quinta-feira, 24 de abril de 2014

AFRO-BRASILEIRO e AFRODESCENDENTES - formação das palavras compostas


Afro-brasileiro é hifenizado porque se trata de um adjetivo pátrio composto, isto é,
um adjetivo formado de elementos designativos de duas ou três nacionalidades diferentes. 
No caso, temos os adjetivos africano + brasileiro = afro-brasileiro. Os adjetivos pátrios
são também chamados gentílicos ou étnicos quando designam raça ou região de origem,
como asiático e saxão, por exemplo.

Normalmente, na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento adquire uma forma
reduzida derivada da origem erudita da palavra. E, de acordo com a regra de flexão dos
adjetivos compostos, só o último elemento varia. Vejamos alguns exemplos:

. africano + americano  = A dança com batuque é de tradição afro-americana.

. alemão + brasileiro = Em Santa Catarina é forte a integração teuto-brasileira.

. grego + romano = Estudar a antiguidade greco-romana é fascinante.

. italiano + alemão + japonês = A guerra eclodiu por conta de um acordo ítalo-teuto-nipônico.

. inglês + americano = Há muito tempo frequento o instituto anglo-americano.

. espanhol + americano = A literatura hispano-americana é muito rica.

. europeu + africano = As relações diplomáticas euro-africanas estão mais estreitas.

. português + brasileiro = Não se deve descuidar dos interesses luso-brasileiros.

. chinês + brasileiro = O comércio sino-brasileiro aumentou depois da visita do primeiro-ministro
chinês ao Brasil.

. japonês + brasileiro = Assinaram um protocolo visando a um intercâmbio cultural nipo-brasileiro.

. finlandês + brasileiro = Na distante Finlândia vivem alguns casais fino-brasileiros.

. indiano + europeu = As línguas indo-europeias fizeram parte do nosso estudo.

. chinês + russo = Os montes Urais, na fronteira sino-russa, constituem uma barreira natural entre a China e a Rússia.

. austríaco + húngaro = Durante o império austro-húngaro, Viena teve uma vida cultural e econômica muito expressiva.

. romano + alemão = No Brasil temos uma tradição jurídica romano-germânica.

Já a palavra afrodescendente é um substantivo. Não se trata do “afro” forma reduzida do adjetivo
“africano” anteposto a outro adjetivo, como no caso anterior, mas da redução ou dedução do
substantivo “africano” utilizada como elemento de composição,  caso em que não se usa o hífen
(equivale aos elementos prefixados da Tabela II, “Só Palavras Compostas”): 

Então os pobres e desvalidos afrodescendentes, que haviam sido alforriados e
abandonados, foram expulsos para a periferia das cidades.

Outros dois casos de composição semelhante ocorrem nos novos termos tecnocultura (cultura das
tecnologias) einfovias (vias de informação), por exemplo.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini







sábado, 19 de abril de 2014

GRAFIA: pentacampeão OU penta campeão OU penta-campeão?

PENTACAMPEÃO, PENTA CAMPEÃO, PENTA-CAMPEÃO?!?

Por que não se pode escrever pentacampeão separadamente (penta campeão)
ou com hífen (penta-campeão)? – pergunta um torcedor-leitor do Rio de Janeiro.

Porque se convencionou que os prefixos e elementos de composição de substantivos
e adjetivos devem ser escritos junto com a palavra-base, sem hífen,
com as exceções estipuladas no Acordo Ortográfico de 2009.
Entre eles figuram os prefixos que dizem respeito a números: bi, tri, tetra, penta, hexa, hepta etc.
Assim sendo, sempre escrevemos: hexacampeão, pentacampeonato, pentacapsular, tetravô, trilegal,
bifocal, bianual.

É preciso observar que, quando esses prefixos ou pseudoprefixos se antepõem a palavras iniciadas
por r ou s, essas duas letras devem ser dobradas para que se informe a leitura correta: bissexual,
trissulco, trirretângulo, pentassílabo.
LUCINÉA WERTZ/BCCCV-2014
















HEXA - como pronunciar?!?

