se diga dois oscars (com a mesma pronúncia do inglês) ou dois óscares (forma usada em Portugal). 
 
Até mesmo na língua inglesa se usa o plural quando a palavra Oscar se refere a um dos prêmios individualmente, configurado em uma das estatuetas, situação em que não se faz acompanhar de um substantivo. Sempre será “the Oscar presentation, an Oscar statuette”, mas pode ser: “The annual presentation of the Oscars has become the Academy of Motion Picture Arts and Sciences’ most famous activity”, conforme site oficial da Academia. 
 
 
--- Qual o significado de patrono e paraninfo em uma cerimônia de colação de grau? G.R.O., Aracruz/ES 
 
--- É correto utilizar o tratamento patrona e paraninfa no feminino? K.V., Rio de Janeiro/RJ
 
Paraninfo é o padrinho de honra, é o homenageado maior da cerimônia de colação de grau. Se mulher, haverá uma PARANINFA. Patrono é o segundo homenageado, uma personalidade marcante para os formandos. O feminino de patrono, neste caso, é PATRONESSE. A mulher será então a patronesse da turma. Patrona existe, mas é o feminino de patrono nas suas demais acepções, quais sejam: advogado de defesa, protetor, fundador, padroeiro, figura tutelar de uma academia, arma ou força armada, enfim pessoa a quem se homenageia por serviços prestados.
 

--- Gostaria de saber se é verdade que a expressão de tratamento "senhorita" não está mais sendo usada, pois casarei em dezembro e começarei a entregar os convites de casamento em outubro, e preciso saber se a calígrafa deverá usar senhora ou senhorita para as moças solteiras. Aliás, gostaria de saber quando se deve usar senhora ou senhorita. Há limite de idade para a "senhorita"? Divorciadas são "senhoras"? Tem a ver com o fato da mulher ser casada ou não? Daniela Rosa
 
O vocativo senhorita é correto, sem dúvida, mas hoje em dia é realmente pouco usado em nosso país quando se trata de mulher solteira. É uma questão cultural. Lembro-me que quando estive no México toda mulher era chamada de “senhorita”, mesmo as casadas. Aqui no Brasil é mais uma questão de idade [senhorita é solteira jovem] e familiaridade [srta. é tratamento formal]. Sugiro-lhe dar uma olhada na coluna Não Tropece na Língua 118.
 
Mas creio que sua dúvida e necessidade se referem ao encaminhamento do convite (escrito à mão no envelope, numa letra cursiva bonita). Eis vários exemplos de como fazer isso:
 
-- a um casal, é praxe:
 
                                Sr. e Sra. Antônio Silva  
ou até mesmo:     Antônio Silva e Sra.     
 
-- para os solteiros e divorciados, basta escrever o nome: 

                                Melissa Silva
                                Guilherme Silva
 
-- para o casal e filhos:
 
                                Antônio Silva e família
 
-- para um casal bem amigo, dispensando-se a formalidade, pode ser apenas:
 
                                Antônio e Maria Cecília
 
A preposição “Para” antes ou acima do nome não é obrigatória em nenhum caso.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

ESTRANGEIRISMOS, PURISMO E NORMA CULTA:

Como vimos e tem se propalado, o mau uso da língua afeta as inúmeras situações sociais, mas deve-se considerar que na verdade as situações sociais é que determinam os usos linguísticos. Os falantes se constituem como tal, usuários de uma determinada variedade linguística, nas interações verbais de que participam – já mostrava Bakhtin.  Se uma criança nasce num meio letrado, a gramática da língua que ela irá internalizar certamente será aquela que mais se aproxima dos padrões de prestígio social. 


Em nossa sociedade temos, de um lado, acumulação de poder material e simbólico; de outro, uma classe desmobilizada e sujeita aos instrumentos de imposição e dominação cultural, portanto linguística. Assim, “por maior que seja a parcela de funcionamento da língua infensa à variação, existe, tanto no plano da pronúncia como no do léxico e mesmo da gramática, todo um conjunto de diferenças significativamente associado a diferenças sociais”, observou Bourdieu (1996).
 
