sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ENSINO À DISTÂNCIA ou A DISTÂNCIA?

 -- Tenho certa resistência em grafar ensino a distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é comum encontrar nos documentos exarados pelo MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como crase facultativa. Podia comentar? Prof. José T. B. Neto, Umuarama/PR


Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa e em outras locuções adverbiais femininas que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do acento pode deixar o texto ambíguo. Em “ensinar/estudar a distância”, por exemplo, fica-se com a impressão de que é a distância que está sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de viu a distânciaescreveu a distânciacurou a distânciafotografe a distânciapermanece a distância [= a distância permanece] e assim por diante, que parecem melhor quando craseadas: viu à distância, escreveu à distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.

O #BCCCV esclarece:



Com a distância determinada, especificada, o A deve ser obrigatoriamente acentuado: 


Fotografe à distância de um metro.

Cientistas esperam medir 60 mil galáxias à distância de nove bilhões de anos-luz.

Ficou à distância de uns 10 km.


Já na frase “Compramos uma chácara a grande distância daqui” não há crase, porque está subentendido o artigo indefinido: a grande distância.


Enfim, entendo que é sempre melhor acentuar a expressão, até porque em determinadas situações só o acento clarifica o sentido dado à palavra, como por exemplo nesta explicação entre parênteses: Reviu seus estudos a respeito da estratégia tele (“à distância”) de lidar com os saberes tácitos.


ÍNDIOS TUPI OU TUPIS


Sempre que nossos indígenas ficam em evidência, surge a pergunta: deve-se dizer índios tupi ou índios tupis? Guarani ou guaranis? Xokleng ou xoklengs? A resposta é "tanto faz". Aceita-se o singular (mais técnico) ou o plural:


Muitos índios Gê haviam sido dizimados pelos missionários.

No litoral de SC estavam os índios tupi-guarani, ceramistas com rudimentos de agricultura, que haviam ocupado a região pelo menos 800 anos antes.

No interior habitavam os kaingang os xokleng, do grupo Gê, também afugentados do litoral pelos carijós.


Maria Helena de Moura Neves (Gramática de Usos do Português, Ed. Unesp, 2000:164) ensina: “Também não recebem marca de plural os nomes de tribos indígenas, seguindo convenção internacional dos etnólogos: (...) # Entretanto, frequentemente se usam esses nomes pluralizados, como qualquer outro nome de povo.”


Embora facultativo o uso, parece soar melhor o plural quando o nome da tribo tem vogal final: pataxós, caiapós, macuxis, ianomamis, kaiowás, camaiurás, xavantes, bororos.


Maria Tereza de Queiroz Piacentini

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