quarta-feira, 24 de julho de 2019

CONCORDÂNCIAS SUBSTANTIVOS:

--- Qual o correto: Secretaria Municipal da Saúde ou Secretaria Municipal de Saúde? Por quê? Emerita Bortolini, Sobradinho/RS

Ambos corretos. Entre Secretaria de Saúde e Secretaria da Saúde não há diferença de sentido, apenas de forma (questão de rigor gramatical versus questão evoluída de uso).
O #BCCCV informa:


Em princípio, os substantivos (em geral abstratos) que não contêm nenhuma especificação ou determinação de significado dispensam a anteposição do artigo definido. Por exemplo: queremos paz e amor; temos saúde; precisa-se de justiça e caridade; demonstrou a relação entre ciência e tecnologia; é possível ter educação sem bons livros? Sendo assim, usa-se a preposição de nos seguintes casos, entre outros:

Secretaria Municipal de Saúde

Secretaria de Estado de Educação

Secretaria Estadual de Planejamento

Ministério de Minas e Energia

Procuradoria de Justiça

Hospital de Clínicas

Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente

Mas também se pode usar da em situações idênticas, mesmo que não haja especificação do substantivo. Ou seja, embora com significado amplo e genérico, tais nomes podem ser precedidos do artigo determinado. É uma tradição no Brasil; é mais comum e chega a soar melhor em muitos casos:

Secretaria da Saúde

Secretaria da Indústria e Tecnologia

Ministério da Educação

Ministério do Planejamento

Hospital das Clínicas

Palácio da Justiça

Fundação do Meio Ambiente

Outra pergunta que sempre me fazem é: deve-se repetir o artigo ou a preposição quando a instituição tem mais de uma área no seu âmbito? O certo é “Secretaria da Educação e da Cultura” ou “Secretaria da Educação e Cultura”?

A resposta é: não se repete a preposição no segundo e no terceiro termos de uma mesma pasta, de modo a ficar marcada sua unidade ou pertencimento a um mesmo regime. Além do mais, isso evita confusão quando se faz referência a mais de um órgão. Veja-se, por exemplo, como fica problemática a distinção para quem não conhece bem a estrutura governamental:

- Sua solicitação não poderá ser atendida no momento, conforme informação que recebemos das Secretarias da Administração e da Cultura e do Desporto. [São duas ou três? Quais duas?]

- De acordo com projeto de lei encaminhado à Assembleia no dia 8, as Secretarias da Fazenda e do Planejamento e da Administração e da Cidadania terão maiores encargos. [São 2, 3 ou 4 secretarias, afinal?]

Nessas frases haveria clareza se se observasse a regra citada:

Sua solicitação não poderá ser atendida no momento, conforme informação que recebemos das Secretarias da Administração e da Cultura e Desporto.

De acordo com projeto de lei encaminhado à Assembleia no dia 8, as Secretarias da Fazenda e Planejamentoda Administração e Cidadania terão maiores encargos.

O ideal é que seja adotado um critério uniforme na nomenclatura dos órgãos municipais, estaduais ou federais, tanto em relação ao DE/DA quanto no tocante à repetição da preposição. Bons exemplos: Secretaria dos Transportes e Obras; Secretaria da Justiça e Cidadania; Secretaria da Educação e Desporto; Secretaria do Desenvolvimento Rural e Agricultura.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

quinta-feira, 11 de julho de 2019

SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA + SOBRE

A norma oficial estabelece que a forma abreviada dos símbolos científicos e unidades padronizadas de medida seja escrita sem ponto. Algumas foram registradas em maiúscula – como (potássio), Kr (criptônio), Y (ítrio) – outras em minúsculas, tal qual sen (seno) e g (grama), por exemplo. A grafia para o singular e o plural é a mesma: sem o acréscimo de s ou de qualquer outra letra: nada de *mts para metros, ou *hrs para horas.