 
***
 
Como a língua não é um sistema pronto, acabado, mas está sempre sendo recriada, há forças permanentemente em movimento: forças internas agindo sobre ela (fatores gramaticais) e externas que nela atuam (os fatores sociais, como o contato com outras línguas, por exemplo), abrigando o surgimento de inovações a todo o momento. Essas inovações convivem por um tempo com as formas vigentes, enraizando-se depois e podendo elas próprias ser ultrapassadas com o correr dos anos. 
 
Purismo significa desconhecer tais mudanças e aceitar apenas uma língua pura, ornamental e escoimada de “erros”. Purista, portanto, é aquele que não se deixa impressionar “pelo caráter social de um discurso, não aceita as variantes combinatórias da norma objetiva, recusa dobrar-se à pressão estatística do uso”, diz Alain Rey (in Bagno. Norma lingüística, 2001). Parece, assim, que o purista ignora ou faz questão de ignorar todo o conhecimento científico da língua, recusando a realidade do uso. Um exemplo disso seria a insistência no ensino de certas formas anacrônicas, algumas jamais utilizadas no Brasil, como “anos oitentas, noventas” etc.
 
***
 
Uma das consequências de uma visão purista da língua são os ataques aos estrangeirismos que aterrizaram no Brasil, especialmente depois que a informática aqui se instalou com força, trazendo consigo não só a tecnologia americana mas a língua inglesa, intocada em termos como hardware, software, backup, zip, hacker, e-mail, link, e adaptada em outros como deletar, printar e atachar.
 
A crítica ecoa alarmista só porque as pessoas não se dão conta do fenômeno da variabilidade linguística. O uso de palavras provenientes de outras línguas é – repetindo – uma questão de aceitabilidade, de disposição às mudanças, na compreensão de que a variação está inscrita na língua, é inerente a ela. A mudança pode ser lenta, mas é inexorável.
 
E não podemos deixar de lembrar que a importação estrangeira é uma das fontes de formação lexical. A língua de aquisição é que varia, dependendo da época. Nos séculos 18 e 19, por exemplo, o francês era predominante. Agora é o inglês.  Quem é preconceituoso contra os empréstimos linguísticos imagina que atualmente eles são mais abundantes ou poderosos do que no passado, a sugerir a decadência da língua, o que não é verdade, conforme a ciência linguística constata.  
 
Essa noção de declínio, aliás, não é peculiar à língua portuguesa. Também em outros países a questão de uma norma aparentemente imutável e isenta de estrangeirismos está muito ligada à ideia de corrupção e empobrecimento linguístico. As pessoas veem a quebra das normas, ou o relaxamento de certos cânones linguísticos, como uma ameaça à integridade ou sobrevivência da língua. Não só os estrangeirismos mas toda contravenção linguística parece atentar, no imaginário dos brasileiros, contra a unidade e a força do nosso português. 
 
Por tudo isso vale ressaltar a importância da tolerância e da aceitação da pluralidade, sem preconceitos. Devemos nos abrir a novos horizontes, voltados, como bem sublinha a educadora Magda Soares, a “uma nova concepção de língua: uma concepção que vê a língua como enunciação, não apenas como comunicação, e que, portanto, inclui as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais e históricas de sua utilização” (in Bagno. Lingüística da norma, 2002).

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

NORMA CULTA e PRECONCEITO LINGUÍSTICO - V



A curiosidade de muitos brasileiros e dos nossos consulentes sobre questões de língua portuguesa é originada e fortalecida pela consciência ou mesmo pela intuição de que a falta de um cabedal linguístico pronto para uso nas diversas situações de interação social pode ser motivo de julgamentos desfavoráveis e depreciativos. 

Em sociedade estamos sendo avaliados e avaliando o outro o tempo todo. É para fugir do estigma que paira sobre quem não sabe “falar direito” ou “escreve errado” que vamos em busca de mais conhecimentos sobre a língua, ampliando nosso capital linguístico de modo a ficar a salvo do preconceito. O que é o preconceito linguístico, afinal? 

Do ponto de vista do discurso, o preconceito é uma discursividade que circula sem sustentação em condições reais. [...] O preconceito é de natureza histórico-social, e se rege por relações de poder, simbolizadas. Ele se realiza individualmente, mas não se constitui no indivíduo em si e sim nas relações sociais, pela maneira como se significam e são significadas. Não é um processo consciente, e o sujeito não tem acesso ao modo como os preconceitos se constituem nele (Eni Orlandi. Língua e conhecimento linguístico. SP: Cortez, 2002).

