terça-feira, 11 de junho de 2019

RAPIDINHA DE PORTUGUÊS: significado palavras


DE PÉ, CREDENCIAR, ASSUNÇÃO, SEÇÃO, ACERCA

> A pé, de pé, em pé
   Como estava a pé, pedi ao José uma carona. Ele aproveitou para me dizer que o nosso jogo de sábado está de pé. Acabei pegando um ônibus lotado e fiz em pé todo o trajeto. Acho que teria sido preferível vir a pé.


Estar a pé = estar sem carro, “desmotorizado”. Ir (vir, viajar etc.) a pé = deslocar-se sem qualquer tipo de veículo.


Estar / ficar de pé = continuar firme, subsistir, resistir, manter-se.


Estar em pé de pé: estar ereto sobre seus próprios pés, sem ser sentado ou deitado: Permaneci de pé / em pé a missa toda.
O #BCCCV ESCLARECE:



> A favor, em favor
   Os políticos evitam se posicionar a favor = em favor do aborto.


São expressões equivalentes, cujo uso varia muito em razão do antecedente: vento a favor, nem contra nem a favor; trabalhei em seu favor, fiz um pedido em favor do Tiago.


> Acreditados, credenciados
   Ele mostrou desenvoltura, assim como os outros jornalistas credenciados para cobrir o evento.

   Foi para os 1.000 jornalistas estrangeiros acreditados que o governo polonês reservou o melhor da festa.

   O Presidente recepcionou os embaixadores acreditados no País.


Um jornalista, um embaixador, um diplomata pode ser credenciado porque recebeu credenciais, ou acreditado porque recebeu poderes para representar a nação no exterior. O uso de acreditar nessa acepção parece restrito aos conhecedores do ramo. O verbo credenciar também tem o significado  de “ter habilidade, crédito, merecimento”: Suas qualidades o credenciam ao cargo a que aspira.


> Assunção, ascensão
   Desejamos transmitir nossos parabéns por sua assunção no cargo de prefeito desse próspero município.

   Dizem as más línguas que nada explica tão rápida ascensão na vida.


Assunção = ato de assumir; elevação a um cargo.
Ascensão = ato de ascender; subida.


> Cessão, seção, sessão
Agradecemos a cessão dos seus estúdios, onde esta gravação foi realizada.

Depois de passar pela seção de eletrodomésticos dirigiu-se à seção de esportes da mesma loja de departamentos.

Depois de uma cansativa sessão legislativa, só mesmo uma boa sessão de cinema.


Cessão, o ato de ceder/emprestar, tem por sinônimo cedência. Forma aparentada: concessão. Seção e secção são formas paralelas que significam divisão, parte de um todo, corte; subdivisão. O verbo é mais usado com duplo C: seccionar (= secionar) e também seccional (= secional). Sessão é reunião ou espaço de tempo em que dura certo tipo de evento ou trabalho.


> Acerca, há cerca de, a cerca de
  Os vizinhos saíram de casa há cerca de uma hora. Não devem demorar, pois só foram ao sítio, a cerca de 10 km daqui.

  Sempre tenho dúvidas acerca da sinceridade de suas palavras, principalmente quando repete que me ama “há cerca” de dez anos.


A locução cerca de significa “aproximadamente”. Na primeira frase, antecedida da forma verbal "há", tem o sentido de certo tempo transcorrido = faz mais ou menos uma hora. Na segunda, antecedida da preposição "a", marca distância aproximada. Já a grafia numa só palavra – acerca – quer dizer que se está usando a preposição "sobre".


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sábado, 8 de junho de 2019

PALAVRAS:: SIGNIFICADO E ESCRITA

> Despercebido, desapercebido
   Podes crer, amigo, que tuas atitudes esquisitas não me passam despercebidas.
   Foram acampar desapercebidos de fósforo.

Despercebido  = sem ser notado, não visto ou não ouvido, impercebido; desatento, distraído, desacautelado (o mesmo que "desapercebido", neste caso).
Desapercebido = desprovido, desguarnecido; desatento, desacautelado. 
O #BCCCV esclarece:

 
> Garçom, garção
   Deixamos 10% de gorjeta para o garçom / garção.

Adaptamos nossa escrita à pronúncia francesa e ficou mais bonito: garçom (plural: garçons). A forma garção existe mas é desusada no Brasil.

> Infligir, infringir
   Acho que se devem infligir penas maiores aos infratores reincidentes das normas de trânsito.
   Com essa atitude, os dois países infringiram várias regras de conduta internacional.

O infrator infringe (transgride, desrespeita). Infligir é aplicar ou cominar pena, castigo, repreensão etc.
 
> Iminente, eminente
   Visitaram a cidade, embora a soubessem ameaçada pela iminente erupção de um vulcão.
   Para defendê-lo, contratou um dos juristas mais eminentes do país.

Iminente = que ameaça acontecer breve, logo, de imediato. [para facilitar, associe esse i com o i de imediato ou de início: "que está para iniciar"]

Eminente = elevado, alto, que excede os outros; sublime.

