domingo, 29 de julho de 2018

GRAFIA: HORAS e DATAS

GRAFIA DAS HORAS

A grafia que deve ser adotada em jornais, sentenças, acórdãos, convites, convocações, cartazes e coisas do gênero é a seguinte:

HORA REDONDA: 8 horas / 10 horas ou 10 h [abreviação sem s e sem ponto; espaço antes do h]

HORA QUEBRADA: 8h35min 10h05min / 10h35   [sem dar espaço entre os elementos]

A grafia por extenso – que é menos visual – se reserva para convites formais como o de um casamento: A cerimônia será realizada às dez horas do dia vinte de maio. Entretanto, já se encontram convites bem modernos e elegantes com o uso de algarismos: às 10 horas do dia 20 de maio de 2007.

A grafia com dois-pontos, por ser a mais visual, é usada em áreas específicas como anotações de voo, competições, agendas ou programações com horário em sequência ou um abaixo do outro etc.: 08:00 h / 09:30 h / 10:00 h / 10:05 h / 14:35 h / 20:01 h
O BCCCV esclarece:


GRAFIA DAS DATAS

Existem três possibilidades de escrever datas abreviadas. Com traço, barra ou ponto: 6-12-2007, 16/9/2007, 16.10.2007.

O ano pode ser registrado com os dois últimos dígitos: 16/11/08. Observe que, a não ser em formulários onde haja dois espaços, não se coloca o zero antes do dia ou do mês formado de um só algarismo: 2.2.92, 8/1/994/12. Por orientação do governo federal, o primeiro dia do mês deve ter esta grafia:  de maio, 1°/10/09 (escrevendo à mão, coloque um ponto ou tracinho embaixo do 'o' elevado).

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

COR BRANCO ou BRANCA?

--- Tenho uma dúvida quanto ao gênero da palavra branca na frase a seguir: Sugestão de cor: BRANCA. Já vi a mesma frase escrita Sugestão de cor: BRANCO. Qual o correto? Sônia M. T. da Silva

O BCCCV esclarece:


Existem as duas possibilidades.

1) Sempre que você coloca a palavra “cor” junto da própria cor, é preciso fazer a flexão masculino/feminino ou singular/plural, porque aí você está usando um adjetivo (amarelo, azul, branco, castanho, lilás, marrom, preto, roxo, verde, vermelho), que deve  concordar com o substantivo. Exemplos:

Sugiro que você opte sempre pela cor branca.

A cor roxa não fica bem na decoração, a não ser em detalhes.

Fez uma seleção de várias cores vermelhas.

As cores amarelas não lhe caem bem.

2) Por outro lado, as cores são também usadas como substantivos do gênero masculino: (o) branco, (o) verde, (o) vermelho, (o) amarelo etc. É o caso de:

Prefiro o preto ao branco.

Esse roxo não caiu bem no sofá da sala.

O que seria do verde se todos gostassem do amarelo?

Vermelho é sua cor preferida.

Posta a questão dessa maneira, vemos que a concordância gramatical com a palavra “cor” tem de ser “branca” (adjetivo singular feminino concordando com substantivo singular feminino); todavia, na frase em discussão existem os dois-pontos a quebrar esse elo entre substantivo e adjetivo. Isso permite o uso do substantivo para designar a cor. Assim sendo, estão ambas corretas:

SUGESTÃO DE COR: BRANCA ( = cor branca)

SUGESTÃO DE COR: BRANCO ( = o branco, subst.)

Mais detalhes sobre o uso das cores se encontram no livro Só Palavras Compostas – Manual de consulta e autoaprendizagem.

 Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quarta-feira, 18 de julho de 2018

VÍRGULA: com nomes de pessoas

RAPIDINHA DE PORTUGUÊS:

O BCCCV esclarece:

Os nomes próprios de pessoas escritos numa frase podem ou não ser separados por vírgulas – e disso entendem os jornais e revistas, que falam não só de chiques e famosos mas de políticos e de outros simples mortais. Também o advogado, em seu trabalho, cita muitos nomes de pessoas. E aí a vírgula pode contribuir para aclarar uma situação, dar uma informação correta. É o caso, por exemplo, de filhos ou funcionários envolvidos numa questão jurídica. Se determinada empresa tem vários funcionários e foi um deles que, digamos, abalroou o veículo X, a frase será assim:

Afirma o réu que seu funcionário Mário Tadeu dirigia o veículo na ocasião.

Se tal réu tivesse apenas um empregado, o nome deste iria entre vírgulas:

Afirma o réu que seu funcionário, Mário Tadeu, dirigia o veículo na ocasião.

Neste último caso, o nome se torna um aposto explicativo (o qual equivale a uma oração adjetiva explicativa sem "que é"), o que justifica sua separação por vírgulas.

