domingo, 30 de dezembro de 2018

SÍMBOLOS e UNIDADES:

A norma oficial estabelece que a forma abreviada dos símbolos científicos e unidades padronizadas de medida seja escrita sem ponto. Algumas foram registradas em maiúscula – como (potássio), Kr (criptônio), Y (ítrio) – outras em minúsculas, tal qual sen (seno) e g (grama), por exemplo. A grafia para o singular e o plural é a mesma: sem o acréscimo de s ou de qualquer outra letra: nada de *mts para metros, ou *hrs para horas.
O BCCCV esclarece:


Eis uma pequena relação das abreviaturas mais usadas: 1 km, 3 m, 4 cm, 5 mm; 6 kg, 7 g, 8 mg; 9 kl, 10 dl, 12 ml. No caso de litro apenas, como o l minúsculo pode ser confundido com 1 (um), convencionou-se usá-lo em maiúscula ou em itálico: 1 L, 20 l.

Deixa-se um espaço entre o valor numérico e a unidade, a menos que haja uma combinação de dois elementos, como por exemplo metro e centímetro:

Ele tem um sítio a 6 km de Imperatriz.

Recomenda-se a ingestão diária de 0,5 g de ácido ascórbico.

Havia 6 ha de terras ainda devolutas.

O motor possuía 45 hp e funcionava a contento.

Às 18h30min acontecerá o jogo decisivo.

O pássaro encontrava-se exatamente a 3m18cm do predador.

Devo registrar que no caso das horas cheias, a despeito da recomendação do Inmetro, esse espaço vem sendo abolido, sendo portanto válido escrever também: 8h, 10h, 22h.

A palavra quilômetro(s) pode receber inicial maiúscula quando assume o caráter de nome próprio, ou seja, ao se referir a uma determinada localidade na estrada:

O acidente aconteceu no Km 380 da BR 203.

Escrevem-se por extenso as unidades padronizadas de pesos e medidas – metro, milímetro, litro, grama – quando enunciadas isoladamente:

Cada metro de terra, cada litro de água, tudo era levado em conta no assentamento.

Percorreu a pé os poucos quilômetros da estrada.

SOBRE SER

Sobre ser leal e atencioso, o mordomo reunia as qualidades do zelo e da minúcia.

Estranhável à primeira vista, a construção frasal está perfeita. A preposição sobre, a par do seu sentido usual de “em/por cima, acima de, em posição superior, relativamente a, acerca de”, entre outros menos votados, significa além de. Mais dois exemplos:

Sobre serem dóceis, as duas gatas eram lindas e espertas.

A interpretação lógica é aquela que, sobre examinar a lei em conexão com as demais, investiga-lhe também as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

DICAS DE LEITURA: INFANTIL


É claro que as férias é a época de brincar muito com os amigos, mas ler também é uma grande diversão. Por isso, as nossas dicas de leitura da semana, se basearão em livros que falam de férias. Será só diversão!
No livro As férias da Bruxa Onilda, de Enric Larreula e Roser Capdevila (editora Scipione), o calor está infernal e Bruxa Onilda decide passar as férias na praia. Lá ela participa de um concurso de castelos de areia e dica em primeiro lugar. O prêmio é uma prancha de windsurfe. Aí, começa a confusão. A bruxa quase se afoga, é levada para o hotel e, de tão assediada pelos fãs, decide fugir pela janela. Passa o restante das férias no hospital, mas nem ali ela tem sossego!
Minhas Férias, Pula uma Linha, Parágrafo, de Christiane Gribel (Ed. Salamandra), conta a história de um menino, que no primeiro dia de aula, tem de escrever uma redação sobre suas férias. Mas, naquele momento, todas as alegrias vividas nas férias pareciam não ter existido, justamente porque ele teria que transformá-las em uma redação. Que sofrimento! O que escrever numa situação dessa? Começa, então, uma corrida contra o tempo. A inspiração veio quando faltavam cinco minutos para que a redação fosse entregue. Corre, corre, corre e… enfim, a redação estava pronta! Problema resolvido? Que nada! Os problemas só estavam começando… Este é um livro sem igual. Christiane Gribel constrói uma trama engraçadíssima e muito original.
E para finalizar, nada melhor do que Férias na Antártica. Este é o título do livro de Laura Klink, Tamara Klink e Marininha Klink, da editora Peiropolis. Três irmãs, duas idades diferentes, três visões de mundo, todas no mesmo barco, de férias na Antártica. Conheça neste livro o delicado equilíbrio do planeta e, de quebra, o divertido jeito de encarar o mundo das jovens Laura, Tamara e Marininha, filhas do navegador Amyr Klink e da fotógrafa Marina Bandeira Klink. Nos relatos de viagem, estão as lembranças de cinco expedições em família ao continente antártico, onde focas, pinguins, baleias e muitos outros animais especiais passam o verão. Com ainda pouca vivência, elas já sabem e entendem que nosso planeta precisa de cuidados e que, onde quer que a gente viva, nossas atitudes refletem em lugares muito distantes daqui. Lendo esse livro, é bem capaz de você querer viver as mesmas aventuras.

