Se há um aspecto da língua que diz respeito a todas as categorias de escribas é sem dúvida a acentuação. Ortografia é fundamental, é o complemento de um bom texto. Acentuar corretamente é importante em qualquer situação. Mesmo nas mensagens eletrônicas a que se quer atribuir algum valor. Como nem todas as pessoas escrevem em computador ou dispõem de um bom corretor ortográfico, vamos relembrar, numa série de artigos, as regras e a razão dos acentos gráficos em português.
O BCCCV esclarece:
A acentuação gráfica serve para informar a leitura correta das palavras. Alguns acentos indicam a intensidade e outros informam se a pronúncia é aberta ou fechada. Devemos nos lembrar que a língua portuguesa é predominantemente paroxítona: caneta, escrevo, amamos, dizem, jovens, claro, clareza, varia, horas, saia, banana, carinho... e por aí seguem milhares de palavras com pronúncia forte (tonicidade) na penúltima sílaba. Há também aquelas – em menor número – cujo acento tônico recai naturalmente na última sílaba: são as palavras terminadas em i, u, r, l, ão, ã, como ali, caju, valor, papel, falarão, maçã. O acento gráfico, portanto, marca a exceção.
Assim, devem ser acentuadas todas as palavras cujo acento tônico (intensidade de pronúncia) recaia sobre a antepenúltima sílaba. São as proparoxítonas, que constituem sensível minoria em português, como pêssego, lâmpada, fenômeno, límpido, ácido, tíquete, revólveres, êxito, estereótipo, rubéola, fac-símile, debênture. A importância do acento – agudo ou circunflexo – para informar a pronúncia correta pode ser vista nos pares de exemplos abaixo:
Meu pai sempre pacifica seus netos. / Sua família é pacífica e ordeira.
Ela critica seu modo de cozinhar. / Ela é uma pessoa muito crítica.
Não publico meus discursos agora, mas no futuro o farei. / Não frequento parque público.
Sempre me exercito de manhã cedo. / O menino tem um exército de brinquedo.
Pratica bastante, que aprenderás logo. / A prática é diferente da teoria.
Espero que o cantor interprete minhas favoritas./ O embaixador solicitou um intérprete.
Será que você não duvida de nada? / Qual é a sua dúvida agora?
Não habito no paraíso dos meus sonhos. / O hábito não faz o monge.
O trânsito vitima milhares de pessoas por ano no Brasil. / A população é a vítima.
Peço que analises estas amostras de sangue. / As análises serão feitas no laboratório X.
Já nem calculo quanto tempo perdi. / Fez o cálculo da areia necessária para a construção.
Eu mesma digito meus artigos. / O dígito verificador foi calculado de maneira errada.
A bandeira tremula ao gosto do vento. / Fez a assinatura com mão trêmula.
Jamais trafego à margem da rodovia. / Evito os percursos de tráfego mais pesado.
Todo verão a loja liquida seus estoques. / Prefiro medicação líquida a comprimidos.
Imagine ler o termo grifado à direita como se não tivesse acento. Que diferença! Devemos lembrar ainda que os verbos não fogem à regra. Muitos deles, quando estão na primeira pessoa do plural, precisam ser acentuados por serem proparoxítonos: “Era maravilhoso quando saíamos juntos, como se fôssemos parar no tempo... Não dispúnhamos de dinheiro mas não perdíamos o bom humor. Levávamos a vida cantando, como se quiséssemos mostrar a todos quanto éramos felizes.”
Da mesma forma devem levar acento os nomes próprios proparoxítonos: Amábile, Ânderson, Ângela, Angélica, Émerson, Éverton, Eurídice, Jéferson, Orígenes, Róbinson, Rosângela, etc.
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini
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