“O preconceito é, portanto, o resultado do modo como se exerce o poder e não uma casualidade ou uma característica intrínseca da pessoa”, complementa Luiz P. Britto (Contra o consenso, 2003). 

Sendo assim, não cessarão os preconceitos em relação à maneira como as pessoas se expressam verbalmente enquanto não houver a compreensão de que há variedades linguísticas – e elas existem em face de uma sociedade estratificada, com cidadãos desigualmente aquinhoados: “A unidade e a diversidade de uma língua vêm do modo como a sociedade se organiza e reparte seus saberes e valores, particularmente os bens materiais” (Britto 2003).

Bourdieu reafirmou a existência de um valor extrínseco imputado ao discurso de acordo com o locutor, com a legitimidade que lhe é conferida em razão do capital econômico-social e cultural que detém, o qual lhe permite enfrentar com mais tranquilidade as circunstâncias formais ou oficiais que exigem uma linguagem cultivada, mais polida e monitorada. 

O prestígio social do falante, como salientou Bourdieu, se transfere ao seu discurso, tanto assim que quando uma forma linguística nova se incorpora à atividade linguística dos falantes prestigiados, ela deixa de ser considerada como “erro” (Bagno. Preconceito lingüístico, 2003). O erro, pois, não é absoluto, mas sim relativo ao meio ou ao grupo social de referência. 

No Brasil isso resulta em que a maior parte da população tenha seu linguajar desclassificado e desqualificado sob qualquer hipótese. Com pouca escolarização formal e portanto pouco acesso à escrita, essas populações menos privilegiadas tendem, por óbvio, a conservar o uso das variedades ditas estigmatizadas. 

“A sociedade pós-moderna, da era da informação, concentra o poder, cada vez mais, em quem domina os níveis mais elevados do saber e subjuga os que pouco ou nada conseguem gerenciar por insuficiência no uso da leitura e da escrita”, diz Nilcéa Pelandré (Ensinar e aprender com Paulo Freire: 40 horas 40 anos depois. SP: Cortez, 2002). Cria-se um círculo vicioso. Ainda que o indivíduo se esforce para “subir na vida” estudando e buscando as formas de prestígio, ele pode sofrer o efeito dessa ótica que marca e segrega. 

Não admira, pois, que todos procurem conhecer e dominar a norma culta. Para o imenso contingente de alunos oriundos das camadas sociais desfavorecidas, esse conhecimento se prende à necessidade de que eles “possam dispor dos mesmos instrumentos de luta dos alunos provindos das camadas privilegiadas” (Bagno 2003). No caso dos demais, pela necessidade de alcançar ou manter um status social e profissional privilegiado que requer o uso da norma culta, essa que seria, no entendimento de Lucchesi (Norma lingüística e realidade social. In Bagno 2002), constituída pelos padrões de comportamento linguístico dos cidadãos brasileiros que têm formação escolar, atendimento médico-hospitalar e acesso a todos os espaços da cidadania.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

LIVROS DE PORTUGUÊS PARA CONCURSEIROS:

O BCCCV dá a dica:

