sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ENEM - dicas rápidas


O texto é dos mais tensos e dramáticos escritos por Cruz e Sousa. Leia-o atentamente e responda às questões que seguem:

BALADA DE LOUCOS

Mudos atalhos afora, na soturnidade de alta noite, eu e ela caminhávamos.

Eu, no calabouço sinistro de uma dor absurda, como de feras devorando entranhas, sentindo uma sensibilidade atroz morder-me, dilacerar-me

Ela, transfigurada por tremenda alienação, louca, rezando e soluçando baixinho rezas bárbaras

Eu e ela, ela é eu! - ambos etucinedos -, loucos, na sensação inédita de uma dor jamais experimentada

A pouco e pouco - dois exilados personagens do Nada - parávamos no caminho solitário, cogitando o rumo, como, quando se leva a enterrar alguém, as paradas rítmicas do esquife ..

Eram em torno paisagens tristes, torvas, árvores esgalhadas nervosamente, epileticamente - espectros de esquecimento e de tédio, braços múltiplos e vãos sem apertar nunca outros braços amados! 

Em cima, na eloquência lacrimal do céu, 'uma lua de últimos suspiros, morta, agoniadamente morta, sonhadora e niilista cabeça de Cristo de cabelos empastados nos lívidos suores e no sangue negro e esverdeado das letais gangrenas.

Eu e ela caminhávamos nos despedaçamentos da Angústia, sem que o mundo nos visse e se apiedasse, como duas Chagas obscuras mascaradas na noite.

Longe, sob a galvanização espectral do luar, corria uma língua verde de oceano, como a orla de um eclipse...


(Cruz e Sousa, Evocações)

O texto transcrito pode ser considerado:
um soneto;
 um poema em versos livres;
 um poema longo, mas de versos regulares;
 um poema em prosa;
 n.d.a.

Nenhum comentário: