sábado, 28 de dezembro de 2019

SUBSTANTIVOS e ADJETIVOS: FLEXÃO

Voltam à baila os compostos com o prefixo SEM, de que começamos a falar na coluna Não Tropece na Língua 89 (“sem-terra invadiram”). Pedem-me que esclareça, com mais exemplos, as duas maneiras como esse tipo de vocábulo é tratado na língua portuguesa. Desconheço qualquer regra formalmente estabelecida nos livros, mas tento formalizar uma distinção pelo que aprendi com Celso Luft e pelo pouco que encontrei em cada dicionário.

O #BCCCV esclarece:



I - NÃO flexionam em gênero e número os substantivos e adjetivos formados com o prefixo sem que dizem respeito a pessoas, isto é, em que na frase está implícito ou explícito um substantivo como “indivíduo, homens, mulheres, agricultor(es) etc.” São termos comuns nos meios de comunicação. Seguem exemplos de todos aqueles já dicionarizados:

Os trabalhadores sem-terra querem seu quinhão.

Todos os sem-pão estão subnutridos.

A maioria dos sem-dinheiro declinou do emprego.

Não há esperança para os sem-luz.

Esperamos que os sem-lar superem suas dificuldades.

Os sem-teto acamparam em frente ao palácio.

O ministro fez promessas aos sem-trabalho.

As sem-família votaram contra.

Muitos modelos sem-nome se transformam em atores sem-sal.

Que gente sem-vergonha! São sem-palavra!

O pior de tudo é ser sem-amor.

II – Podem ser variáveis os substantivos e adjetivos que se referem a atos e fatos. Ou seja: alguns flexionam no plural, outros não; quanto a gênero, há variedade de casos. A maioria é de uso raro – deixo, por isso, de dar exemplos em orações; apenas anoto o significado ao lado.

NÃO têm plural:

Sem-número [quantidade indeterminada]
Sem-par [ímpar, sem igual] – “dificuldades sem-par”
Sem-pudor
Sem-pulo
Sem-ventura

TÊM plural:

Sem-cerimônia [informalidade, falta de modos]
Sem-cerimonioso [mal-educado]
Sem-fim [vastidão] – “nos sem-fins das chapadas”
Sem-gracice
Sem-justiça [injustiça, ato injusto]
Sem-razão [desarrazoado, desrazão, injúria]
Sem-segundo [único, singular]
Sem-termo [vastidão]
Sem-vergonhice ou sem-vergonhismo [mau-caratismo]

Obviamente há certas incoerências (não me culpem por elas!) que tornam o assunto espinhoso. Para finalizar, um exemplo que corrobora esse comportamento diverso entre pessoas e fatos. O substantivo “sem-justiça” [Não me conformo com tantas sem-justiças] ficaria invariável se se referisse às pessoas desamparadas pela Justiça: “Os sem-justiça do Nordeste estão pensando em reclamar ao bispo”.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

PRESENTE DO SUBJUNTIVO:

--- Existe alguma regra que se refere ao uso do presente do subjuntivo que seja específica para orações subordinadas? Marion Pinto, Florianópolis/SC


A própria origem da palavra subjuntivo (do latim subjunctivus – que serve para ligar, para subordinar) indica sua função principal. O subjuntivo é por excelência o modo utilizado nas orações subordinadas que dependem de verbos cujo sentido esteja ligado à ideia de ordem, proibição, desejo, vontade, necessidade, condição e outras correlatas.


O #BCCCV esclarece:




O uso do subjuntivo implica, em qualquer caso, uma probabilidade, uma não-concretização – ainda – de alguma coisa. Observe duas frases com a mesma construção:



. Temos lideranças que contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. [o verbo da oração principal é TER, portanto já existem tais líderes, o que implica o uso do modo indicativo na oração subordinada]



. Queremos formar lideranças que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. [aqui estamos na fase de QUERER: ainda não temos esses líderes, daí o uso na oração subordinada do subjuntivo “contribuam”]



Exemplos de uso do PRESENTE do subjuntivo



Para exprimir ordem, proibição, desejo, vontade, súplica:



Deseja que eu volte logo.



Ordenou que paguemos a dívida.



Proibiu que os sócios bebam e implorou que eles trabalhem.



Ele sempre pede que o pessoal estude com afinco.



Nada impede que a integração se  e que alguns gerentes de unidades de conservação possam ser escolhidos.



Pretendemos desenvolver ações que incentivem a pesquisa e a implementação de práticas pedagógicas anti-racistas.