Apesar de a Língua Portuguesa ser a língua oficial do Brasil, muitos acreditam erroneamente que ela não mereça tanta atenção quanto as outras disciplinas na hora de prestar uma prova para concurso público.
Para escrever bem é preciso ter um conhecimento profundo na gramática, na redação e, também, na interpretação de textos. Sendo assim, elencamos abaixo cinco livros que possibilitarão uma ótima base para que seu desempenho em um certame seja surpreendente.
1. Como passar em provas e concursos
Livros de Lngua Portuguesa que todo concurseiro deve estudar
O Dr. William Douglas é um dos mais importantes e influentes especialistas do assunto. Este livro de sua autoria, que já está em sua 29ª edição, traz um conteúdo completo e abrangente de técnicas de estudo explicadas em linguagem clara e eficiente.
O livro ensina estudar com qualidade e transmite dicas e conselhos de especialistas que vão capacitar o candidato a aplicar o conteúdo com segurança e eficácia em uma prova de concurso.
As mais de 500 páginas do livro se tornaram uma ferramenta poderosa em forma de manual para que os interessados nas carreiras públicas possam trilhar um caminho de sucesso.
2. Gramática comentada com interpretação de textos
Livros de Lngua Portuguesa que todo concurseiro deve estudar
De autoria de Adriana e Fernando Figueiredo, este livro é parte da Série Provas e Concursos da Editora Campus.
No livro, os autores analisam e comentam os assuntos da Língua Portuguesa que aparecem com mais frequência nas provas de concursos públicos. Além disso, o livro traz uma excelente seleção de exercícios cujo objetivo é a fixação de tais conteúdos e questões que abrangem a análise de textos e regras gramaticais.
3. Moderna gramática portuguesa atualizada pelo novo Acordo Ortográfico
Livros de Lngua Portuguesa que todo concurseiro deve estudar
O autor Evanildo Bechara é, certamente, um dos principais nomes quando o assunto é o estudo do português.
Após anos de transição, o novo Acordo Ortográfico começou a vigorar no Brasil em 1º de janeiro de 2016, passando a ser obrigatório. Devido ao número de pessoas que ainda apresentam dificuldades quanto às novas regras, o livro do Bechara se tornou uma ótima opção de estudo e aprendizado.
4. Português para concursos: teoria e 900 questões
Livros de Lngua Portuguesa que todo concurseiro deve estudar
O livro, de autoria de Renato Aquino, se tornou um dos mais procurados pelos concurseiros, pois é prático e vai direto ao ponto.
O conteúdo de gramática é bastante abrangente e as 900 questões são capazes de preparar o candidato de uma maneira eficiente para a prova.
5. Interpretação de textos e semântica para concursos
Livros de Lngua Portuguesa que todo concurseiro deve estudar
O livro surgiu da pesquisa e conhecimento de quatro autores: Marcelo Rosenthal, Lilian Furtado, Tiago Omena e Pedro Henrique, e seu conteúdo traz diversas questões sobre interpretação de texto com respostas comentadas e que já fizeram parte dos certames.
O livro é especialmente importante para aquele tipo de prova em que as opções de resposta são semelhantes e um detalhe pode fazer a diferença na aprovação.
[Fonte: Blog QualConcurso]

domingo, 20 de novembro de 2016

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA e NORMA CULTA: preconceitos


O BCCCV esclarece:

Não é fácil estabelecer áreas de uso distintas para a norma culta e a norma-padrão porque muitas vezes as duas andam de mãos dadas. Por exemplo, na imprensa escrita se encontra simultaneamente o uso da norma canônica e das outras variedades linguísticas, embora o consenso seja de que os jornais e revistas de grande circulação são paradigmas da norma culta, pois produzidos por pessoas de escolarização completa, como os jornalistas, e circulam num estrato social urbano identificado como “culto”, de camadas da população que apresentam história de letramento familiar e amplo acesso aos bens de consumo, cultura e lazer.  

***
 
Falamos acima em variedades linguísticas. É inquestionável que as línguas variam, mudam, se expandem, morrem. As línguas comportam variações e mudanças no tempo, no espaço, na forma, no seu funcionamento. Encontram-se, portanto, variações geográficas (vocabulário e prosódia mudam de região para região); sociais (com as variáveis de classe, sexo, idade, grupo étnico, escolaridade e fatores individuais); de registro (formal e informal); estilísticas, semânticas, lexicais e fonológicas.
 
O problema do certo/errado (conceito embutido na dicotomia entre língua-padrão = correto, e não padrão = errado) parece residir na pouca compreensão de que a variação está inscrita na língua, é própria dela. Como lembra Marina Yaguello (2001), “nunca ninguém deteve a evolução de uma língua, a não ser deixando de falá-la”. Ensina a autora que a mudança linguística é movida por duas forças distintas: uma procede da língua mesma, é inerente à sua lógica interna; a outra procede da comunidade linguística, das condições sócio-históricas em que é produzida. 
 
A própria norma prescritiva não se põe a salvo das mudanças: ela também se deixa influir pelos empréstimos estrangeiros, pelas inovações e flutuações de uso (o verbo obedecer, por exemplo, antigamente era transitivo direto, passou a indireto e está voltando aos tempos clássicos na forma de obedecer ordens, obedecer o papai).

