sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

MAIÚSCULA EM NOMES COMPOSTOS:

 Oswaldo Onofre, de Recife/PE, solicita orientação para o dilema das iniciais maiúsculas em palavras compostas do tipo Pró-Reitoria (ou Pró-reitoria?). E Márcio S. Fontes, de Florianópolis/SC, pergunta se deve escrever Decreto-lei ou Decreto-Lei.


Como já disse outras vezes, o emprego das iniciais maiúsculas não ficou claro no Formulário ortográfico de 1943 (oficial). Não se tratou ali (e tampouco no Acordo Ortográfico 2009) das iniciais em nomes compostos. O que tem servido de guia para os gramáticos é o exemplo de Capitão-de-Mar-e-Guerra, que aparece na Observação do item 14° e que faz supor devam todos os elementos de um nome próprio iniciar com caixa-alta. Lá no 12°, porém, na exemplificação de documentos oficiais, consta: “A lei de 13 de maio, o Decreto-lei nº 292, o Decreto nº 20.108 [...]”, ao que Celso Luft objeta em nota de rodapé no seu Grande Manual de Ortografia Globo (1985:260): “Nas composições hifenizadas, os elementos gozam de independência gráfica: Decreto-Lei, com L maiúsculo”.

O #BCCCV esclarece:



O bom senso nos leva à seguinte orientação: usar todas as iniciais maiúsculas quando a palavra composta faz parte de um nome próprio, qual seja, título de obra, nome de repartição, escola, instituição, cargo ou evento, datas ou fatos históricos. Vejamos alguns exemplos:


Marcaram entrevista com o professor doutor Ari na Pró-Reitoria de Ensino e Pesquisa.

A homenagem foi feita pela Organização Pan-Americana de Saúde, braço da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Representantes de governo e do setor agropecuário reuniram-se em Santiago do Chile para a 30ª Reunião da Comissão Sul-Americana de Luta Contra a Febre Aftosa.

Soros virou o único beneficiário daquilo que os ingleses chamaram de Quarta-Feira Negra.

Como periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina, a Revista Linhas procura disseminar conhecimento consistente e socialmente relevante.


Quando é que se pode ver, então, a segunda palavra desses compostos em inicial minúscula? Quando não fazem parte de um nome próprio e a primeira palavra tem de ser forçosamente grafada com maiúscula, caso do início de frase:
 

Couve-flor faz bem à saúde.

Pós-graduação agora? Nem pensar.

Quarta-feira estaremos aí.

Sul-americanos são discriminados na fronteira.


E o decreto-lei, como é que fica? A gosto do redator: se considerar que o pessoal de 1943 cometeu um engano (entre os vários detectados) nas suas instruções, e além disso acha mais estético seguir o padrão acima explicitado, escreverá Decreto-Lei. Se entender que aí não se trata exatamente de um “nome próprio”, mas que o D maiúsculo é mero destaque (o que não deixa de ser um bom argumento), optará por Decreto-lei.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

CONCORDÂNCIAS ESPECIAIS E CARGOS FEMININOS

 Sylvio Bertoli quer saber se não cabe também o verbo no plural nas frases abaixo, que foram objeto da coluna “Falando de números e numerais” publicada há seis semanas (NTL 155). Dizia eu então:


Há uma concordância especial para o verbo ser quando o sujeito indica preço, peso, porção, quantidade, medida. Neste caso o verbo passa a concordar com as expressões muito, pouco, o suficiente, o mínimo, demais etc., permanecendo então na terceira pessoa do singular:



O #BCCCV esclarece:



Sete anos de noivado foi muito.

Dez metros de fita é pouquíssimo.

Cem reais é o suficiente.

Seis é o mínimo desejável.

Um é pouco, dois é bom, três é demais.


Todavia, existe uma concordância do verbo ser no plural. Isso se dá quando o substantivo, núcleo do sujeito, está determinado por um artigo. Veja então a diferença:


Os sete anos de noivado de Abel e Marta foram demais, foram um absurdo.

Os seis elementos são desejáveis.

Os dez metros de fita que comprei foram insuficientes.

Os cem reais que me deste foram suficientes.


--- O que me leva a este contato é uma dúvida que me surgiu após ler uma edição do jornal A Gazeta. A manchete principal saiu assim: Quem poderão ser os candidatos locais nas próximas eleições? Gostaria de saber se está correto este título e por quê. Fernando.


