-- Gostaria de saber o que é feito, em nossa língua, como é falada atualmente, com o tempo verbal mais-que-perfeito.
Ex. É o que Plotino percebera, ao ver no “Deus é amor” um amor que “irradia em si e para si” (Júlia Kristeva, História de amor) em que o revisor de textos “corrigiu” percebera e colocou percebeu.
[G. Ribeiro, Itatiba/SP].
O BCCCV informa:
De fato, tem-se a impressão de que ninguém mais o emprega. Refiro-me apenas ao pretérito mais-que-perfeito simples [fora, amara, vendera, saíra], restrito quase que apenas ao âmbito literário, pois o mais-que-perfeito composto continua a ser usado cotidianamente: tinha sido, tinha amado, havia vendido, havia saído são as formas verbais comuns na linguagem falada.
A rigor, o mais-que-perfeito não deve se confundir com o pretérito perfeito simples: este exprime uma ação ou processo que se completou no passado; aquele, uma ação que ocorreu antes de outra já passada. Sendo assim, a construção no mais-que-perfeito está sempre ligada a uma oração no pretérito – geralmente no mesmo período. Mas algumas vezes, dependendo do estilo de quem escreve, o pretérito perfeito vem na sentença anterior. Nos exemplos abaixo se pode perceber a íntima relação dos dois tempos verbais:
A viagem se tornara tão monótona que a maioria resolveu desembarcar no primeiro porto.
Quando chegamos, a festa já havia começado.
Daniel, 25 anos, acidentou-se gravemente. Meses antes, ele tinha recebido um rim doado pela própria mãe.
Então, uma frase isolada admite os dois tempos verbais: É o que Plotino percebeu/ percebera, ao ver no “Deus é amor” um amor que “irradia em si e para si”. O problema com o revisor de texto é que, não sendo analítico, ele não consegue perceber uma diferença que só o contexto poderia explicitar. Sem a indicação do que foi dito antes, é o pretérito perfeito que será visto como correto.
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