Fonte: Varejão do Estudante

sábado, 29 de dezembro de 2018

PLURAL: DO SUBSTANTIVOS DIMINUTIVOS E DOS SUBSTANTIVOS ABSTRATOS:

--- Aprendi com meu professor de português, na época de preparação para o vestibular, que nunca deveríamos usar as palavras "saudade" e "ciúme" no plural. Como é bastante comum o uso do plural e não encontro bibliografia que possa me esclarecer esta dúvida, gostaria que me ajudassem. Suely D’Alessandro, Florianópolis/SC
O BCCCV esclarece:



--- Há plural para sentimento? Ester Venturin, São Paulo/SP



Sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos. Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (Meu pêsame. Parabém! Receba nossa felicitação.) mas foram sendo substituídas pela forma plural.



Isso não quer dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.



Contudo, é usual dizermos “Desejo-lhe felicidades” ou “Que as alegrias da juventude continuem por toda a vida”, assim com a flexão numérica, exatamente pela ideia de plural, de “momentos de alegria” e de “felicidade em muitas dimensões”.

PLURAL DO SUBSTANTIVO DIMINUTIVO


A formação do diminutivo se faz por meio de sufixos, entre os quais (z)inho  é o que tem mais vitalidade: pão – pãozinho; pá – pazinha; mãe – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha; devagar – devagarzinho ou devagarinho ; igual – igualzinho e assim por diante.



O plural dos diminutivos em zinho é formado acrescentando-se zinhos ao plural do substantivo primitivo menos o S:



– pá                 – pás                  – pa(s)zinhas                 =  pazinhas  
– igual             – iguais               – iguai(s)zinhos             =  iguaizinhos
– caracol         – caracóis            – caracoi(s)zinhos        = caracoizinhos 
– carretel        – carretéis            – carretei(s)zinhos        = carreteizinhos
– pão              – pães                  – pãe(s)zinhos              = pãezinhos
– mãe             – mães                 – mãe(s)zinhas             = mãezinhas
– coração       – corações           – coraçõe(s)zinhos        =  coraçõezinhos
– colher          – colheres            – colhere(s)zinhas         =  colherezinhas



Contudo, com os substantivos terminados em R ou Z pode-se fugir à regra, eliminando-se o e intermediário. É mais comum falar e escrever assim:



As colherzinhas são de plástico.



O buquê foi feito com botões de rosa e outras florzinhas brancas. 



Instalaram uma porção de barzinhos à beira da praia.



Que rapazinhos educados!



Essas palavras também podem ter a formação usual, naturalmente: dorzinhas ou dorezinhas; amorzinhos ou amorezinhos; mulherzinhas ou mulherezinhas.



QUANDO DE = DURANTE, NA OCASIÃO DE



Sandra R. Martins, de Florianópolis/SC, quer saber se é lícito usar “O chefe pediu que todos os funcionários estivessem presentes quando da apresentação do relatório final”.