A manchete está correta, embora chegue a soar estranha, pois não é muito comum a utilização do verbo ser com um verbo auxiliar, numa locução verbal [poderão ser], junto do pronome interrogativo quem.  Normalmente este pronome leva o verbo para o singular:


Quem será?

Quem sabe quem foi o autor da manchete?

Quem fez isso? 


Todavia, em orações com o verbo ser, o pronome quem pode servir de predicativo a um sujeito no plural. Isso quer dizer que o verbo vai fazer a concordância com o sujeito que estiver no plural:


Quem são eles? Quem somos nós?

Quem serão os candidatos locais nas próximas eleições?

Quem foram os malucos que atacaram o presidente?

"Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?" (Cecília Meireles)


CONCORDÂNCIA NO FEMININO


--- Queira esclarecer: a gerente/a auxiliar administrativo ou a gerente/a auxiliar administrativa. Luiz Gonzaga Soares, Rio de Janeiro/RJ


Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns-de-dois, ou comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Consequentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário. Outros bons exemplos de cargos femininos:


a secretária executiva

a secretária adjunta

a presidente adjunta

a chefe auxiliar

a assessora especial

a consultora geral

a juíza substituta

a gerente financeira

a auxiliar técnica

a técnica administrativa

a diretora-secretária

a diretora-presidente

a ministra-chefe.


Enfim, se uma mulher ocupa o cargo de prefeito ou de técnico judiciário, por exemplo, ela se torna prefeita, ou técnica judiciária, e assim por diante.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

LOCUÇÃO PREPOSITIVA:

 

EM QUE PESE A/À + SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE


O #BCCCV esclarece:

Roberto de Carvalho, de Salvador/BA, costumava escrever assim: “em que pese o fato, em que pesem as circunstâncias”, mas surpreendeu-se ao encontrar numa publicação a locução prepositiva: “em que pese às dificuldades e em que pese ao temporal”.


Há diferença entre elas? Não de sentido, mas de sintaxe. No primeiro caso você flexiona o artigo e o verbo pesar de acordo com o substantivo próximo:


Em que pese o temporal, houve jogo.

Em que pese a chuva, houve jogo.

Em que pesem os problemas financeiros, devem continuar a viagem.

Em que pesem as circunstâncias, continuaram a viagem.


No segundo caso, o verbo pesar mantém-se no singular, seguido da preposição a, que pode fazer a contração com o artigo definido:


Em que pese a tantos problemas, eles largaram o emprego.

Em que pese ao temporal, houve jogo.

Em que pese à chuva, sairá o piquenique.

Em que pese aos problemas financeiros, compraram carro novo.

Em que pese às dificuldades, fizeram a festa.


Explicação para os dois usos:


EM QUE PESE A é a locução clássica; foi usada por Gonçalves Dias, Alexandre Herculano, Garret e outros autores portugueses e brasileiros. O seu sentido se origina do verbo “pesar” = incomodar, doer, magoar. Ou seja, a expressão quer dizer “ainda que cause pesar a alguém, ainda que lhe custe ou que contrarie sua opinião”. O som do e é fechado: em que pêse a... Era mais usada em relação ao pesar das pessoas: “Em que pese (isso) ao rei, faremos a invasão” ou “Só Deus é Deus e Mafoma o seu profeta, em que pese isto aos incréus” (Gonçalves Dias). Entretanto veio a ser usada também em relação a coisas, daí o “em que pese ao temporal/ às dificuldades” etc.


EM QUE PESE(M) substitui a forma arcaizada, tomando o verbo o sentido de “ter peso” = valor, importância, valia, influência. Portanto, quer dizer: ainda que (isso) tenha peso, importância; apesar disso, farei aquilo. O e tem pronúncia aberta: em que pése a chuva...


Em resumo: tratando-se de pessoa, a palavra pese deve ficar invariável e acompanhada  da preposição a (em que pese à família enlutada/ aos incrédulos);  quando se tratar de coisa, pode ser feita a flexão (em que pesem as dificuldades/ em que pese o temporal).


SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE 


--- A expressão “sem sofrer solução de continuidade” está correta? Como se justifica? Existe algum dicionário de expressões? Rosa, São Paulo/SP


Pode-se encontrar esse tipo de locução num dicionário comum. No caso, procurar no verbete “solução”, palavra que entre outras coisas tem o significado de “separação das partes de um todo, divisão, interrupção, dissolução”.
 

