Um pouco sobre a autora
Ana Maria Machado nasceu no Rio de Janeiro.
Foi professora, tradutora, jornalista. Em mais de 35 anos
de trabalho, criou personagens inesquecíveis, enredos
fascinantes e inovou a linguagem, conquistando uma
posição de destaque na literatura infantil e juvenil, no
Brasil e no exterior. Em 2000, recebeu o prêmio internacional
Hans Christian Andersen, considerado mundialmente
o mais importante da literatura para crianças
e jovens. Em 2003, tornou-se membro da Academia
Brasileira de Letras.
BCCCV informa:
Resenha:
Certo dia, num dos raros momentos em que
sua mãe, não muito organizada, resolve arrumar a
casa toda de uma só vez e remexer cantos há muito
esquecidos, Isabel descobre um pequeno retrato de
uma menina muito bem arrumada que se parece
um pouco com ela: é Bisa Bia, delicada como
uma boneca, de vestido de renda. A partir da
descoberta desse retrato, que Bel passa a
levar consigo para todo o canto, inicia-se
uma convivência íntima entre a menina
e sua bisavó, que ela nunca chegou
a conhecer – como diz a garota, sua
bisavó passa a morar “dentro dela”, num
canto escondido do seu corpo, invisível
para os outros.
Essa convivência, porém, será menos
harmônica do que a princípio se poderia
supor: Bisa Bia não consegue aceitar que Bel
use calças compridas e brinque de pega-pega junto
com os meninos. Uma outra voz dentro de Bel, porém,
irá fazer frente às posições de Bisa Bia: a de Beta, bisneta
de Bel, que nascerá num momento ainda distante do
futuro, para quem ser mulher não significa de modo algum
ser frágil e bem comportada... caberá à menina do
presente encontrar o ponto médio entre as duas vozes
que brigam dentro de si e fazer suas próprias escolhas.
Comentários sobre a obra:
Neste livro, Ana Maria Machado apresenta aos
jovens, de maneira inventiva e delicada, a questão da
mulher e das diferenças de gênero, refletindo sobre as
transformações dos papéis sociais de cada um dos
sexos através das gerações. A autora chama a atenção, sobretudo, para o fato de que as transformações
profundas não se completam de um momento para
o outro – elas se dão de maneira gradual. Cada geração, ao mesmo tempo em que se projeta para o futuro
e propõe novos parâmetros de comportamento,
encontra-se ainda bastante influenciada por seu passado.
Ao mesmo tempo em que Bel é uma menina
independente e corajosa, às vezes também se sente
frágil e quer ser protegida; ao mesmo tempo em que
adora brincar na rua com os meninos, diverte-se muito
ao aprender a bordar. Às vezes identifica-se com
sua bisavó Bia, às vezes com sua bisneta Beta – e, outras
vezes ainda, sabe fazer calar por um momento as
duas vozes contrastantes e encontrar a sua própria,
sem precisar pender para um lado ou para o outro.
Propostas de atividades:
a) Antes da leitura:
1. Apresente aos alunos o título do livro, e
deixe que eles, com o auxílio da ilustração
da capa, procurem antecipar um pouco
o conteúdo da narrativa. Provavelmente,
não demorarão a perceber que Bisa é
uma maneira carinhosa de dizer bisavó.
Mas estimule-os a ir mais longe: que história
imaginam que o livro conta? Quem seriam
as duas bisavós do título?
2. Leia com seus alunos o texto da quarta
capa do livro. No terceiro parágrafo, lê-se: “Três tempos
e três vivências que se cruzam e se completam numa só
pessoa: a menina Isabel”. Que tempos e vivências seriam
esses? Que características separariam cada um
deles? Estimule-os a traçar hipóteses.
3. Ainda na quarta capa, lê-se: “Partindo de
uma história original e repleta de sensibilidade, leva o
leitor a perceber as mudanças no papel da mulher na
sociedade brasileira”. Tomando essa frase como ponto
de partida, proponha uma discussão com seus alunos:
qual eles acreditam que seja o papel da mulher
no Brasil atual? É possível dizer que homens e mulheres
têm as mesmas liberdades?
4. Pergunte aos alunos quais, dentre eles, conhece
ou chegou a conhecer seus bisavós. Deixe que
discorram um pouco sobre sua relação com eles. Proponha
a discussão: é difícil conviver com alguém mais
velho? Por quê?
5. Proponha que cada aluno traga para a classe
um retrato de um de seus bisavós. Reserve um tempo
para que os alunos contemplem os retratos trazidos
pelos colegas. Que impressão cada um dos retratos lhe
traz? Quais as diferenças de aspecto entre uma fotografia
antiga e as modernas fotografias digitais?
b) durante a leitura
1. Estimule-os a, enquanto leem o texto,
descobrirem quais são, afinal, os três tempos de que
fala a quarta capa do livro. Quais de suas hipóteses se
confirmam e quais não? Adiante que em cada um dos
três tempos há uma personagem emblemática.
2. O texto da quarta capa, que os alunos já leram,
denuncia antecipadamente que o livro vai abordar
o papel da mulher ao longo dos tempos. Peça a seus
alunos que atentem para isso, percebendo as diferentes
concepções do feminino que se cruzam no decorrer
do livro.
3. Embora o foco principal do livro esteja no
papel das mulheres, a narrativa também se debruça,
embora menos intensamente, sobre as mudanças de
comportamento dos homens. Há um personagem do
livro, em particular, que simboliza essa mudança. Desafie
os alunos a identificar quem ele é.
4. Enquanto leem, estimule os alunos a atentar
para as ilustrações de Mariana Newlands, procurando
descobrir sua relação com o texto escrito.
c) depois da leitura
1. Ao final do livro, provavelmente os alunos já
terão percebido quais são os três tempos que se cruzam
em Isabel, que ela intercala “igualzinho a quando
faço uma trança no meu cabelo”: Bisa Bia, ela própria e
Neta Beta. Proponha uma conversa com a turma: que
aspectos da menina estão representados em cada uma
de suas três partes? Será que se pode dizer que todos
nós somos, de algum modo, como Isabel, tentando
descobrir como viver intercalando os resquícios do
passado e as expectativas do futuro?
2. Proponha aos alunos que realizem a atividade
proposta por dona Sônia: que novamente reúnam
os retratos de seus bisavós e pesquisem um pouco sobre
o tempo em que eles viveram. O que acontecia no
Brasil naquela época? Como as pessoas se vestiam?
Como eram decoradas suas casas? Estimule-os a reunir o
máximo de informações possível – vale tanto pesquisar
em livros antigos ou na internet quanto conversar diretamente
com seus parentes.
3. Assim como nos diz o livro, a mudança no
papel das mulheres é algo bastante recente, que data da
segunda metade do século 20. Antes disso, era impensável
que mulheres e homens possuíssem os mesmos
direitos. Peça aos alunos que realizem uma pesquisa
sobre os movimentos feministas que, especialmente a
partir dos anos 60, tornaram essas mudanças possíveis.
4. Muito se fala a respeito das transformações
do papel da mulher, porém no que diz respeito às mudanças
na imagem masculina, tudo se deu de maneira
mais tímida e menos pontual. O livro aponta para uma
mudança ao apresentar a figura de Vítor, um dos novos
alunos da classe, que, nas palavras de Isabel, era “o menino
mais corajoso que tinha conhecido”, por não ter medo de
chorar na frente da turma toda. Discuta um pouco sobre
esse assunto com os alunos: o que eles pensam de frases
como “homem não chora”?, ainda hoje recorrentes. Será
que hoje em dia os homens se sentem mais livres para,
como Vítor, demonstrar seus sentimentos?
5. O século 20 foi marcado por muitas transformações
radicais na maneira de viver. Se possível, assista
com os alunos ao filme Nós que aqui estamos por
vós esperamos, de Eduardo Masagão, que retrata essas
transformações, com incrível sensibilidade, ao recolher
uma quantidade enorme de imagens de arquivo e documentos
para retratar essas mudanças não do ponto
de vista de celebridades e figuras históricas, mas sim da
perspectiva de gente comum. Muitos dos temas abordados
por Ana Maria Machado também figuram no documentário.
6. Isabel comenta, numa das passagens do livro, que as palavras e expressões mudaram tanto que
por vezes parece que ela e sua bisavó não falam a mesma
língua. Proponha à turma que faça um levantamento
das palavras e expressões que usam em seu cotidiano
e pesquisem com seus pais e avós expressões antigas.
Perceber as enormes diferenças entre as duas listas vai
ser, no mínimo, curioso.
7. Por fim, sugira a seus alunos que realizem a
tarefa proposta por Vítor no fim do livro, aprovada pela
professora Sônia: imaginar como será o mundo de seus
netos e bisnetos. Seria mais interessante ainda fazer
como Ana Maria Machado e comparar esse mundo do
futuro com os tempos atuais e com os tempos antigos.
Para isso, sugira que os alunos escrevam um diálogo
imaginário entre eles mesmos, um de seus bisavôs ou
bisavós, e uma bisneta ou bisneto.
8. Depois que os diálogos estiverem prontos,
convide alguns dos alunos a, se desejarem, lê-los em
voz alta para o restante da classe.
OUTRAS INFORMAÇÕES: Ele foi escrito em 1981 e no mesmo ano ganhou o Prêmio Maioridade Crefisul, Crefisul (Originais Inéditos). Ficou conhecido mundialmente e hoje se estima cerca de 500.000 exemplares vendidos.
Ana Maria Machado conta que escreveu esse livro pela saudade que sentia das avós e queria contar sobre elas para os filhos. Não imaginou que fosse fazer tanto sucesso, chegando a ser considerado um dos dez mais importantes livros infantis do Brasil.
Leia mais...
• Da mesma autora:
Raul da ferrugem azul – São Paulo: Salamandra.
Ponto a ponto – São Paulo: Companhia das Letrinhas.
Amigo é comigo – São Paulo: Moderna.
Canteiros de Saturno! – Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
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