quinta-feira, 7 de maio de 2015

BISA BIA, BISA BEL de Ana Maria Machado


Um pouco sobre a autora Ana Maria Machado nasceu no Rio de Janeiro. Foi professora, tradutora, jornalista. Em mais de 35 anos de trabalho, criou personagens inesquecíveis, enredos fascinantes e inovou a linguagem, conquistando uma posição de destaque na literatura infantil e juvenil, no Brasil e no exterior. Em 2000, recebeu o prêmio internacional Hans Christian Andersen, considerado mundialmente o mais importante da literatura para crianças e jovens. Em 2003, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras. 

BCCCV informa:


Resenha:

 Certo dia, num dos raros momentos em que sua mãe, não muito organizada, resolve arrumar a casa toda de uma só vez e remexer cantos há muito esquecidos, Isabel descobre um pequeno retrato de uma menina muito bem arrumada que se parece um pouco com ela: é Bisa Bia, delicada como uma boneca, de vestido de renda. A partir da descoberta desse retrato, que Bel passa a levar consigo para todo o canto, inicia-se uma convivência íntima entre a menina e sua bisavó, que ela nunca chegou a conhecer – como diz a garota, sua bisavó passa a morar “dentro dela”, num canto escondido do seu corpo, invisível para os outros. Essa convivência, porém, será menos harmônica do que a princípio se poderia supor: Bisa Bia não consegue aceitar que Bel use calças compridas e brinque de pega-pega junto com os meninos. Uma outra voz dentro de Bel, porém, irá fazer frente às posições de Bisa Bia: a de Beta, bisneta de Bel, que nascerá num momento ainda distante do futuro, para quem ser mulher não significa de modo algum ser frágil e bem comportada... caberá à menina do presente encontrar o ponto médio entre as duas vozes que brigam dentro de si e fazer suas próprias escolhas. 

Comentários sobre a obra:

Neste livro, Ana Maria Machado apresenta aos jovens, de maneira inventiva e delicada, a questão da mulher e das diferenças de gênero, refletindo sobre as transformações dos papéis sociais de cada um dos sexos através das gerações. A autora chama a atenção, sobretudo, para o fato de que as transformações profundas não se completam de um momento para o outro – elas se dão de maneira gradual. Cada geração, ao mesmo tempo em que se projeta para o futuro e propõe novos parâmetros de comportamento, encontra-se ainda bastante influenciada por seu passado. Ao mesmo tempo em que Bel é uma menina independente e corajosa, às vezes também se sente frágil e quer ser protegida; ao mesmo tempo em que adora brincar na rua com os meninos, diverte-se muito ao aprender a bordar. Às vezes identifica-se com sua bisavó Bia, às vezes com sua bisneta Beta – e, outras vezes ainda, sabe fazer calar por um momento as duas vozes contrastantes e encontrar a sua própria, sem precisar pender para um lado ou para o outro. 

Propostas de atividades:

 a) Antes da leitura:
1. Apresente aos alunos o título do livro, e deixe que eles, com o auxílio da ilustração da capa, procurem antecipar um pouco o conteúdo da narrativa. Provavelmente, não demorarão a perceber que Bisa é uma maneira carinhosa de dizer bisavó. Mas estimule-os a ir mais longe: que história imaginam que o livro conta? Quem seriam as duas bisavós do título? 
2. Leia com seus alunos o texto da quarta capa do livro. No terceiro parágrafo, lê-se: “Três tempos e três vivências que se cruzam e se completam numa só pessoa: a menina Isabel”. Que tempos e vivências seriam esses? Que características separariam cada um deles? Estimule-os a traçar hipóteses. 
3. Ainda na quarta capa, lê-se: “Partindo de uma história original e repleta de sensibilidade, leva o leitor a perceber as mudanças no papel da mulher na sociedade brasileira”. Tomando essa frase como ponto de partida, proponha uma discussão com seus alunos: qual eles acreditam que seja o papel da mulher no Brasil atual? É possível dizer que homens e mulheres têm as mesmas liberdades? 
4. Pergunte aos alunos quais, dentre eles, conhece ou chegou a conhecer seus bisavós. Deixe que discorram um pouco sobre sua relação com eles. Proponha a discussão: é difícil conviver com alguém mais velho? Por quê?
5. Proponha que cada aluno traga para a classe um retrato de um de seus bisavós. Reserve um tempo para que os alunos contemplem os retratos trazidos pelos colegas. Que impressão cada um dos retratos lhe traz? Quais as diferenças de aspecto entre uma fotografia antiga e as modernas fotografias digitais? b) durante a leitura 1. Estimule-os a, enquanto leem o texto, descobrirem quais são, afinal, os três tempos de que fala a quarta capa do livro. Quais de suas hipóteses se confirmam e quais não? Adiante que em cada um dos três tempos há uma personagem emblemática. 2. O texto da quarta capa, que os alunos já leram, denuncia antecipadamente que o livro vai abordar o papel da mulher ao longo dos tempos. Peça a seus alunos que atentem para isso, percebendo as diferentes concepções do feminino que se cruzam no decorrer do livro. 3. Embora o foco principal do livro esteja no papel das mulheres, a narrativa também se debruça, embora menos intensamente, sobre as mudanças de comportamento dos homens. Há um personagem do livro, em particular, que simboliza essa mudança. Desafie os alunos a identificar quem ele é. 4. Enquanto leem, estimule os alunos a atentar para as ilustrações de Mariana Newlands, procurando descobrir sua relação com o texto escrito. c) depois da leitura 1. Ao final do livro, provavelmente os alunos já terão percebido quais são os três tempos que se cruzam em Isabel, que ela intercala “igualzinho a quando faço uma trança no meu cabelo”: Bisa Bia, ela própria e Neta Beta. Proponha uma conversa com a turma: que aspectos da menina estão representados em cada uma de suas três partes? Será que se pode dizer que todos nós somos, de algum modo, como Isabel, tentando descobrir como viver intercalando os resquícios do passado e as expectativas do futuro? 2. Proponha aos alunos que realizem a atividade proposta por dona Sônia: que novamente reúnam os retratos de seus bisavós e pesquisem um pouco sobre o tempo em que eles viveram. O que acontecia no Brasil naquela época? Como as pessoas se vestiam? Como eram decoradas suas casas? Estimule-os a reunir o máximo de informações possível – vale tanto pesquisar em livros antigos ou na internet quanto conversar diretamente com seus parentes. 3. Assim como nos diz o livro, a mudança no papel das mulheres é algo bastante recente, que data da segunda metade do século 20. Antes disso, era impensável que mulheres e homens possuíssem os mesmos direitos. Peça aos alunos que realizem uma pesquisa sobre os movimentos feministas que, especialmente a partir dos anos 60, tornaram essas mudanças possíveis. 4. Muito se fala a respeito das transformações do papel da mulher, porém no que diz respeito às mudanças na imagem masculina, tudo se deu de maneira mais tímida e menos pontual. O livro aponta para uma mudança ao apresentar a figura de Vítor, um dos novos alunos da classe, que, nas palavras de Isabel, era “o menino mais corajoso que tinha conhecido”, por não ter medo de chorar na frente da turma toda. Discuta um pouco sobre esse assunto com os alunos: o que eles pensam de frases como “homem não chora”?, ainda hoje recorrentes. Será que hoje em dia os homens se sentem mais livres para, como Vítor, demonstrar seus sentimentos? 5. O século 20 foi marcado por muitas transformações radicais na maneira de viver. Se possível, assista com os alunos ao filme Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Eduardo Masagão, que retrata essas transformações, com incrível sensibilidade, ao recolher uma quantidade enorme de imagens de arquivo e documentos para retratar essas mudanças não do ponto de vista de celebridades e figuras históricas, mas sim da perspectiva de gente comum. Muitos dos temas abordados por Ana Maria Machado também figuram no documentário. 
6. Isabel comenta, numa das passagens do livro, que as palavras e expressões mudaram tanto que por vezes parece que ela e sua bisavó não falam a mesma língua. Proponha à turma que faça um levantamento das palavras e expressões que usam em seu cotidiano e pesquisem com seus pais e avós expressões antigas. Perceber as enormes diferenças entre as duas listas vai ser, no mínimo, curioso. 
7. Por fim, sugira a seus alunos que realizem a tarefa proposta por Vítor no fim do livro, aprovada pela professora Sônia: imaginar como será o mundo de seus netos e bisnetos. Seria mais interessante ainda fazer como Ana Maria Machado e comparar esse mundo do futuro com os tempos atuais e com os tempos antigos. Para isso, sugira que os alunos escrevam um diálogo imaginário entre eles mesmos, um de seus bisavôs ou bisavós, e uma bisneta ou bisneto. 
8. Depois que os diálogos estiverem prontos, convide alguns dos alunos a, se desejarem, lê-los em voz alta para o restante da classe.

OUTRAS INFORMAÇÕES: Ele foi escrito em 1981 e no mesmo ano ganhou o Prêmio Maioridade Crefisul, Crefisul (Originais Inéditos). Ficou conhecido mundialmente e hoje se estima cerca de 500.000 exemplares vendidos.
Ana Maria Machado conta que escreveu esse livro pela saudade que sentia das avós e queria contar sobre elas para os filhos. Não imaginou que fosse fazer tanto sucesso, chegando a ser considerado um dos dez mais importantes livros infantis do Brasil.


Leia mais... • Da mesma autora: Raul da ferrugem azul – São Paulo: Salamandra. Ponto a ponto – São Paulo: Companhia das Letrinhas. Amigo é comigo – São Paulo: Moderna. Canteiros de Saturno! – Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

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