Vamos discutir ações e propostas que busquem alterar as desigualdades raciais.



Esperamos então que os guardas-parques que tanto queremos já possam estar uniformizados e trabalhando no próximo verão.



Para exprimir dúvida, receio, necessidade, condição, apreciação, aprovação, admiração:



Duvido que saibas



Não acredito que chores por isso.



Será melhor (ou pior) que não diga nada. 



Negou que tenha cometido o delito.



Lamentamos que nossos atendentes sejam relapsos.



É importante que todos percebam o real papel dos guardas-parques. Eles são os verdadeiros heróis da conservação das áreas protegidas e não é justo, nem bom para a natureza, que continuem sendo esquecidos



É preciso que se deixe de lado esta visão que nos aprisiona num passado de dor e não permite melhorar as condições de vida dos afrodescendentes.



O Estado deve definir políticas de inclusão que possibilitem às crianças condições de realizar seu percurso escolar até o ensino superior.



Temo que não mais se publiquem livros que provoquem o pensar.

Também usamos o presente do subjuntivo para referir fatos incertos com o advérbio talvez em períodos simples ou orações coordenadas:


Talvez eu assista ao jogo.
Talvez sejam contempladas, talvez sejam eliminadas.



Igualmente em frases imperativas:



Que sejas feliz.
(Que) Deus nos abençoe.
 Bons ventos o levem.
Cantemos a uma só voz...


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sábado, 21 de dezembro de 2019

VERBOS: transitivo e intransitivo



NAMORAR, CONDENAR, PRECISAR, LEMBRAR

--- O verbo namorar é intransitivo? Está correto eu dizer: José namora com Maria? G., Itajubá/MG
O #BCCCV esclarece:



A regência gramatical do verbo namorar é SEM a preposição, e é essa a exigida em alguns concursos. Em outros termos: de acordo com a norma-padrão, o verbo namorar é transitivo direto. Mas modernamente, por analogia e tendo por modelo casar com noivar com, também se usa o verbo namorar preposicionado (transitivo indireto). Portanto, ambas as regências devem ser aceitas como corretas:



José namorou muitas moças.



José namora com Maria.



Como intransitivo – isto é, sem complemento verbal – o verbo namorar pode ser utilizado no sentido de “andar de galanteios, ter namorado(a)”:



Maria namorou uma única vez na vida.



--- Sempre tive dúvida quanto à regência do verbo condenar. Ele pede a preposição em ou a? Assim, qual seria a construção correta: O juiz condenou-o AO ou NO pagamento de R$ 1.000,00? Gabriela S. de Souza, Florianópolis/SC



No sentido de “sentenciar, proferir sentença condenatória contra”, este verbo é transitivo direto (de pessoa) e indireto: condenar alguém a. Exemplos: O juiz o condenou ao pagamento de mil reais/ condenou-o à prisão perpétua / foi condenado a degredo / condenou a ré a dois anos de prisão / condenou-as ao cumprimento de pena compatível com o crime perpetrado.



A preposição em pode ser usada apenas com complemento de tempo especificado: O juiz condenou-o em 20 meses de prisão/ em nove anos de prisão. Se não mencionar número específico e em qualquer dos outros casos, portanto, empregue a preposição a.



--- Precisar é transitivo direto, indireto ou bitransitivo? Eu preciso dinheiro ou preciso de dinheiro? Preciso estudar ou preciso de estudar? Márcio da Silva Florencio, Joinville/SC



É tudo isso, Márcio. E todos os seus exemplos estão corretos. Contudo, o mais usual no Brasil contemporâneo é:



- usar a preposição quando o complemento verbal é um substantivo ou pronome:
Preciso de dinheiro. Preciso de você.



- omitir a preposição quando o complemento é um verbo no infinitivo:
Preciso ir. Precisamos sair já.



--- Tenho dúvidas acerca do uso do verbo lembrar. Sei que quando o verbo é transitivo direto, não cabe “lhe”, e sim “o”. Ex.: eu o conheço ao invés de eu lhe conheço. Mas na frase: Lembro-lhe que as precauções foram tomadas, devo colocar Lembro-o que as precauções foram tomadas? Carlos Augusto Albuquerque, São Paulo/SP



O verbo lembrar pode ter objeto direto de pessoa e indireto de coisa – você lembra alguém de alguma coisa: (1) Devo lembrá-lo de que todo cuidado é pouco.



E também pode ter objeto direto de coisa e indireto de pessoa (não necessariamente nessa ordem) – você lembra alguma coisa a alguém: (2) Devo lembrar-lhe que sua missão ainda não terminou.



Acontece que a preposição de pode ser omitida na frase (1), conforme ensina Celso Luft no seu Dicionário Prático de Regência Verbal: “A sequência lembrar-se de que... faculta a elipse da preposição: ‘Não se lembra a sogra que já foi nora’ (Prov.), i. é., ...de que já foi nora.” Então, é essa omissão da preposição que pode dar a falsa noção de dois objetos diretos na frase “Lembro-o que as precauções foram tomadas”, que apesar de tudo continua correta.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

MINDFULNESS :

Leitura recomendada: Mindfulness – o livro de colorir

Indivíduos podem se estressar por conta de problemas cotidianos, problemas pontuais ou quando são levados a muitas atividades e excesso de informação. Manter o foco e a concentração pode ser difícil, mas ajuda de forma pedagógica e cognitiva, e fazer com que as pessoas fiquem mais relaxadas e calmas. Por isso, a sugestão é o Mindfulness – o livro de colorir, de Emma Farrarons, que é indicado para jovens e adultos.

A prática de mindfulness nunca foi tão simples. Tudo o que precisa para relaxar está aqui: lápis e desenhos para colorir. Ansioso? Estressado? Faça uma pequena pausa. Neste livro vai encontrar uma série de desenhos criados pela artista plástica Emma Farrarons. As ilustrações foram concebidas para apelar à sua imaginação.
Quando os começar a pintar vai ver como é relaxante. É como fechar uma porta e deixar os problemas do lado de fora. Com você ficarão apenas os lápis e o prazer antigo de transformar uma folha a preto e branco num festival de cores. Enquanto isso, estará a dedicar a sua atenção plena (mindfulness) ao essencial: a sua mão que desenha. (E, claro, nada o impede de se juntar aos filhos, pois se há coisa a que não resistem, é ver um pai, ou uma mãe, entretidos a desenhar).
Este livro lindamente ilustrado está repleto de cenas belíssimas e padrões intrincados e sofisticados que o convidam a meditar sobre uma obra de arte enquanto serenamente preenche as páginas com cores. Basta tirar alguns minutos do dia — onde quer que se esteja — e colorir com paz e tranquilidade. Com este livro, o leitor acabará com a ansiedade e o estresse através do simples ato de colorir.
Fonte: Varejãodoestudante

POR QUE AS PESSOAS MENTEM?


Por que as pessoas mentem? Você já parou para pensar sobre isso? Os autores do livro respondem diretamente ao pedido dos leitores em busca de mais detalhes sobre como ler e usar a linguagem do corpo em benefício próprio.

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

LOCUÇÕES E/OU CONJUNÇÕES:

POSTO QUE, EIS QUE:

--- Qual o real significado da expressão “posto que”? É correto dizer “eis que”? Como exemplo: Ela não vai à escola eis que está doente. Alexandre Godoy, Campinas/SP

POSTO QUE é uma locução conjuntiva de valor concessivo e também, modernamente, de valor explicativo ou causal.
O #BCCCV esclarece:



Originalmente, posto que se enquadrava apenas nas conjunções concessivas, as quais dão a ideia de concessão [posto que = pondo-se (a concessão) que...]. Como tal, rege o subjuntivo e tem como “irmãs”: embora, ainda que, se bem que, conquanto, mesmo que.


Posto que seja fácil, sempre tenho dúvidas.  [Ainda que seja fácil]

O trabalho, posto que fosse árduo, acabou no prazo. [embora fosse árduo]

Aceitamos o acordo, posto que não agrade a todos.  [conquanto desagrade a todos]


Entretanto, vejamos outro tipo de frase relativamente comum, em que as orações introduzidas por “posto que” não traduzem a mesma ideia das concessivas acima:


Aceitamos o acordo posto que agrada a todos.

A denúncia foi julgada improcedente, posto que não havia prova da contravenção.


Observe que, diferentemente das concessivas, o verbo está no modo indicativo. Neste caso seu sentido é explicativo/causal:


Aceitamos o acordo, pois / já que / porque agrada a todos.

A denúncia foi julgada improcedente, visto que não havia prova da contravenção.


Se a conjunção não pudesse ser causal, como é que iríamos interpretar o Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes? Relembremos seus últimos versos:


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Não se pode precisar quando e por qual razão o posto que concessivo foi desembocar no posto que causal. Mas pode ter sido por influência castelhana: puesto que é explicativa/causal. Aliás, o mesmo fenômeno evolutivo aconteceu no espanhol, em cuja literatura clássica se encontra “puesto que” com valor concessivo.


B. EIS QUE é uma locução que originalmente tinha o sentido temporal, equivalente a quando e a eis senão quando:


Seguia o monge pelo caminho, meditando com a natureza, eis que um asno lhe interrompe a concentração e o andar.


Aconteceu com essa expressão um fenômeno semelhante a posto que: de temporal, eis que passou a causal, sobretudo nos meios forenses. O seu significado, neste caso, é igual a visto que, já que, uma vez que, porquanto:


Foi-lhe dado o direito de aduzir suas razões, eis que a ampla defesa é essencial à legitimidade do processo.

Mais uma vez ficou claro que há muitos palpiteiros no campo do Direito Desportivo, eis que o texto do art. 93 da LGSD, na redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.981/00, é de clareza irretorquível.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

PREPOSIÇÕES:

APÓS, (D)ENTRE, A/EM CORES, EM/COM RELAÇÃO A


-- Usava, indistintamente, após ou depois como sinônimos, e, mais tarde, fui advertido de que deveria dar preferência ao segundo. Poderia explicar-me as razões? Henrique Antunes, Recife/PE

Rigorosamente falando, há uma distinção entre os dois vocábulos:

▪ APÓS é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo.

▪ DEPOIS é advérbio – basicamente modificador do verbo: falaremos depois, vou depois.
O #BCCCV esclarece:


E temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você.

Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... Já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas certamente é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípiovamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado.

Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente:

Disse que não ia. Depois, disse sim.

--- Como diferenciar o uso de entre e dentre? Ângelo Gabriel Rozner, São Paulo/SP

Dentre é a combinação das preposições de + entre. Por consequência, você só vai usar dentre com verbos que exijam ao mesmo tempo as duas preposições, como sair, tirar, surgir, extrair e similares. Podemos nos certificar de que está correto o uso de dentre quando o substituímos por do meio de:

Ressurgiu dentre os mortos. [Ressurgiu de entre = do meio dos mortos.]

Tirou, dos fatos, as suas conclusões; dentre estas, tirou uma que doeu.

Pinçou, dentre os destroços, um pedaço de fotografia antiga.

No mais, use entre, principalmente com verbos transitivos diretos. Embora tenha outros significados, a preposição entre pode ser pensada aqui como equivalente a em meio a:

Citou, entre outros, Sabino e Veríssimo.

Entre tantas gravatas, comprou a mais cara.

Não distinguiu, entre os alunos, aquele que sempre tirava 10.

--- Qual o certo: TV a cores ou TV em cores e por quê? Adolpho, Belo Horizonte/MG

O correto pela norma-padrão é dizer televisão em cores, assim como se diz TV em preto e branco (e não *TV a preto e branco). Da mesma forma verifica-se, em situações similares, a preposição em:

O cartaz foi feito em várias cores.

Apareceram milhares de votos em branco.

As paredes serão pintadas em quatro tons mas em uma cor só.

Em quantas cores você quer o folheto?

Todavia, não se pode ignorar que a maioria das pessoas fala TV a cores, que devemos também aceitar, pois a preposição a costuma ser usada (sem críticas)  no lugar de em, de ou com em situações semelhantes: carro a gasolina, navio a vapor, andar a cavalo. Ver também “a domicílio” – Não Tropece na Língua 183.

--- Sempre tenho dúvida ao escrever o termo: em relação a/ com relação a. Maria da Assunção Pinto, Belo Horizonte/MG

As duas preposições iniciais – em ou com – podem ser corretamente usadas:

Nada ficou provado em relação a João ou aos negócios que ele tinha em Miami.

Com relação à documentação, verificar sua origem.

Para não ser repetitivo, anote outras locuções que podem ser utilizadas para expressar a mesma circunstância:

com referência ao assunto

com respeito ao documento

relativamente a isso

no tocante à lei

no que tange à administração

no que concerne ao tema tratado...

