Sylvio Bertoli quer saber se não cabe também o verbo no plural nas frases abaixo, que foram objeto da coluna “Falando de números e numerais” publicada há seis semanas (NTL 155). Dizia eu então:
Há uma concordância especial para o verbo ser quando o sujeito indica preço, peso, porção, quantidade, medida. Neste caso o verbo passa a concordar com as expressões muito, pouco, o suficiente, o mínimo, demais etc., permanecendo então na terceira pessoa do singular:
Sete anos de noivado foi muito.
Dez metros de fita é pouquíssimo.
Cem reais é o suficiente.
Seis é o mínimo desejável.
Um é pouco, dois é bom, três é demais.
Todavia, existe uma concordância do verbo ser no plural. Isso se dá quando o substantivo, núcleo do sujeito, está determinado por um artigo. Veja então a diferença:
Os sete anos de noivado de Abel e Marta foram demais, foram um absurdo.
Os seis elementos são desejáveis.
Os dez metros de fita que comprei foram insuficientes.
Os cem reais que me deste foram suficientes.
--- O que me leva a este contato é uma dúvida que me surgiu após ler uma edição do jornal A Gazeta. A manchete principal saiu assim: Quem poderão ser os candidatos locais nas próximas eleições? Gostaria de saber se está correto este título e por quê. Fernando.
A manchete está correta, embora chegue a soar estranha, pois não é muito comum a utilização do verbo ser com um verbo auxiliar, numa locução verbal [poderão ser], junto do pronome interrogativo quem. Normalmente este pronome leva o verbo para o singular:
Quem será?
Quem sabe quem foi o autor da manchete?
Quem fez isso?
Todavia, em orações com o verbo ser, o pronome quem pode servir de predicativo a um sujeito no plural. Isso quer dizer que o verbo vai fazer a concordância com o sujeito que estiver no plural:
Quem são eles? Quem somos nós?
Quem serão os candidatos locais nas próximas eleições?
Quem foram os malucos que atacaram o presidente?
"Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?" (Cecília Meireles)
CONCORDÂNCIA NO FEMININO
--- Queira esclarecer: a gerente/a auxiliar administrativo ou a gerente/a auxiliar administrativa. Luiz Gonzaga Soares, Rio de Janeiro/RJ
Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns-de-dois, ou comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Consequentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário. Outros bons exemplos de cargos femininos:
a secretária executiva
a secretária adjunta
a presidente adjunta
a chefe auxiliar
a assessora especial
a consultora geral
a juíza substituta
a gerente financeira
a auxiliar técnica
a técnica administrativa
a diretora-secretária
a diretora-presidente
a ministra-chefe.
Enfim, se uma mulher ocupa o cargo de prefeito ou de técnico judiciário, por exemplo, ela se torna prefeita, ou técnica judiciária, e assim por diante.
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini
Nenhum comentário:
Postar um comentário