“O fato de as línguas passarem por mudanças no tempo é algo que pode ser percebido de mais de uma forma. Uma delas é o contato com pessoas de outras faixas etárias. Quanto maior a diferença de idade, maior a probabilidade de encontrarmos diferenças na forma de falar de duas pessoas”, explica Paulo Chagas (In Fiorin. Introdução à linguística. SP: Contexto, 2003).
 
***
 
Em seu artigo “Norma-padrão brasileira” (2002), Carlos Alberto Faraco esclarece que a raiz do preconceito linguístico na cultura brasileira e das atitudes puristas e normativistas que veem erros em toda parte e condenam qualquer uso – mesmo aqueles amplamente correntes na norma culta e em textos de nossos autores mais importantes – de formas que fujam ao estipulado pelos compêndios gramaticais mais conservadores está na grande distância que se colocou, desde o início, entre a norma culta e o “padrão artificialmente forjado”. 
 
É dentro dessa perspectiva da variação e evolução linguística – de regências verbais mutantes, ortografia e prosódia alteradas, novos significados a antigos vocábulos etc. – que Marcos Bagno diz ser preciso reconhecer que
 
tudo o que a Gramática Tradicional chama de “erro” é na verdade um “fenômeno” que tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável. Se milhões de pessoas (cultas inclusive) estão optando por um uso que difere da regra prescrita nas gramáticas normativas é porque há alguma regra nova sobrepondo-se à antiga. Assim, o problema está com a regra tradicional, e não com as pessoas, que são falantes nativos e perfeitamente competentes de sua língua (Preconceito linguístico: o que é, como se faz. SP: Loyola, 2003).

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

sábado, 19 de novembro de 2016

BANDEIRA DO BRASIL: 19 CURIOSIDADES

Bom saber!
DIA DA BANDEIRA: 19/11
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(Foto: Lula Machado)
1 - A atual Bandeira do Brasil foi adotada em 19 de novembro de 1889. O desenho é do pintor Décio 
Villares e o projeto, de Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, todos positivistas. 
Ela é parecida com a bandeira do Império, que foi desenhada em 1822 pelo pintor Debret.
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Bandeira do Brasil adotada em 1889. O número de estrelas foi atualizado pela última vez em 1992, 
para acrescentar os estados de Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins.
2 - Tradicionalmente, pensamos que o verde da Bandeira representa as matas do Brasil, enquanto
 o amarelo representa as riquezas minerais, o azul o céu e o branco a paz. Na verdade, a explicação 
mais aceita é de que o verde é a cor da família real portuguesa, a Casa de Bragança, enquanto o 
amarelo representaria os Habsburgos, a família da imperatriz Leopoldina, que era austríaca.
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Bandeira do Império do Brasil
3 - As constelações que compõem a Bandeira estão invertidas, ou seja, representadas não da forma 
como são vistas olhando para o céu, mas como se fossem vistas por um espelho, ou, como diz a lei
 5.700/1971, “como vistas por um observador situado fora da esfera celeste”.
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(Wikimedia Commons)
4 - “Ordem e Progresso”, lema escrito na bandeira, tem inspiração na filosofia positivista. 
No entanto, o lema completo, cunhado pelo criador do Positivismo, Augusto Comte, é
 “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim” (sobre o positivismo no
 Brasil, veja texto da Biblioteca Nacional). 
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O quadro “Pátria”, de Pedro Bruno, 1919, representa a confecção da primeira Bandeira do Brasil. 
Pertence ao acervo do Museu da República, no Rio de Janeiro. 
5 - Não é permitido modificar as cores ou o lema da bandeira ao representá-la. Há um projeto de 
lei na Câmara dos Deputados que propõe mudar o lema para “Amor, Ordem e Progresso” 
(PL 2.179/2003), tendo por base a inspiração positivista original. 
6 - A Lei 5.700/1971 diz como deve ser confeccionada a Bandeira Nacional, onde ela deve ser usada,
 como deve ser o comportamento diante dela e como ela não pode ser usada. A Lei 8.421/1992 fez 
algumas modificações na lei anterior para adequar a Bandeira à nova divisão dos estados.
7 - Todos os dias a Bandeira Nacional deve ser hasteada no Congresso Nacional, nos Palácios do 
Planalto e da Alvorada, nas sedes dos ministérios, nos tribunais superiores, no Tribunal de Contas 
da União, nas sedes de governos estaduais, nas assembleias legislativas, nos Tribunais de Justiça,
 nas prefeituras e Câmaras de Vereadores, nas repartições públicas próximas da fronteira, nos navios
 mercantes e nas embaixadas.
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Em 2012, o senador Aníbal Diniz (PT-AC) participou da cerimônia de hasteamento em 
comemoração ao Dia da Bandeira.
8 - As escolas públicas e particulares devem hastear e arrear a bandeira pelo menos uma 
vez por semana.
- Quando a bandeira estiver sendo hasteada ou arreada, ou levada em marcha ou cortejo, 
nenhum homem (exceto os militares) pode usar chapéu, boné ou qualquer outra coisa sobre 
a cabeça. Já os militares devem prestar continência.
10 - É proibido usar a bandeira como vestimenta.  Mas há um projeto na Câmara 
(PL 2.271/2007) que revoga essa proibição.
11 - Também é proibido reproduzir a bandeira em rótulos ou embalagens de produtos.
12 - A bandeira que fica permanentemente hasteada na Praça dos Três Poderes, em Brasília,
 é a maior bandeira nacional do mundo: tem 286 metros quadrados. Já o mastro tem 100 
metros de altura.
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(Foto: Paula Cinquetti)
13 - A bandeira desenhada no carpete do Plenário do Senado, logo abaixo da Mesa, é obra do 
auxiliar de serviços-gerais Clodoaldo Silva. Ele fez o desenho pela primeira vez em 1998 para 
celebrar o nascimento do filho. Desenhada com auxílio de um aspirador de pó, a obra agradou 
aos senadores e desde então nunca mais deixou de ser feita, sendo retocada todas as semanas.
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14 - Bandeiras rasgadas devem ser entregues à Polícia Militar para serem incineradas no Dia da Bandeira.
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A 15ª Companhia de Infantaria Motorizada, sediada no Paraná, incinera bandeiras inservíveis. 

[Fonte; Tumbir do Senado].

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A ou HÁ? 'rapidinha'

O BCCCV esclarece:

Para saber se você deve usar “a” ou “há” apresentamos aqui algumas dicas para facilitar a eliminação de dúvidas a esse respeito:
 Usa-se “há” quando o verbo “haver” é impessoal, tem sentido de “existir” e é conjugado na terceira pessoa do singular.
Exemplo: Há um modo mais fácil de fazer essa massa de bolo.
Existe um modo mais fácil de fazer essa massa de bolo.

• Ainda como impessoal, o verbo “haver” é utilizado em expressões que indicam tempo decorrido, assim como o verbo “fazer”.
Exemplos: Há muito tempo não como esse bolo.
Faz muito tempo que não como esse bolo.

Logo, para identificarmos se utilizaremos o “a” ou “há” substituímos por “faz” nas expressões indicativas de tempo. Se a substituição não alterar o sentido real da frase, emprega-se “há”.
Exemplos: Há cinco anos não escutava uma música como essa.
Substituindo por faz: Faz cinco anos que não escutava uma música como essa.

• Quando não for possível a conjugação do verbo “haver” nem no sentido de “existir”, nem de “tempo decorrido”, então, emprega-se “a”.
Exemplos: Daqui a pouco você poderá ir embora.
Estamos a dez minutos de onde você está.

Importante: Não se usa “Há muitos anos atrás”, pois é redundante, pleonasmo. Não é necessário colocar “atrás”, uma vez que o verbo “haver” está no sentido de tempo decorrido.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

LEITURAS: dicas especiais

Para adquirir muitos conhecimentos:


As dicas de leitura desta semana estão muito legais. Começando pela obra Anita Malfatti no tempo e no espaço, de Marta Rossetti Batista. Em dezembro de 1917, a exposição de uma pintora pouco conhecida, recém-chegada de temporadas de estudo na Alemanha (1910-14) e nos Estados Unidos (1915-16), provocou um escândalo na cidade de São Paulo, reuniu a sua volta jovens inquietos como Mário e Oswald de Andrade, e transformou-se no estopim do modernismo.
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A trajetória singular de Anita Malfatti (1889-1964) constitui um dos fatos mais intrigantes da arte brasileira no século XX. Desde os anos 60, quando a pintora lhe abriu as portas de sua casa e ateliê, Marta Rossetti Batista rastreou arquivos, bibliotecas e coleções, públicas e particulares, reunindo e cruzando informações, até mapear todas as etapas de sua vida. O resultado desta pesquisa, empreendida durante mais de quatro décadas por esta que é uma das principais historiadoras de nosso modernismo.
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e para quem se interessou pela Semana de Arte Moderna, sugerimos o livro Artes plásticas na Semana de 22, de Aracy A. Amaral.  Publicada pela primeira vez em 1970, esta obra, ricamente ilustrada, chega à sua 6ª edição, revista e ampliada, com atualização bibliográfica e acréscimo, no apêndice, de dois textos de época inéditos em livro. Referência obrigatória no estudo da história da arte brasileira, expõe o contexto que fez da Semana um divisor de águas no nosso panorama cultural. “Referência básica para o estudo do modernismo brasileiro.” (Murnau Di Magalhães, Jornal de Brasília).
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E já que essa semana tivemos o feriado da proclamação da república, a sugestão é Essa tal Proclamação da República, de Edison Veiga. A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889. Porém, você sabe o que aconteceu meses antes do fim do Império? Com linguagem irreverente, o autor revela os fatos que antecederam a expulsão de dom Pedro II e da família imperial – como a ascensão da cafeicultura, a promulgação da Lei Áurea, a Guerra do Paraguai, o baile da Ilha Fiscal, a briga entre a maçonaria e a Igreja Católica, a revolta dos militares –, apresenta os personagens que participaram da queda da Monarquia, faz um panorama da sociedade brasileira do século XIX e conta a história dos hinos e da bandeira nacional. Trecho “Nem é preciso ter ido à escola para saber que Cristóvão Colombo colocou o ovo em pé, Pedro Álvares Cabral descobriu o que não estava coberto, dom João VI trouxe a turma toda para viver na colônia de férias tropical, e seu filho, dom Pedro I, disse ao povo que ficaria. E ficou. Por isso, quando resolvi escrever sobre a Proclamação da República, logo imaginei que todo mundo aqui – levanta a mão! – já tivesse ouvido algo sobre o assunto. Ainda que seja somente porque dia 15 de novembro é feriado e não tem aula (êêêêêêêêêêêêê!). Este não é um livro de História, com H maiúsculo. É um livro de histórias, todas minúsculas. Mas a soma delas irá ajudar a compreender um pedacinho da História do Brasil. Por isso convido-o, amigo leitor, a me acompanhar nas páginas que vêm por aí. Será uma verdadeira viagem ao século XIX, quando não existia internet, televisão, rock-and-roll, nem o seu avô.”

[Fonte: Varejão do Estudante]

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

POVOS ASTECAS: 'rapidinha'

Quem foram?

Você sabia que foram eles que deram origem aos mexicanos? Mas não é só isso.

https://www.bcccv..blogspot.com
O BCCCV eslcarece:

 Essa civilização tem uma cultura muito forte. Eles incorporaram a A, a escrita e a religião no dia a dia deles. Os astecas eram bastante guerreiros e habitavam a região do atual México, entre os séculos XIV e XVI. No século XIV fundaram a importante cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), numa região de pântanos, próxima do lago Texcoco.
A sociedade asteca era hierarquizada e comandada por um imperador, chefe do exército. A nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham grande parte da população. Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais de irrigação, estradas, templos, pirâmides).
A agricultura era muito desenvolvida. Eles criaram técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e colhiam milho, pimenta, tomate, cacau etc. As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo. Outro ponto forte desta civilização era o artesanato, que era riquíssimo. Tinham destaque a confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos com pinturas.
Na arquitetura, construíram enormes pirâmides utilizadas para cultos religiosos e sacrifícios humanos. Estes, eram realizados em datas específicas em homenagem aos deuses. Acreditavam, que com os sacrifícios, poderiam deixar os deuses mais calmos e felizes. E por falar em deuses, a religião dos astecas era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua, Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita era representada por desenhos e símbolos. O calendário maia foi utilizado com modificações pelos astecas. Os astecas também foram responsáveis por desenvolver diversos conceitos matemáticos e de astronomia.
Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em 1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objetos de ouro desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da região.

{Varejão do Estudante}