Sendo assim, sempre que se referir a pessoa que tiver um cargo único e especificado na frase, como presidente da República, do Senado, da Câmara Federal, de um partido político, de uma empresa etc., ou governador de um Estado, faça a separação do nome da pessoa por vírgulas – uma ou duas, conforme sua posição na frase. Também é o caso de pai e mãe, que temos um só, e de marido e mulher:

A mãe de Caetano e Bethânia, dona Canô, é quase tão famosa quanto os filhos.

O governador de Santa Catarina em 2001, Esperidião Amin, e o então ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo C. Sardenberg, oficializaram um projeto pioneiro no país – a Rede Catarinense de Ciência e Tecnologia.

A ação contra a empresa TAL foi proposta por João Silva e sua mulher, Amália J. Silva.

O fundador de Jaraguá do Sul, Emílio Carlos Jourdan, morreu em 8 de agosto de 1900, no Rio de Janeiro.

Mas quando se referir a um entre vários da mesma categoria – como ex-governador, ex-esposa, diretor de empresa (normalmente há mais de um diretor), professor de escola, habitante, ator, candidato etc. – não faça o destaque do nome entre vírgulas:

Um dos palestrantes foi o economista e especialista em gestão condominial César Thomé Júnior.

O ex-governador do Paraná Álvaro Dias concedeu entrevista a uma rádio de Maringá.

O brusquense Eleutério Graf abriu sua banca num dos principais pontos da cidade.

Para a professora da USP Roseli Baunel, especializada em Educação Especial, a escola deve perceber o que pode oferecer ao aluno com deficiência visual.

Os candidatos a vereador Tobias Sailor e Tadeu Pilli devem comparecer ao debate.

No caso de irmãos e filhos, depende. Filho único é separado por vírgulas. Havendo mais de um filho ou filha, as vírgulas não devem ser usadas:

O jornal publicou pequena entrevista com o filho de Celso Pitta, Victor.

Vera Fischer e sua filha, Rafaela, aparecem juntas na foto.

Os seus irmãos Samuel e Sandra estarão competindo em tênis de mesa. [deduz-se que haja outros irmãos]

Quando se tratar de nomes estrangeiros ou desconhecidos, ou quando ocorrer uma repetição de nomes (Paulo Paulo, por exemplo), inverta a ordem dos termos. Em vez de:

- O líder da Frente Revolucionária Unida Foday Sankoh recebeu treinamento militar na Líbia.

- O ex-governador de São Paulo Paulo Maluf se candidatou novamente.

Escreva:

Foday Sankoh, líder da Frente Revolucionária Unida, recebeu treinamento militar na Líbia.

Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo, se candidatou novamente.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sábado, 14 de julho de 2018

POR QUÊ; POR QUE; PORQUE; PORQUÊ; QUÊ:

RAPIDINHA DOS PORQUÊS:

De São Paulo, o leitor W. Santos sugere o tema por que porque. E sei por quê. É que há toda uma geração de brasileiros que aprendeu o seguinte: por que separado se usa em perguntas; porque junto se usa na resposta. É verdade, mas não é a verdade toda. O correto é acrescentar que por que separado também se usa em respostas e afirmações. Vejamos esses casos esquematicamente.


1. POR QUE


Expressão formada pela sequência de preposição + pronome interrogativo ou relativo. Utilizada em perguntas diretas e indiretas; em frases afirmativas/negativas e exclamativas; em títulos de obras/artigos. Equivale a por qual razão / por qual motivo. Exemplos:


Por que está tão difícil a captação de recursos?

Vocês entenderam agora por que é importante ler bons textos?

Sabes por que ela não veio? Sinceramente, não sei por que ela não veio.

Por que entrar no orkut, eis a questão.

Sempre me pergunto por que a inflação está voltando a esse patamar.

Teve de explicar aos superiores por que acontecera outro acidente.

Ninguém entende por que você o abandonou.

POR QUE PARAR DE FUMAR  [título de artigo]

Por que formar uma miniempresa – anote dez razões [título de livro]

Vamos verificar por que as vendas estão caindo nesse setor.


Observe que a palavra razão/motivo pode estar apenas subentendida ou aparecer claramente na frase:


Se pago, quero saber por que (motivo) pago.

O cliente teve de explicar por que (razão) atrasou o pagamento.

Houve um engarrafamento, daí por que nos atrasamos. 
[ = daí o motivo pelo qual ]

Eis os motivos por que eles parecem tão felizes.

Não consigo entender por que razão foram descontados os dias de greve.


2. POR QUÊ?!.     QUÊ?!.


O monossílabo átono que passa a ser tônico em final de frase. Acentue-o, portanto, antes do ponto (final, de interrogação ou de exclamação):


Obrigado. – Não há de quê.

O prefeito convocou uma reunião mas ninguém compareceu, só Deus sabe por quê.

Quem foi à festa adorou. Você não quer descobrir por quê?

Correr tanto pra quê?!

Ela é especial, sabes por quê?