> Inapto, inepto
   Apesar do treino intensivo proporcionado pela empresa, Paulinho foi considerado inapto para exercer as funções de digitador.
   Políticos ineptos não são uma raridade, infelizmente.

Inapto
 quer dizer “não apto, incapaz, inabilitado”. Inepto, além de “sem nenhuma aptidão”, tem ainda o significado de “bobo, tolo, idiota”. Portanto, ser chamado de inepto pode ser realmente ofensivo. Os substantivos respectivos são: inaptidão einépcia.

> Listradas, listadas
   Roupas listradas / listadas voltam à moda de vez em quando.

Listado é derivado de lista (relação, rol). Listrado é derivado de listra (linha, faixa, risco, traço). Na linguagem da moda, listrado comuta com listado. Mas não se pode fazer o contrário, pois uma coisa constante de um rol só pode ser listada.

> Laser, lazer
   Um sistema de computadores e raio laser guia a bomba a seu destino.
   A heterogeneidade dos grupos sociais se encontra na praia, o lugar-comum do lazer.

A palavra laser (pronuncia-se “lêiser”) formou-se com as iniciais de “light amplification by stimulated emission of radiation”, ou seja, amplificação de luz pelo estímulo da emissão de radiação; em outras palavras: emissão de luz concentrada. O português lazer é o nosso descanso, o ócio criativo.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

SOCIOECONÔMICO ou SÓCIO-ECONÔMICO?

PROBLEMÁTICAS DE HÍFEN OU NÃO:


Embora não haja mais discussão, pois o Acordo Ortográfico 2009 determina a grafia socieconômico, sociocultural, socioinstitucional, esta coluna permanece aqui pelo seu histórico.

--- O Manual de Redação da Folha de S. Paulo recomenda a grafia “socioeconômico” para a palavra composta “sócio-econômico”. Desejo saber qual a grafia correta. Márcio Antonio de Melo, Chapecó/SC.

O #BCCCV esclarece:



As duas grafias coexistem no Brasil. A forma inovada é sem hífen. A mais antiga é hifenizada, pois foi estabelecida de acordo com a regra de formação dos adjetivos compostos, em que o primeiro adjetivo fica na sua forma neutra (sem flexão de feminino ou plural), às vezes reduzida (infantil – infanto, literário – lítero, maxilar – maxilo, social – sócio), e os dois elementos se unem obrigatoriamente por hífen. É o caso, por exemplo, de político-financeiro, histórico-cultural, infanto-juvenil, técnico-administrativo, entre dezenas de outros.


A questão começa a ser controversa quando se verifica que “socio” – redução tanto de “social” quanto de “sociedade” – também entra na composição de substantivos, como sociolinguística, sociodrama, sociogenética, sociogeografia, socioeconomia. Aqui, então, sócio- é considerado um “elemento de composição”, como registram os dicionários. Desta forma, mais pelo aspecto visual do que lógico, começou-se a escrever igualmente num só bloco o adjetivo: sociogenético, sociolinguístico, socioeconômico, sociogeográfico, sociocultural, socioinstitucional, sociopolítico.


Essa evolução e a hesitação entre uma e outra grafia podem ser constatadas nos dados abaixo:


. Dicionário Aurélio 1986: apresenta sócio-econômico, sócio-político, sociocultural e sociolinguístico.

. Manual de Redação da Folha de S. Paulo 1987: sócio-econômico e sócio-cultural.

. Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo (Anexos) 1992: socioeconômico.

. Dicionário Aurélio 1999: sociobiológico, sociocultural, socioeconômico, sociolinguístico, sociopolítico e sociorreligioso.

. Dicionário Houaiss 2001: tudo sem hífen, inclusive socialpatriótico e socialdemocracia (!). Ali constam igualmente as variações socieconômico e socieconomia [sem O]. 


De fato, a grafia sem hífen é mais econômica. E considerar a redução de um adjetivo como elemento de composição não é fato novo nem raro. Veja-se agro, cardio, eletro, gastro e termo, que formam vocábulos como agroindustrial, agrosserviço, cardiorrespiratório, eletrotécnico, eletroeletrônica, termodifusão, termoestável.


De outra parte, o dicionário Houaiss, nos verbetes soci(o), não traz nenhum adjetivo formado por três elementos, como em “atividades sócio-político-culturais, medidas político-econômico-sociais”. Quem prefere a composição sem hífen deveria, nesses casos, escrever: atividades sociopoliticoculturais, medidas politicoeconomicossociais. Só que a coerência aí levaria à grafia de nomes um tanto estranhos e mais difíceis de entender.


No tocante a palavras iniciadas com h, é de lei (2009) o registro com hífen: ”Enquanto as ideologias seriam puras projeções que não têm efeito transformador no mundo sócio-histórico, as utopias seriam ideias passíveis de concretização, até certo ponto e em seu tempo, neste mundo” (J. R. Thompson).


Maria Tereza de Queiroz Piacentini