Assim, “sem solução de continuidade” seria o mesmo que “sem interrupção da continuidade”, o que quer dizer “sem descontinuidade”. Quando quer se expressar a vontade de que não haja interrupção de um trabalho, pode-se escrever: “Esperamos que não haja solução de continuidade” .


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

IMPLICAR: VERBO TRANSITIVO DIRETO ou INDIRETO?

 --- Gostaria de saber qual é a transitividade do verbo implicar na frase: a aceitação desta proposta não implica “na” contratação de serviços futuros. A.P., Brasília/DF


--- Gostaria que esclarecessem a seguinte dúvida: implicar é transitivo direto ou indireto? Já vi o referido verbo empregado das duas formas e não sei qual é a tecnicamente correta. Ex: 1) A contratação de funcionários qualificados implicará em gastos excessivos. OU 2) ...implicará gastos excessivos. G.C., São Paulo/SP


O #BCCCV esclarece:



No sentido de “ter como consequência, resultar, acarretar, originar, pressupor, exigir, tornar necessário”, o verbo implicar é transitivo direto, devendo ser usado sem a preposição:


Maior consumo implica mais despesas.

Combater a desigualdade implica adotar medidas drásticas neste momento.

A contratação de funcionários qualificados implicará gastos excessivos.

A aceitação desta proposta não implica a contratação de serviços futuros.

Os novos estágios de modernidade na arquitetura não implicam a destruição de épocas passadas.

A utilização de energia nuclear implicaria riscos tremendos.


No entanto, por analogia com três verbos de significação semelhante mas de regência indireta, quais sejam, resultar em, redundar em, importar em, o verbo implicar passou a ser usado com a preposição “em”, sem que nosso ouvido encontrasse nisso alguma estranheza. Tanto é assim que no Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Pedro Luft, está registrado “TI: implicar em algo”, com a observação de que essa regência é um brasileirismo já consagrado e “admitido até pela gramática normativa”.


Aberta a concessão, nós brasileiros vamos aceitar como correta a regência indireta do verbo implicar nas mesmas frases:


Maior consumo implica em mais despesas.

Combater a desigualdade implica em adotar medidas drásticas neste momento.

A contratação de funcionários qualificados implicará em gastos excessivos.

A aceitação desta proposta não implica na contratação de serviços futuros.

Os novos estágios de modernidade na arquitetura não implicam na destruição de épocas passadas.

A utilização de energia nuclear implicaria em riscos tremendos.


Contudo, se na prática valem os dois usos – e até por uma questão de economia – é melhor deixar a preposição de fora, não é mesmo? Para mim a frase geralmente soa melhor sem a preposição, mas nem sempre – cada caso é um caso.


Outra coisa: seja qual for sua escolha, mantenha a coerência quando usar o verbo implicar com dois objetos diretos coordenados. Não se deve usar um objeto preposicionado e outro não, como neste exemplo: *A exigência das notas fiscais implicaria novos custos e também em operações humilhantes para muita gente. A solução é se valer só da regência inovada brasileira ou só da clássica:


A exigência das notas fiscais implicaria em novos custos e também em operações humilhantes para muita gente.

A exigência das notas fiscais implicaria novos custos e também operações humilhantes para muita gente.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ENSINO À DISTÂNCIA ou A DISTÂNCIA?

 -- Tenho certa resistência em grafar ensino a distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é comum encontrar nos documentos exarados pelo MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como crase facultativa. Podia comentar? Prof. José T. B. Neto, Umuarama/PR


Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa e em outras locuções adverbiais femininas que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do acento pode deixar o texto ambíguo. Em “ensinar/estudar a distância”, por exemplo, fica-se com a impressão de que é a distância que está sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de viu a distânciaescreveu a distânciacurou a distânciafotografe a distânciapermanece a distância [= a distância permanece] e assim por diante, que parecem melhor quando craseadas: viu à distância, escreveu à distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.

O #BCCCV esclarece:



Com a distância determinada, especificada, o A deve ser obrigatoriamente acentuado: 


Fotografe à distância de um metro.

Cientistas esperam medir 60 mil galáxias à distância de nove bilhões de anos-luz.

Ficou à distância de uns 10 km.


Já na frase “Compramos uma chácara a grande distância daqui” não há crase, porque está subentendido o artigo indefinido: a grande distância.


Enfim, entendo que é sempre melhor acentuar a expressão, até porque em determinadas situações só o acento clarifica o sentido dado à palavra, como por exemplo nesta explicação entre parênteses: Reviu seus estudos a respeito da estratégia tele (“à distância”) de lidar com os saberes tácitos.


ÍNDIOS TUPI OU TUPIS


Sempre que nossos indígenas ficam em evidência, surge a pergunta: deve-se dizer índios tupi ou índios tupis? Guarani ou guaranis? Xokleng ou xoklengs? A resposta é "tanto faz". Aceita-se o singular (mais técnico) ou o plural:


Muitos índios Gê haviam sido dizimados pelos missionários.

No litoral de SC estavam os índios tupi-guarani, ceramistas com rudimentos de agricultura, que haviam ocupado a região pelo menos 800 anos antes.

No interior habitavam os kaingang os xokleng, do grupo Gê, também afugentados do litoral pelos carijós.


Maria Helena de Moura Neves (Gramática de Usos do Português, Ed. Unesp, 2000:164) ensina: “Também não recebem marca de plural os nomes de tribos indígenas, seguindo convenção internacional dos etnólogos: (...) # Entretanto, frequentemente se usam esses nomes pluralizados, como qualquer outro nome de povo.”


Embora facultativo o uso, parece soar melhor o plural quando o nome da tribo tem vogal final: pataxós, caiapós, macuxis, ianomamis, kaiowás, camaiurás, xavantes, bororos.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

domingo, 30 de agosto de 2020

NUMERAIS: FEMININO, PLURAL, VÍRGULA, MIL

 --- Gostaria de saber se existe plural para os números cardinais. Se sim, em que casos? Quando são substantivos? Exemplos: Todos os setes devem ser retirados dos baralhos. O que é a prova dos noves? Os vinte e uns vereadores foram eleitos pelo povo. Todos os trezentos e cinquenta e uns deputados foram eleitos pelo povo. Nilson Costa, Sorocaba/SP


Apenas dois tipos de numeral cardinal variam em gênero: um e dois e as centenas a partir de duzentos. Portanto, têm feminino:


um – uma ;  dois – duas

trezentos – trezentas (até) novecentos – novecentas  


O #BCCCV esclarece:



Isso quer dizer que os numerais cardinais – como tais – não têm plural, exceto milhão, bilhão, trilhão etc. Voltando ao exemplo do leitor, o correto é:


Todos os trezentos e cinquenta e um deputados foram eleitos pelo povo.

Todas as trezentas e cinquenta e uma pessoas foram eleitas pelo povo.


Mas, então, quando é que o numeral de 1 até 999.999 tem plural? Quando ele se converte em um substantivo – processo que se chama de “derivação imprópria”. Em outros termos, é passível de pluralização a representação gráfica de um número:


Todos os setes devem ser retirados do baralho. [entende-se: os números 7]

Não é preciso colocar tantos zeros à direita. [tantos números 0]

Vamos tirar a prova dos noves fora.

Joãozinho, você pode “pescar” quantos 20 [leia-se vintes] você quiser.

O oito estava ilegível no carimbo; os oitos estavam ilegíveis.


--- Duas mil e oitocentas pessoas pode? Roberto Carvalho, Salvador/BA


Pode. Como acabamos de ver, é necessário fazer a concordância de dois e das centenas com o substantivo, independentemente do acréscimo do numeral mil:


Dois mil e oitocentos homens foram contratados como boia-fria.

Duas mil e oitocentas pessoas aplaudiram o candidato.

Cinco mil e duzentas urnas serão vistoriadas por mil funcionários.


--- Gostaria de saber como escrever por extenso a porcentagem de um número com casas depois da vírgula. Como exemplo: 49,65% (quarenta e nove, sessenta e cinco por cento) dos eleitores... A palavra vírgula aparece escrita ou representada pelo seu sinal gráfico apenas? Ana Christina da Silva, Florianópolis/SC


Quando acompanha a citação por extenso, a vírgula não é representada pelo sinal gráfico; ela deve ser grafada por extenso, podendo ser também abreviada:


Quarenta e nove vírgula sessenta por cento dos eleitores votaram.

Das pessoas infectadas, 84,16% (oitenta e quatro vg dezesseis por cento) apresentam os sintomas.


--- É correto escrever hum mil reais em cheques ou documentos? L.S., Guarulhos/SP


Escrever “hum mil” é fórmula apenas usada na atividade bancária; isso porque os bancos assim o exigem, para evitar falsificações nos valores escritos à mão. Mas gramaticalmente falando, a grafia por extenso de R$ 1.000,00 é mil reais.  E assim (sem “um” e muito menos “h”) deve constar nas sentenças, acórdãos e outros documentos quando se escreve tal importância por extenso dentro dos parênteses, conforme recomendam as técnicas jurídicas:


Aduziu o apelante que as prestações mensais de R$ 1.240,00 (mil duzentos e quarenta reais) não foram pagas no prazo.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

ORTOGRAFIA: POR QUE; PORQUE:

 Inúmeros leitores têm perguntado a respeito do uso graficamente correto dos porquês brasileiros, já tratados na coluna Não Tropece na Língua 37. Digo “brasileiros” pelo fato de no Brasil termos uma grafia um pouco diferente da de Portugal nesse ponto. Vamos então rever o esquema de uso dos porquês em nosso país.

O #BCCCV informa:


1) Usa-se POR QUE (preposição + pronome relativo) em perguntas diretas e indiretas; observe-se o acento circunflexo no “que” antes do ponto de interrogação:


Você pode nos dizer por que não devemos tirar proveito da boa pontuação?

Por que as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?

Brizola não aceitou o cargo por quê?

Por que quando se fala em inclusão social feminina se fala também em acesso ao mundo digital?

Nós, sim, temos o dever de perguntar por que não lhes deram opção de vida.


2) Usa-se POR QUE em frases afirmativas/negativas, como complemento (objeto direto) de verbos como mostrar, justificar, saber, explicar, entender e outros:


Ninguém explica por que os preços não caem.

Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, encantou plateias e mostrou por que provoca calafrios nos burocratas de Washington.

Não entendo por que os eletricitários vão entrar em greve.

Este mês a revista Motor revela por que vale a pena comprar um carro 1.6.

Gostaria de saber por que seu filho faltou à aula ontem.


3) Usa-se POR QUE como complemento das expressões EIS, DAÍ, NÃO HÁ:


Eis por que resolvemos fazer a paralisação.

Não pude me preparar, daí por que desisti do concurso.

Não há por que temer mudanças. Esse Brasil já tem regras”, disse o presidente da Valisère.


Nesses três casos está sempre implícita a palavra motivo:


Por que (motivo) as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?

Não entendo por que (motivo) os eletricitários entrarão em greve.

Gostaria de saber por que (motivo) seu filho faltou à aula.

Eis por que (motivo) resolvemos fazer a paralisação.


4) Usa-se PORQUE para iniciar orações explicativas e causais; em tais afirmações e respostas temos uma conjunção, que equivale a POIS (já que, uma vez que, pelo fato de que, como):


É preciso alfabetizar as pessoas digitalmente junto com a superação do analfabetismo básico, porque não dá tempo de fazer uma coisa antes da outra.

Hoje, a comunidade se assenta em torno do desmatamento porque essa é a única oportunidade de emprego e de renda.

Muitas crianças simplesmente não conseguem aprender porque estão subnutridas.

A agenda social é a praia das mulheres, porque são elas que têm filhos e cuidam da família.


Nos casos em que se aplica a regra do item 4 pode-se colocar uma vírgula antes do “porque”, a indicar o início de uma oração. Já no tocante aos itens 1, 2 e 3 a colocação da vírgula é totalmente imprópria, para não dizer impossível.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

terça-feira, 18 de agosto de 2020

HÍFEN: BOM DIA e/ou BOM-DIA

 --- Bom dia, Boa tarde e Boa noite – no sentido de cumprimento, têm hífen? Rosilda, Brasília/DF


Não. Quando você simplesmente cumprimenta alguém, escreve sem hífen:


Bom dia, meu pai.

Boa tarde a todos.

Boa noite!


O #BCCCV esclarece:



Usa-se o hífen quando se forma com os dois vocábulos um só, ou seja, um substantivo masculino (até mesmo boa-tarde é subst. masc.) significando “um cumprimento” e que geralmente vem precedido pelo artigo indefinido:


Gostaria de desejar-lhes um bom-dia antes de me retirar.

Deu-nos um boa-noite com muito carinho.

Abraçou-me com um grande sorriso de boa-tarde.


Devo esclarecer que os dicionários só mostram a composição bom-dia, é claro, porque aí se forma um substantivo. Eles não registram frases ou expressões como BOM DIA! BOA VIAGEM! BOM ALMOÇO!  Ou: a bela moça, lindo dia, feliz aniversário... No caso, tanto o Aurélio quanto o Houaiss trazem apenas exemplos deste tipo: Deu-me um bom-dia afetuoso; cumprimentou-o com um bom-dia caloroso.


Em suma: é preciso saber interpretar o que dizem os dicionários, observar a classe gramatical das palavras que se está buscando: se é adjetivo, substantivo, advérbio etc.


--- Por gentileza, há hífen em disque-denúncia? E como fica risco-país, risco-Brasil? Leva hífen mesmo? C. H. B., Vitória/ES


Há hífen quando se trata de um substantivo composto, o que é o caso, pois se trata de duas palavras com um significado único: (o) disque-denúncia. Também se hifenizam os neologismos risco-país risco-Brasil pelas mesmas razões de “unidade semântica”. O hífen aí substitui a preposição que deve ligar dois substantivos (na língua portuguesa eles não ficam soltos lado a lado), ou seja: risco do país, risco do Brasil.


--- Qual é o plural de público-alvo? Por exemplo: Em relação aos novos programas lançados, temos que levar em consideração os públicos-alvo a que se destinam. Está certo assim? A. B., Rio de Janeiro/RJ


Está correto, sim, dizer públicos-alvo, assim como se pode pluralizar os dois termos: públicos-alvos. Trata-se do mesmo caso de situações-problema, horas-aula, vales-transporte, palavras-chave, atividades-fim, por exemplo, que também podem receber o plural nos dois elementos da composição: situações-problemas, horas-aulas, vales-transportes, palavras-chaves, atividades-fins.


A regra geral de formação do plural de um substantivo composto por substantivo + substantivo é flexionar os dois elementos: couves-flores, decretos-leis, diretores-presidentes, Estados-membros, matérias-primas, obras-primas, democratas-cristãos, cirurgiões-dentistas, médicos-legistas, diretores-proprietários, tios-avós.


Contudo, quando o segundo substantivo limita a significação do primeiro, é possível (e até mais usual) pluralizar apenas o primeiro substantivo, como se entre as duas palavras houvesse uma preposição no lugar do hífen (ex. fichas-controle = fichas para controle; horas-aula = horas de aula) ou “que serve de” (cartas-convite = cartas que servem de convite). Essa possibilidade se aplica apenas aos substantivos compostos que encerram uma ideia de finalidade, semelhança, forma, relação, tipo ou espécie. Mais exemplos: vales-refeição, mulheres-bomba, escolas-modelo, células-tronco, laranjas-pêra, caminhões-tanque, pontos-base, tanques-rede, situações-chave, datas-limite, zonas-núcleo.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

HÍFEN e PLURAL SUBSTANTIVOS COMPOSTOS

--- Bom dia, Boa tarde e Boa noite – no sentido de cumprimento, têm hífen? Rosilda, Brasília/DF


Não. Quando você simplesmente cumprimenta alguém, escreve sem hífen:


Bom dia, meu pai.

Boa tarde a todos.

Boa noite!


O #BCCCV informa:


Usa-se o hífen quando se forma com os dois vocábulos um só, ou seja, um substantivo masculino (até mesmo boa-tarde é subst. masc.) significando “um cumprimento” e que geralmente vem precedido pelo artigo indefinido:


Gostaria de desejar-lhes um bom-dia antes de me retirar.

Deu-nos um boa-noite com muito carinho.

Abraçou-me com um grande sorriso de boa-tarde.


Devo esclarecer que os dicionários só mostram a composição bom-dia, é claro, porque aí se forma um substantivo. Eles não registram frases ou expressões como BOM DIA! BOA VIAGEM! BOM ALMOÇO!  Ou: a bela moça, lindo dia, feliz aniversário... No caso, tanto o Aurélio quanto o Houaiss trazem apenas exemplos deste tipo: Deu-me um bom-dia afetuoso; cumprimentou-o com um bom-dia caloroso.


Em suma: é preciso saber interpretar o que dizem os dicionários, observar a classe gramatical das palavras que se está buscando: se é adjetivo, substantivo, advérbio etc.


--- Por gentileza, há hífen em disque-denúncia? E como fica risco-país, risco-Brasil? Leva hífen mesmo? C. H. B., Vitória/ES


Há hífen quando se trata de um substantivo composto, o que é o caso, pois se trata de duas palavras com um significado único: (o) disque-denúncia. Também se hifenizam os neologismos risco-país risco-Brasil pelas mesmas razões de “unidade semântica”. O hífen aí substitui a preposição que deve ligar dois substantivos (na língua portuguesa eles não ficam soltos lado a lado), ou seja: risco do país, risco do Brasil.


--- Qual é o plural de público-alvo? Por exemplo: Em relação aos novos programas lançados, temos que levar em consideração os públicos-alvo a que se destinam. Está certo assim? A. B., Rio de Janeiro/RJ


Está correto, sim, dizer públicos-alvo, assim como se pode pluralizar os dois termos: públicos-alvos. Trata-se do mesmo caso de situações-problema, horas-aula, vales-transporte, palavras-chave, atividades-fim, por exemplo, que também podem receber o plural nos dois elementos da composição: situações-problemas, horas-aulas, vales-transportes, palavras-chaves, atividades-fins.


A regra geral de formação do plural de um substantivo composto por substantivo + substantivo é flexionar os dois elementos: couves-flores, decretos-leis, diretores-presidentes, Estados-membros, matérias-primas, obras-primas, democratas-cristãos, cirurgiões-dentistas, médicos-legistas, diretores-proprietários, tios-avós.


Contudo, quando o segundo substantivo limita a significação do primeiro, é possível (e até mais usual) pluralizar apenas o primeiro substantivo, como se entre as duas palavras houvesse uma preposição no lugar do hífen (ex. fichas-controle = fichas para controle; horas-aula = horas de aula) ou “que serve de” (cartas-convite = cartas que servem de convite). Essa possibilidade se aplica apenas aos substantivos compostos que encerram uma ideia de finalidade, semelhança, forma, relação, tipo ou espécie. Mais exemplos: vales-refeição, mulheres-bomba, escolas-modelo, células-tronco, laranjas-pêra, caminhões-tanque, pontos-base, tanques-rede, situações-chave, datas-limite, zonas-núcleo.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

domingo, 24 de maio de 2020

ORTOGRAFIA: COM X ou com CH?

Grafia de palavras com letras de mesmo fonema. 
Com X ou com CH. Veja:
São escritas com X:

bruxa, capixaba, caxumba, faxina, rixa, roxo, xaxim, xícara, xenofobia, graxa, laxante, xale, xaxim, relaxar, almoxarifado, vexame.

O #BCCCV esclarece:


Escrevem-se com CH:

brecha, broche, chalé, chicória, cachimbo, chope, chuchu, fachada, deboche, fantoche, piche, mochila, pechincha, flecha, linchar, chute, bochecha, ficha.

Vamos a algumas regras de uso da letra X:
1) Depois de ditongos (duas vogais pertencentes à mesma sílaba):
caixa, frouxo, deixar, queixa, paixão, faixa, desleixo, rouxinol, baixo, baixela,
eixo, abaixo.
2) Quando a primeira sílaba da palavra é EN:
enxurrada, enxotar, enxugar, enxada, enxergar, enxofre, engraxar, enxaqueca, enxerto, enxame, enxoval
Obs.: As palavras enchente e encher não seguem o mesmo processo, pois são derivadas de cheio. O mesmo acontece com encharcar, que vem de charcoenchapelar, derivada de chapéu; e enchiqueirar, que vem de chiqueiro.
3) Palavras de origem indígena ou africana e palavras inglesas aportuguesadas:
xavante, xingar, xará, xampu, Xangai
4) Após a sílaba ME
mexilhão, mexer, mexerica, mexerico, mexicano, remexer
Exceção: mecha (de cabelo)
IMPORTANTE:
Há casos em que ocorrem palavras de mesmo som, mas com grafia e sentido diferentes. São as chamadas palavras homófanas. Veja alguns exemplos:
- tacha (mancha, defeito ou pequeno prego) / taxa (imposto, tributo).

- coxo (imperfeito, capenga) / cocho (vasilha para alimentar animais).

- xeque (lance do jogo de xadrez) / cheque (ordem de pagamento).

- broxa (pincel para pintura de parede) / brocha (pequeno prego).

- xácara (narrativa popular em verso) / chácara (propriedade rural).

- xá (título do antigo soberano do Irã) / chá (infusão, bebida).