terça-feira, 3 de julho de 2018

VÍRGULA: e a expressão mínimo

De um articulista do jornal Diário Catarinense: 
Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões, no mínimo, surrealistas.



O que fazem as duas vírgulas ali? Nada, só tiram a fluência da afirmação. 
Quando no mínimo toma o lugar de um advérbio de intensidade, não deve vir entre vírgulas. 
Veja que essa mesma frase poderia ser dita assim:

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões muito surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões bastante surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões excepcionalmente surrealistas.

A expressão no mínimo, como se vê, às vezes serve apenas de reforço; não significa “que é o menor”. Portanto, assim como você não usaria entre vírgulas os advérbios de intensidade acima, não deve entalar no mínimo entre tais sinais de pontuação. Mesmo quando tem o sentido de “no menor limite provável”, as vírgulas podem ser eliminadas, principalmente quando no mínimo vem depois do verbo:

Chegaremos no mínimo às 22 horas.

Espero que ele faça no mínimo três pontos.

Também a expressão equivalente pelo menos deve receber o emprego sóbrio das vírgulas, especialmente quando vem depois do verbo. Podemos observar, nos exemplos abaixo, que sem tal pontuação a frase flui melhor, sem tropeços:

Estamos à sua espera há pelo menos vinte minutos.

Ela espera fazer pelo menos quatro pontos.

A inserção do art. 84-A na Lei 9.981/00 é no mínimo impertinente, para não dizer inútil.

Sua atitude causa no mínimo estranheza.

Mas devo ressalvar que a vírgula também pode ser usada em caso de necessária ênfase e sobretudo quando há um deslocamento da expressão (para longe do verbo):

Ela espera fazer quatro pontos, pelo menos.
Disse que a pesquisa vai demandar de dois meses, no mínimo, a quatro, no máximo.

Enfim, em se tratando de no mínimo pelo menos, seria o caso de dizer: use mas não abuse!



Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

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