Qual o quê! Isso é pura intriga.


3. PORQUE


Conjunção explicativa ou causal, substituível por pois, uma vez que, já que, porquanto, ou pelo fato de que, como (caso dos dois últimos exemplos a seguir):


Não foi ao treino porque não se sentia bem.

Ele se sente meio confuso porque não leu a matéria com concentração.

Por que foram a juízo? Porque estavam cheios de razão.

Abandonou o curso de pós-graduação porque, tendo de dar aulas à noite e trabalhar de manhã, sentiu-se no limite.

Ela, sim, soube a razão do confisco, porque além do cargo tinha outros poderes.

Porque o fumo é plantado em lombas, as mudas nem sempre podem ser replantadas em terreno contínuo. 

Porque a onça caça à noite é difícil registrar seus hábitos.


4. PORQUÊ


Acentuado, numa palavra só e antecedido de artigo, agora é substantivo masculino, pluralizável, equivalente aos substantivos motivo, causa, razão, indagação:


Não entendo o porquê da rejeição.

O Congresso precisaria analisar o porquê de tantos desmandos. 

É difícil achar respostas para todos os nossos porquês.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

AGENTE DE ou DA POLÍCIA?

O leitor SAMG, de João Pessoa/PB, anota que é uma agressão à nossa língua “dizer agente de polícia civil ao invés de agente da polícia civil, pois se perguntarmos ao agente onde ele trabalha certamente ouviremos como resposta na Polícia, e não em Polícia”.



Não creio que seja bem assim. Vejamos por que digo isso.


A rigor, uma vez que se qualifique ou determine o segundo substantivo de uma locução, deveria se determinar o antecedente usando da e não de. Por exemplo: ele é chefe de gabinete. Se o gabinete é da Presidência, se diria, como consequência: ele é o chefe do gabinete da Presidência. Mas também é lícito dizer “chefe de gabinete da Presidência” quando se quer ou se precisa manter a unidade da expressão "chefe de gabinete". Isto é: ele é chefe de gabinete (do gabinete) da Presidência. Subentende-se a repetição da palavra “gabinete”.


Outro caso semelhante é o do “projeto de lei orçamentária”, que está registrado, por exemplo, inúmeras vezes na Constituição Federal. Pode parecer estranho, mas tem a mesma lógica: o projeto de lei (da lei) orçamentária. Nesse tipo de estrutura está se evitando – reitero – a repetição do segundo substantivo (lei), que então estaria determinado pelo artigo. O "projeto de lei" forma uma unidade “imexível”: o “projeto da lei orçamentária” seria outra coisa, diferente do “projeto de lei (da lei) orçamentária”.


Chegamos, então, ao agente de polícia. O seu cargo é exatamente este: agente de polícia, assim como “delegado de polícia”. Mas qual polícia? perguntamos. – A polícia civil. Portanto, ele é um agente de polícia da polícia civil. Sem a repetição, dizemos: um agente de polícia civil.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini


terça-feira, 3 de julho de 2018

VÍRGULA: e a expressão mínimo

De um articulista do jornal Diário Catarinense: 
Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões, no mínimo, surrealistas.



O que fazem as duas vírgulas ali? Nada, só tiram a fluência da afirmação. 
Quando no mínimo toma o lugar de um advérbio de intensidade, não deve vir entre vírgulas. 
Veja que essa mesma frase poderia ser dita assim:

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões muito surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões bastante surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões excepcionalmente surrealistas.

A expressão no mínimo, como se vê, às vezes serve apenas de reforço; não significa “que é o menor”. Portanto, assim como você não usaria entre vírgulas os advérbios de intensidade acima, não deve entalar no mínimo entre tais sinais de pontuação. Mesmo quando tem o sentido de “no menor limite provável”, as vírgulas podem ser eliminadas, principalmente quando no mínimo vem depois do verbo:

Chegaremos no mínimo às 22 horas.

Espero que ele faça no mínimo três pontos.

Também a expressão equivalente pelo menos deve receber o emprego sóbrio das vírgulas, especialmente quando vem depois do verbo. Podemos observar, nos exemplos abaixo, que sem tal pontuação a frase flui melhor, sem tropeços:

Estamos à sua espera há pelo menos vinte minutos.

Ela espera fazer pelo menos quatro pontos.

A inserção do art. 84-A na Lei 9.981/00 é no mínimo impertinente, para não dizer inútil.

Sua atitude causa no mínimo estranheza.

Mas devo ressalvar que a vírgula também pode ser usada em caso de necessária ênfase e sobretudo quando há um deslocamento da expressão (para longe do verbo):

Ela espera fazer quatro pontos, pelo menos.
Disse que a pesquisa vai demandar de dois meses, no mínimo, a quatro, no máximo.

Enfim, em se tratando de no mínimo pelo menos, seria o caso de dizer: use mas não abuse!



Maria Tereza de Queiroz Piacentini