É válida a locução, embora se considere um galicismo. Os estudiosos acreditam que seja uma má adaptação do francês “lors de”, que quer dizer “no tempo de, quando”, e sua origem remonta ao século XVIII. Então, em vez de “quando foi a invasão francesa” começou-se a dizer “quando foi da invasão francesa” e depois, abreviadamente, “quando da invasão francesa”.



Mesmo que os puristas possam considerá-la “construção incorreta”, ela tem tradição na língua. O uso da preposição (junto com "foi") encontra-se nos clássicos: “Aristóteles mal teria a barba russa quando foi daquele seu último namoro” (A. Garret); “[...] quando foi do terremoto” (Camilo).


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

PRONOME RELATIVO: CUJO (A)

Antigamente chegou-se a usar o atual pronome relativo cujo como pronome interrogativo, por herança de um adjetivo "cujus, a um" que existia no latim arcaico: Cujas sõ estas coroas tã esplandecentes? Ou Cujo filho és? A "tradução": De quem és filho? De quem são estas coroas?


O BCCCV esclarece:

No português moderno, cujo é pronome relativo que se emprega em sentido possessivo. Vale por de quem ou de quedo qual. É imediatamente seguido de um substantivo ou palavra substantiva, com quem deve concordar flexionando no feminino (cuja) e no plural (cujos e cujas). Sendo pronome relativo, ele se reporta a um substantivo mencionado anteriormente, ou seja, indica uma posse de alguém ou de algo referido antes:


1. Sofrem as mães cujos filhos vão à guerra.
2. O problema cuja solução buscamos não é exclusivo da nossa época.
3. Dias depois conheceu Orfeucujo irmão havia sido seu companheiro de batalhas.
4. Por indicação do professor, leram dez livros no semestre, cujos autores são considerados pós-modernos.
5. Os astronautas estudaram o volume dos oceanoscuja poluição pode interferir no equilíbrio ecológico do planeta.
6. Quando chegamos àquelas terras, o primeiro impacto visual foi dado pelos imensos campos cultivados, cujo amarelo intenso inspirou a imaginação do pintor Van Gogh.


Você pode conferir o entendimento e uso correto do pronome nessas frases fazendo uma leitura de trás para frente: trata-se de 1) os filhos das mães; 2) a solução do problema; 3) o irmão de Orfeu; 4) ou autores dos 10 livros; 5) a poluição dos oceanos e 6) o amarelo dos campos cultivados.


Esquematizando:


- o pronome cujo deve ter  um antecedente e um consequente, ambos substantivos e um diferente do outro;

- deve concordar em gênero e número com o substantivo consequente;

- não admite artigo após si – *cujos os filhos* – pois esse pronome já contém em si o artigo definido.


ERROS POSSÍVEIS MAS EVITÁVEIS


Errado: Gostei do CD cujo me emprestaste. [não tem consequente, ou seja, não tem substantivo depois]
Certo: Gostei do CD que me emprestaste.


Errado: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, cujo livro me encantou.
             [O consequente é repetição do antecedente]
Certo: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, que/o qual me encantou.
Ou: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, cujo enredo me encantou.


Errado: Saiu nova edição da revista Cultura, cuja a tiragem é de mil exemplares.
             [ocorrência proibida: o artigo definido o, a, os, as junto com o pronome]
Certo: Saiu nova edição da revista Cultura, cuja tiragem é de mil exemplares.


Errado pela norma-padrão: Tenho um amigo que o pai dele é general.
Certo: Tenho um amigo cujo pai é general.


CUIDADO ESPECIAL


Observar sempre o uso adequado da preposição antes do pronome relativo, conforme tratado na coluna Não Tropece na Língua 9:


Este é o romance a cujo autor me refiro.

Votaremos no candidato com cujas ideias concordamos.

Fomos a Jerusalém, de cujas colinas tiramos belas fotos.

Os consumidores recebem botijões por cuja segurança as empresas de gás devem se responsabilizar.


Enfim, é pela sofisticação do seu emprego que o pronome cujo é praticamente uma exclusividade da linguagem culta escrita. Mas vale a pena aprender a bem usá-lo.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sábado, 15 de dezembro de 2018

RAPIDINHA de português: 20 ERROS COMUNS NA PRONÚNCIA:

Existem diversas palavras na Língua Portuguesa que, por diversos motivos, são pronunciadas de forma errada pela maioria dos falantes. Mesmo que você não cometa esses erros, com certeza conhece muitas pessoas os cometem e acaba ouvindo esses erros com muita frequência.

"Asterístico" 

A forma correta é asterisco. Indica um sinal gráfico em forma de estrela (*).
  • O asterisco indica que há uma nota de rodapé.
  • Utiliza um asterisco para fazer a citação.

O BCCCV esclarece:

"Bicabornato" 

A forma correta é bicarbonato. Indica o sal derivado do ácido carbônico.
  • Tenho que comprar bicarbonato de sódio porque já acabou.
  • Esse bolo é feito com bicarbonato de sódio?

"Toráxico"

A forma correta é torácico. Refere-se a alguma coisa relacionada com o tórax.
  • A caixa torácica protege os pulmões e o coração.
  • O paciente sofreu uma distensão dos nervos torácicos.

"Supérfulo"

A forma correta é supérfluo. Refere-se a alguma coisa que é dispensável e desnecessária.
  • Sou contra a compra desse material porque parece ser um gasto supérfluo.
  • Por favor, retire do comunicado toda a informação supérflua.

"Beneficiente"

A forma correta é beneficente. Indica algo ou alguém que faz caridade e ajuda os mais necessitados.
  • Minha avó está organizando um jantar beneficente.
  • Os lucros do concerto beneficente reverterão para ajudar os refugiados.

"Metereologia" 

A forma correta é meteorologia. Indica o estudo dos fenômenos atmosféricos, visando a previsão do tempo.
  • A meteorologia prevê dias de sol e calor.
  • Todos os dias eu consulto sites de meteorologia.

"Previlégio"

A forma correta é privilégio. Refere-se a uma vantagem ou direito concedido a apenas algumas pessoas.
  • Você nem reconhece os privilégios que tem.
  • O acesso a uma boa educação é um privilégio, mas deveria ser um direito de todos. 

"Losângulo" 

A forma correta é losango. Refere-se a um quadrilátero com dois ângulos agudos, dois obtusos e os lados iguais.
  • A praça tem o formato de um losango.
  • Qual a diferença entre o losango e o quadrado?

"Triologia"

A forma correta é trilogia. Indica o conjunto de três obras sequenciais que se complementam.
  • Minha trilogia preferida é "O Senhor do Anéis."
  • Nunca vi o último filme dessa trilogia.

"Reinvindicar"

A forma correta é reivindicar. Indica o ato de exigir alguma coisa e de assumir algo.
  • Iremos reivindicar nossos direitos até sermos ouvidos.
  • Ainda ninguém reivindicou a autoria dos atentados.

"Poliomelite"

A forma correta é poliomielite. Refere-se a uma doença infecciosa que causa o enfraquecimento e a paralisia de alguns músculos.
  • Meu filho foi vacinado contra a poliomielite.
  • Febre, cansaço e vômitos são sintomas da poliomielite.

"Conhecidência"

A forma correta é coincidência. Refere-se ao acontecimento casual de várias situações relacionadas.
  • Você aqui também? Que coincidência!
  • O que aconteceu foi uma mera coincidência.

"Compania"

A forma correta é companhia. Indica o ato de ser acompanhante ou de acompanhar alguém. 
  • Você é sempre uma boa companhia.
  • Se você não quiser minha companhia, é só dizer!