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

MAÍUSCULAS DE REALCE:

--- Gostaria de saber se os vocábulos juiz, juiz de direito, magistrado, juízo, relator devem ser sempre grafados com a primeira letra minúscula ou maiúscula, como nomes próprios. Ariane Kloth, Brasília/DF

O Formulário Ortográfico de 1943 não foi suficientemente explícito e claro nesta matéria. Em consequência, encontram-se muitas divergências na prática. Nos tribunais, revistas, jornais e repartições públicas podem ser encontrados procedimentos díspares, pois as normas oficiais dão margem a essa flexibilidade quando, em mais de uma ocasião, permitem o uso da inicial maiúscula:

- por “especial relevo” (caso de língua portuguesa, idioma, português);
- por “deferência, consideração, respeito”;
- quando “se queira realçar”; ou
- na designação de “alto conceito”, “altos cargos, dignidades ou postos”.

Para dar um exemplo, é nesse sentido que consta no art. 3º, § 1º, do Regimento Interno do TJSC: Ao Tribunal de Justiça e aos órgãos julgadores, além da denominação oficial, caberá o tratamento de “Egrégio”; aos seus membros caberá o título de “Desembargador” e o tratamento de “Excelência”. Em suma, sempre se pode justificar o uso da maiúscula pela ênfase ou destaque.
O #BCCCV esclarece:


O fato concreto é que todo esse relevo está caindo de moda. Maiúsculas demais poluem o texto, assim como os negritos e sublinhados, certamente. A opção atual dos jornais e revistas (e são eles que criam tendências) é pelo uso da menor quantidade de destaques possível. Eles só se servem das iniciais maiúsculas quando se referem efetivamente a nome próprio, razão por que ali encontramos: ministro do Planejamento, secretário da Saúde, juiz de direito, poder público, sociedade civil etc. Esses mesmos termos podem aparecer, em âmbito mais formal como o do Executivo ou do Judiciário, desta maneira: Ministro do Planejamento, Secretário da Saúde, juiz de Direito ou Juiz de Direito, Poder Público, Sociedade Civil.

Assim é que também as palavras magistrado, relator, prefeito, juízo, justiça, egrégio, douto, etc., podem ter inicial maiúscula. Mas pensando bem: quando digo “a douta Procuradoria-Geral de Justiça” já não estou dando suficiente distinção à Procuradoria ao chamá-la de “douta”? Para que, então, “a Douta Procuradoria”?

Enfim: mais modernidade – minúscula; mais formalidade, destaque, ênfase, deferência, realce – maiúscula. Isso quando se trata das palavras que não constituem nome próprio, individualizado, determinado, porque aí a regra é taxativa: “Emprega-se letra inicial maiúscula nos substantivos próprios de qualquer espécie”. Exemplos em que se observa esta diferença entre nome próprio, individualizado, e nome comum, indeterminado:

Protocolizou seu pedido no Tribunal. [de Justiça] / Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, o tribunal conhecerá dos demais.

Foi Vitória quem lançou as bases do Direito das Gentes, hoje denominado Direito Internacional. / A jurisdição visa garantir a eficácia do direito no seu sentido mais amplo – instrumento ético de realização dos interesses sociais.

Afirmou que ia buscar seus direitos na Justiça. [= no Poder Judiciário] / O anseio por justiça está tão profundamente enraizado no coração do homem justamente por exprimir um anseio indestrutível da própria felicidade subjetiva.

Parece que poucos atentaram para o que realmente foi criado com o Decreto-Lei 2.286/86. / O decreto-lei era editado pelo presidente da República quando havia urgência ou relevância que não permitia o trâmite normal do projeto de lei.

Ele agiu contra a lei, não se importando com a Lei Delegada nº 4, que prevê três espécies de pena.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

MAIÚSCULAS, ITENS E PONTUAÇÃO:

Professor da UFSC pede-me que esclareça a questão da pontuação e uso da maiúscula ou minúscula quando se faz uma exposição do assunto por itens, numerados ou não. E o economista Luís Cláudio, do Rio de Janeiro, pergunta: “Como se deve escrever início e fim de itens de texto?”

Maiúscula inicial, como sabemos, é para depois de ponto (final, de exclamação ou de interrogação). Depois de ponto e vírgula o que cabe é minúscula, mesmo quando há mudança de linha. Há opções, mas é preciso observar essa coerência. Sendo assim, vamos aos diversos modelos:


I – Depois dos dois-pontos, iniciar cada item com minúscula e acabar com ponto e vírgula, o que dá maior unidade aos itens. Ponto-final só no último item.
O #BCCCV esclarece:

 

Exemplo 1
Do ponto de vista sociológico são cinco os aspectos relevantes capazes de fundamentar a unidade e a homogeneidade do trabalho:


1. dependência da força de trabalho da atividade remunerada, logicamente que não proprietária;

2. submissão ao controle de relação das autoridades empresarialmente organizadas;

3. risco permanente de perda das oportunidades de trabalho por motivos subjetivos ou objetivos;

4. efeito unificador da existência e atuação de grandes entidades, como por exemplo os sindicatos;

5. autoconsciência do trabalho, que é visto como fonte de toda a riqueza e cultura.
 

Exemplo 2
Por maiores que tenham sido os esforços no sentido de superar as dificuldades apontadas, conclui-se que os problemas poderão persistir, pelos seguintes motivos:


a) a estrutura é substancialmente a mesma: o controle é do juiz togado;

b) a fase de admissibilidade é praticamente o mesmo rito sumário projetado;

c) o texto diz que “o juiz rejeitará a acusação”, como se isso eliminasse os vícios da impronúncia e da absolvição sumária.


Exemplo 3
Seguem etapas do sistema:


- cadastro do usuário;

- teste integrado;

- validação;

- divulgação para uso.


II – Iniciar cada item com maiúscula e terminar com ponto-final, o que estabelece uma distinção maior entre os temas focados. Também é possível deixar os itens sem ponto, à exceção do último, quando eles se apresentam como num quadro esquemático, sem compor uma oração (isto é, sem verbo).


Exemplo 4
O que precisa ser repensado no mercado imobiliário da locação e da administração de imóveis? Mencionemos alguns pontos:


1. Garantia locatícia. Por que não flexibilizar a lei, permitindo que as partes possam estabelecer livremente o número de aluguéis que o locatário pode dar em caução, sem limitá-lo a três meses?

2. Moradia própria. Desmistificar o conceito de que somente a casa própria é digna de apoio da lei.

3. Menos encargos. As taxas de condomínio e outros encargos da locação representam hoje mais de 50% do valor do aluguel, o que vem inviabilizando a locação de muitos imóveis.

4. Acerto final. Estimular o locatário a conservar o imóvel como se seu fosse. O bom inquilino tem que ser premiado de alguma forma.


Exemplo 5
Já em 1972 ficou estabelecida a ordem de precedência em cerimônias de caráter estadual, onde se verifica esta sequência:


1) Reitores das universidades federais junto com o prefeito da cidade anfitriã

2) Secretários de Estado

3) Reitores de universidades estaduais e particulares

4) Membros de conselhos federais (Educação, Cultura, Ciência etc.).


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

NEM UM ou NENHUM?


Diferenças linguísticas:
O #BCCCV esclarece:

Nem um, expressão formada pela conjunção nem e pelo numeral um, equivale a nem um sequer ou nem um só (ou nem um único). Tem sentido quantitativo quando empregado em frases como estas:
Nem um colega da escola veio na minha festa.
Eu não ganhei nem um brinquedo!
Nem um outro amigo é mais legal do que você!

Nenhum: é um pronome indefinido variável, pois admite flexão de gênero e número (nenhuma, nenhumas, *nenhuns). Equivale a algum, sendo sua forma negativa. Veja os exemplos:
Nenhuma casa resistiu ao tornado.
Nenhuma pessoa compareceu no lançamento do livro.
Dinheiro nenhum é capaz de comprar a felicidade.

Regra básica: pronome indefinido nenhum pode ser trocado por outro equivalente: algum. Nem um, expressão formada pela conjunção nem seguida pelo numeral um, pode ser substituído por nem um sequer ou nem um só. Se você ficar na dúvida, basta seguir a dica. 

*Nenhuns:
Achou estranho, não é mesmo? Pois saiba que o plural do pronome  indefinido nenhum existe, apesar de ser pouco utilizado. Ele deve ser empregado quando o nenhum estiver antes de um substantivo no plural, concordando assim com esse termo. Veja só como ele pode aparecer em uma frase:
Não conheço nenhuns restaurantes nessa região.
Simples era a mobília, nenhuns adornos, uma estante de jacarandá, com livros grossos in-quarto e in-fólio; uma secretária, duas cadeiras de repouso e pouco mais” . (Machado de Assis, Helena).

Atenção!
Existem situações em que as duas expressões podem ser empregadas sem que haja prejuízo para a comunicação nos textos escritos. Isso acontece porque o pronome indefinido nenhum é resultado da aglutinação da conjunção nem com o numeral um. Veja alguns exemplos:
Nenhum aluno reclamou da avaliação de matemática.
ou
Nem um aluno reclamou da avaliação de matemática.

Por Luana Castro
Escola Kids