Desde 2002, quando o Brasil se sagrou pentacampeão, temos a preocupação
com o próximo campeonato mundial de futebol: seremos hexa
Em decorrência disso, surgiu o questionamento sobre a pronúncia deste termo,
visto que há divergências entre os dicionaristas. Bom, se divergem é porque
existem duas práticas correntes – isso é fato incontestável.
Dicionários mais antigos se pautam pela pronúncia original do grego e
informam que o correto é falar como se houvesse o fonema /k/ ali no meio,
que o Aurélio registra como /cs/. O Houaiss, mais recente, diz que a letra X
deve ser pronunciada como /z/ simplesmente.

O que de fato ocorreu foi uma simplificação do som original, um certo comodismo
de nossa parte, que nos levou a falar he/z/agonal, he/z/ágono, he/z/asperma, por
exemplo, em vez de he/kz/agonal, he/kz/ágono e he/kz/asperma.

Só que ao nos depararmos com a palavra reduzida – hexa – voltamos à pronúncia
original (he/ks/a), até porque a opção com /z/ soaria falso e quase incompreensível.
Imaginemos como seria engraçado alguém responder “ÉZA” a um repórter que lhe
perguntasse: “Na próxima Copa o Brasil poderá ser o quê?” – “Hexa!”

Enfim: imagino que o povo todo vai falar estas três palavras como sugere o dic. Aurélio,
com o som de k+s: hexa, hexacampeão, hexacampeonato. Nas demais – sempre palavras
eruditas, como hexagrama, hexaciclo, hexaedro – só o tempo dirá qual pronúncia vai se firmar:
por ora, valem as duas. Aliás, não é monopólio do português essa ocorrência de dupla
pronúncia dentro de um mesmo país. Nos Estados Unidos, para dar um exemplo, em relação
often e route tanto se pode ouvir /ófen/ quanto /óften/ ou /raut/ e /rut/.

E há também as palavras cuja pronúncia muda com o tempo. Lembro-me que nos anos 70,
quando a acerola foi trazida das Antilhas para o Brasil, era fechado o som do o /acerôla/,
como no espanhol. À medida que a frutinha foi sendo popularizada, ela passou a ser chamada
de /aceróla/, pela nossa tendência a pronunciar o ó aberto.

Por oportuno, repito aqui : Muitas palavras que hoje pronunciamos de um jeito foram
pronunciadas de outro modo séculos e anos atrás.
Basta ver o caso de senhora, que já foi “senhôra” no Brasil.



BCCCV INFORMA:


FORMAÇÃO DE PALAVRAS: pós, pré pró

Gostaria de saber quais as regras para formação de palavras com expressões
“pré”, “ante” ou “pós”. 
Quando se acrescenta hífen ou ocorre aglutinação (como preexistente, em oposição a pós-graduação)?
 E. B., São Paulo/SP.

Vamos acrescentar o prefixo pro/pró, que se encaixa na mesma orientação.

I - Quando tônicos, pós, pré e pró grafam-se separados da palavra seguinte:

O sistema de refeição-convênio surgiu na Europa durante o período de fome e 
reconstrução do pós-guerra.

Ficam proibidas novas admissões em período pré-eleitoral.

Pré-datar cheques é prática comum em todo o Brasil.

O Estado subsidia um programa pró-criança de aleitamento materno e creches.

pós-graduação nessa área perdeu o status e o charme que tinha.
 
II - Quando átonos (sons ê e ô fechados), pos, pre pro associam-se ao radical:

Vive a pospor suas decisões, principalmente as de cunho pessoal.

Predizer catástrofes é uma de suas especialidades.

No Brasil, a época de procriação das aves silvestres vai de setembro a fevereiro.

Entretanto, a regra não é de todo confiável, pois foram oficialmente registradas palavras sem hífen
apesar de o prefixo ser pronunciado como tônico, com som aberto. Fiquemos atentos a cinco
vocábulos relativamente comuns:
preconceber, preexistir, preestabelecer, predefinir, predeterminar:

Toda sua tese foi elaborada com base em ideias preconcebidas.

As condições preexistentes não permitiram à diretoria recém-empossada tomar
novos rumos.

O ajuste foi aceito em vista do acordo preestabelecido.

Serão predefinidas as condições em que faremos as negociações.

Todos os passos estão sendo minuciosamente predeterminados.
 
Em suma, é mais seguro recorrer a um dicionário quando surgirem dúvidas.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 




Lucinéa Wertz/ advogada, professora e proprietária do BCCCV