"Célebro" 

A forma correta é cérebro. Indica o principal órgão do sistema nervoso central dos animais.
  • O cérebro humano deve ser frequentemente exercitado.
  • O cirurgião retirou um tumor do cérebro do paciente.

"Entertido"  

A forma correta é entretido. Refere-se ao estado de quem está distraído ou absorto em alguma coisa.
  • Meu filho está entretido com seus brinquedos.
  • Estava tão entretido que nem notei que você foi embora.

"Madastra"

A forma correta é madrasta. Refere-se à mulher do pai de uma pessoa, sem ser a sua mãe.
  • A minha personagem da peça será a madrasta da Branca de Neve.
  • Vocês já conhecem a minha madrasta?

"Milhonário"

A forma correta é milionário. Indica uma pessoa extremamente rica, que possui milhões em dinheiro, ações, títulos,...
  • Quem me dera ser milionário!
  • Ele é um dos principais milionários do Brasil.

"Intrevista"

A forma correta é entrevista. Indica um diálogo ou encontro entre várias pessoas, com diferentes propósitos.
  • Amanhã irei a uma entrevista de emprego.
  • Já terminou a entrevista com o Presidente da República.

"Degladiar"

A forma correta é digladiar. Refere-se ao ato de combater corpo a corpo com espada ou ao ato de discutir.
  • Os lutadores vão digladiar na arena.
  • Os competidores começaram a digladiar sem motivo nenhum.

"Impecilho" 

A forma correta é empecilho. Refere-se a qualquer tipo de obstáculo ou impedimento.
  • Não quero ser um empecilho na sua vida!
  • Está tudo bem, não tivemos que lidar com nenhum empecilho.

Além das palavras acima apresentadas, existem muitas outras palavras pronunciadas de forma errada pelos falantes, como:
  • poblema ou pobrema (correto: problema);
  • cabelelero (correto: cabeleireiro);
  • cocrante (correto: crocante);
  • mindingo (correto: mendigo);
  • imbigo  (correto: umbigo);
  • priguiça (correto: preguiça);
  • trabisseiro (correto: travesseiro);
  • frustado (correto: frustrado);
  • pertubar (correto: perturbar);
  • padastro (correto: padrasto);
  • estrupo (correto: estupro, no entanto existe a forma antiga estrupo, que quer dizer grande barulho);
  • sombrancelha (correto: sobrancelha);
  • mortandela (correto: mortadela);
  • iorgute (correto: iogurte);
  • cardaço (correto: cadarço);
  • largata (correto: lagarta) etc.

MAUS-TRATOS ou MAUS TRATOS?

forma correta de escrita da palavra é maus-tratos, com hífen. Maus-tratos é um substantivo composto masculino e plural e se refere a qualquer tipo de ação, comportamento e atitude que prejudique a integridade física ou mental de alguém, como punições físicas, trabalho forçado, negligência, ausência de cuidados, entre outros, sendo sinônimo de crueldade, desumanidade; judiação, malvadeza, negligência e descuido. É uma palavra muito usada no âmbito jurídico. 

O BCCCV engradece:

Exemplos:
  • Esta instituição apoia vítimas de maus-tratos.
  • Conseguiu fugir do cativeiro, após dez anos de maus-tratos.
  • Eu denuncio todas as formas de maus-tratos aos animais.
O substantivo maus-tratos é formado a partir de composição por justaposição, ou seja, dois vocábulos que se unem numa só palavra, sem que haja alteração desses elementos formadores: maus + tratos = maus-tratos. É sempre utilizado no plural, não existindo sua forma no singular.
Atenção!
O substantivo maus-tratos não deverá ser confundido com a palavra maltrato. Embora alguns dicionários já comecem a reconhecer a palavra maltrato como um substantivo masculino, esta ainda não se encontra amplamente reconhecida nos principais dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras. Assim, a palavra maltrato deve ser utilizada apenas como uma forma conjugada do verbo maltratar.

