sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

MAIÚSCULA EM NOMES COMPOSTOS:

 Oswaldo Onofre, de Recife/PE, solicita orientação para o dilema das iniciais maiúsculas em palavras compostas do tipo Pró-Reitoria (ou Pró-reitoria?). E Márcio S. Fontes, de Florianópolis/SC, pergunta se deve escrever Decreto-lei ou Decreto-Lei.


Como já disse outras vezes, o emprego das iniciais maiúsculas não ficou claro no Formulário ortográfico de 1943 (oficial). Não se tratou ali (e tampouco no Acordo Ortográfico 2009) das iniciais em nomes compostos. O que tem servido de guia para os gramáticos é o exemplo de Capitão-de-Mar-e-Guerra, que aparece na Observação do item 14° e que faz supor devam todos os elementos de um nome próprio iniciar com caixa-alta. Lá no 12°, porém, na exemplificação de documentos oficiais, consta: “A lei de 13 de maio, o Decreto-lei nº 292, o Decreto nº 20.108 [...]”, ao que Celso Luft objeta em nota de rodapé no seu Grande Manual de Ortografia Globo (1985:260): “Nas composições hifenizadas, os elementos gozam de independência gráfica: Decreto-Lei, com L maiúsculo”.

O #BCCCV esclarece:



O bom senso nos leva à seguinte orientação: usar todas as iniciais maiúsculas quando a palavra composta faz parte de um nome próprio, qual seja, título de obra, nome de repartição, escola, instituição, cargo ou evento, datas ou fatos históricos. Vejamos alguns exemplos:


Marcaram entrevista com o professor doutor Ari na Pró-Reitoria de Ensino e Pesquisa.

A homenagem foi feita pela Organização Pan-Americana de Saúde, braço da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Representantes de governo e do setor agropecuário reuniram-se em Santiago do Chile para a 30ª Reunião da Comissão Sul-Americana de Luta Contra a Febre Aftosa.

Soros virou o único beneficiário daquilo que os ingleses chamaram de Quarta-Feira Negra.

Como periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina, a Revista Linhas procura disseminar conhecimento consistente e socialmente relevante.


Quando é que se pode ver, então, a segunda palavra desses compostos em inicial minúscula? Quando não fazem parte de um nome próprio e a primeira palavra tem de ser forçosamente grafada com maiúscula, caso do início de frase:
 

Couve-flor faz bem à saúde.

Pós-graduação agora? Nem pensar.

Quarta-feira estaremos aí.

Sul-americanos são discriminados na fronteira.


E o decreto-lei, como é que fica? A gosto do redator: se considerar que o pessoal de 1943 cometeu um engano (entre os vários detectados) nas suas instruções, e além disso acha mais estético seguir o padrão acima explicitado, escreverá Decreto-Lei. Se entender que aí não se trata exatamente de um “nome próprio”, mas que o D maiúsculo é mero destaque (o que não deixa de ser um bom argumento), optará por Decreto-lei.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

CONCORDÂNCIAS ESPECIAIS E CARGOS FEMININOS

 Sylvio Bertoli quer saber se não cabe também o verbo no plural nas frases abaixo, que foram objeto da coluna “Falando de números e numerais” publicada há seis semanas (NTL 155). Dizia eu então:


Há uma concordância especial para o verbo ser quando o sujeito indica preço, peso, porção, quantidade, medida. Neste caso o verbo passa a concordar com as expressões muito, pouco, o suficiente, o mínimo, demais etc., permanecendo então na terceira pessoa do singular:



O #BCCCV esclarece:



Sete anos de noivado foi muito.

Dez metros de fita é pouquíssimo.

Cem reais é o suficiente.

Seis é o mínimo desejável.

Um é pouco, dois é bom, três é demais.


Todavia, existe uma concordância do verbo ser no plural. Isso se dá quando o substantivo, núcleo do sujeito, está determinado por um artigo. Veja então a diferença:


Os sete anos de noivado de Abel e Marta foram demais, foram um absurdo.

Os seis elementos são desejáveis.

Os dez metros de fita que comprei foram insuficientes.

Os cem reais que me deste foram suficientes.


--- O que me leva a este contato é uma dúvida que me surgiu após ler uma edição do jornal A Gazeta. A manchete principal saiu assim: Quem poderão ser os candidatos locais nas próximas eleições? Gostaria de saber se está correto este título e por quê. Fernando.


A manchete está correta, embora chegue a soar estranha, pois não é muito comum a utilização do verbo ser com um verbo auxiliar, numa locução verbal [poderão ser], junto do pronome interrogativo quem.  Normalmente este pronome leva o verbo para o singular:


Quem será?

Quem sabe quem foi o autor da manchete?

Quem fez isso? 


Todavia, em orações com o verbo ser, o pronome quem pode servir de predicativo a um sujeito no plural. Isso quer dizer que o verbo vai fazer a concordância com o sujeito que estiver no plural:


Quem são eles? Quem somos nós?

Quem serão os candidatos locais nas próximas eleições?

Quem foram os malucos que atacaram o presidente?

"Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?" (Cecília Meireles)


CONCORDÂNCIA NO FEMININO


--- Queira esclarecer: a gerente/a auxiliar administrativo ou a gerente/a auxiliar administrativa. Luiz Gonzaga Soares, Rio de Janeiro/RJ


Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns-de-dois, ou comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Consequentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário. Outros bons exemplos de cargos femininos:


a secretária executiva

a secretária adjunta

a presidente adjunta

a chefe auxiliar

a assessora especial

a consultora geral

a juíza substituta

a gerente financeira

a auxiliar técnica

a técnica administrativa

a diretora-secretária

a diretora-presidente

a ministra-chefe.


Enfim, se uma mulher ocupa o cargo de prefeito ou de técnico judiciário, por exemplo, ela se torna prefeita, ou técnica judiciária, e assim por diante.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini