O leitor SAMG, de João Pessoa/PB, anota que é uma agressão à nossa língua “dizer agente de polícia civil ao invés de agente da polícia civil, pois se perguntarmos ao agente onde ele trabalha certamente ouviremos como resposta na Polícia, e não em Polícia”.
Não creio que seja bem assim. Vejamos por que digo isso.
A rigor, uma vez que se qualifique ou determine o segundo substantivo de uma locução, deveria se determinar o antecedente usando da e não de. Por exemplo: ele é chefe de gabinete. Se o gabinete é da Presidência, se diria, como consequência: ele é o chefe do gabinete da Presidência. Mas também é lícito dizer “chefe de gabinete da Presidência” quando se quer ou se precisa manter a unidade da expressão "chefe de gabinete". Isto é: ele é chefe de gabinete (do gabinete) da Presidência. Subentende-se a repetição da palavra “gabinete”.
Outro caso semelhante é o do “projeto de lei orçamentária”, que está registrado, por exemplo, inúmeras vezes na Constituição Federal. Pode parecer estranho, mas tem a mesma lógica: o projeto de lei (da lei) orçamentária. Nesse tipo de estrutura está se evitando – reitero – a repetição do segundo substantivo (lei), que então estaria determinado pelo artigo. O "projeto de lei" forma uma unidade “imexível”: o “projeto da lei orçamentária” seria outra coisa, diferente do “projeto de lei (da lei) orçamentária”.
Chegamos, então, ao agente de polícia. O seu cargo é exatamente este: agente de polícia, assim como “delegado de polícia”. Mas qual polícia? perguntamos. – A polícia civil. Portanto, ele é um agente de polícia da polícia civil. Sem a repetição, dizemos: um agente de polícia civil.
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini
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