Exemplo:
  • Eu sou contra qualquer tipo de maus-tratos, por isso não maltrato ninguém.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

COLOCAÇÃO PRONOMINAL e VÍRGULA (3)

Perguntaram-me se “não se pode colocar pronome átono depois da vírgula”. O que posso afirmar é que a vírgula, por constituir uma pausa, predispõe à ênclise, mas não a obriga. É possível escrever como o escritor Luandino Vieira: “A sua prima Júlia, do Colungo, lhe mandou um cacho de bananas”, ou preferir a ênclise depois de um termo virgulado, como por exemplo um advérbio, que de outro modo atrairia o pronome:

Agora, reconheço-a

Aqui, como sempre, trabalha-se muito. 

Finalmente, dispôs-se a me ouvir. 

Por fim, peço-te perdão.
O BCCCV esclarece:



No entanto, se depois da vírgula houver um verbo numa das formas chamadas de futuro, que não toleram posposição de pronome oblíquo, deve-se deixar o pronome na frente do verbo:


Desconhecia as normas de uso e, por isso, as utilizaria sem distinção.  [em vez de  *utilizaria-as ou do complicado utilizá-las-ia].


Já na frase “Não demorou a definir um tipo de arte que, embora tenha ganho feições diferentes nos últimos anos, se manteve/ manteve-se fiel a uma visão transfiguradora do real”, tanto se pode usar a próclise porque o relativo que, embora distante, atrai o pronome, como se pode preferir a ênclise em razão da pausa marcada pela vírgula.


A propósito, gostaria de chamar a atenção das pessoas que gostam de usar a ênclise, sobretudo com as locuções verbais, em que teoricamente o pronome oblíquo pode ocupar quatro posições: tomem cuidado quando antes da locução aparece um que, quem, quando ou outro termo que atraia o pronome. Aí a ênclise passa a ser erro, pois o que prepondera é a palavra atrativa. Escreva, então:


- em vez de A briga *que foi-se* armando: briga que se foi armando/ que foi se armando /que foi armando-se

- em vez de Espero *que deixes-me* ser eu mesmo: que me deixes ser eu mesmo

- em vez de Não sei *quando vou-te* encontrar: quando vou te encontrar/ quando vou encontrar-tequando te vou encontrar

- em vez de Já disse *que pretendo-lhe* pagar logo: que pretendo lhe pagarque pretendo pagar-lheque lhe pretendo pagar...


Para finalizar, relembremos um relato de Sebastião Nery, publicado na Folha de S. Paulo em 18.2.81 e posteriormente transcrito por Celso Luft no jornal Correio do Povo:


          O deputado Teixeira Coelho, do Maranhão, fiel ao purismo linguístico de São Luís, a Atenas brasileira (que depois do Sarney virou a apenas brasileira), ficou indignado:
               – Deputado Flores da Cunha, V. Exa. não pode estar nesta Casa, onde se deve primar pela pureza da língua, a cometer esses deslizes de pronome fora do lugar, começando os períodos.
               – Isso é coisa de importância menor, deputado. O principal é a ideia.
               – Desculpe, Exa., mas não é. Lá em São Luís não admitimos isso em estudante de ginásio.
          Flores da Cunha deu uma baforada, olhou lá de cima com total desprezo:
               – Senhor deputado, lá no Rio Grande a gramática é livre, como livre são os pampas e o minuano, como é livre o gaúcho.
               – Mas não está dispensado de respeitar a língua.
               – Ora, deputado, quem é V. Exa. para corrigir minha linguagem?
               – Sou um deputado, como V. Exa.
               – Mas sem autoridade nenhuma para falar de pronomes. V. Exa. é o próprio pronome mal colocado. V. Exa. é um pronome errado.
               – Não entendi, deputado.
               – Olhe sua carteira de identidade. V. Exa. é "Teixeira" Coelho. Em nome do purismo da língua deveria chamar-se "Xeira-te" Coelho.
          O Teixeira calou.


Sobre o assunto "colocação pronominal", ver também as colunas Não Tropece na Língua 201 a 203.  


Maria Tereza de Queiroz Piacentini