Eis uma pequena relação das abreviaturas mais usadas: 1 km, 3 m, 4 cm, 5 mm; 6 kg, 7 g, 8 mg; 9 kl, 10 dl, 12 ml. No caso de litro apenas, como o l minúsculo pode ser confundido com 1 (um), convencionou-se usá-lo em maiúscula ou em itálico: 1 L, 20 l.
O #BCCCV esclarece:


Deixa-se um espaço entre o valor numérico e a unidade, a menos que haja uma combinação de dois elementos, como por exemplo metro e centímetro:

Ele tem um sítio a 6 km de Imperatriz.

Recomenda-se a ingestão diária de 0,5 g de ácido ascórbico.

Havia 6 ha de terras ainda devolutas.

O motor possuía 45 hp e funcionava a contento.

Às 18h30min acontecerá o jogo decisivo.

O pássaro encontrava-se exatamente a 3m18cm do predador.

Devo registrar que no caso das horas cheias, a despeito da recomendação do Inmetro, esse espaço vem sendo abolido, sendo portanto válido escrever também: 8h, 10h, 22h.

A palavra quilômetro(s) pode receber inicial maiúscula quando assume o caráter de nome próprio, ou seja, ao se referir a uma determinada localidade na estrada:

O acidente aconteceu no Km 380 da BR 203.

Escrevem-se por extenso as unidades padronizadas de pesos e medidas – metro, milímetro, litro, grama – quando enunciadas isoladamente:

Cada metro de terra, cada litro de água, tudo era levado em conta no assentamento.

Percorreu a pé os poucos quilômetros da estrada.

SOBRE SER

Sobre ser leal e atencioso, o mordomo reunia as qualidades do zelo e da minúcia.

Estranhável à primeira vista, a construção frasal está perfeita. A preposição sobre, a par do seu sentido usual de “em/por cima, acima de, em posição superior, relativamente a, acerca de”, entre outros menos votados, significa além de. Mais dois exemplos:

Sobre serem dóceis, as duas gatas eram lindas e espertas.

A interpretação lógica é aquela que, sobre examinar a lei em conexão com as demais, investiga-lhe também as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

terça-feira, 9 de julho de 2019

O ESPELHO: DE MACHADO DE ASSIS

O DUELO DE IDENTIDADES:
O conto “O espelho” foi publicado em 1882 no Jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e, logo após, veiculado à obra Papéis Avulsos. Ali, Machado de Assis demonstra todo o seu repertório que o qualifica como o grande escritor brasileiro de todos os tempos.

Dentre os vários escritos na obra concentrados, merece atenção especial aquele que trata das diversas maneiras de vislumbrar a personalidade humana e, até mesmo, a definição da identidade a partir de múltiplas perspectivas.
O espelho
Entre infinitas probabilidades o ser humano se define e se compreende a partir de um singular ponto de entendimento, através do qual consegue engendrar sua personalidade. Essas prospectivas asseveram o homem em seu pedestal de segurança, confirmando sua individualidade.
Entretanto, ao caminhar com seus iguais (fato que notoriamente o torna o ser inteligente e pensante, pois é a partir da interação com o outro que o homem se compreende racional – VIGOTSKY), o indivíduo sente o repulsar de suas pulsões elegendo o seu lugar no território ao qual se condiciona.
Todavia, as situações que definem a personalidade, tanto internas quanto externas, podem sofrer determinadas ingerências por parte das circunstâncias mais relevantes da vida do sujeito.
Esses incidentes determinam como alguma pessoa encara uma situação singular e marcante, e de que forma essa ocasião poderá moldar a sua personalidade e sua identidade para sempre.
Há na obra de Machado de Assis uma dilapidação da identidade concreta do personagem principal, que se enfoca como bom entendedor da interposição de uma e de outra identidade: a metafísica e a real.
Quando se encontra em situação inaudita, refuta-se sua individualidade habitual em troca de segurança.
Essa proteção é sua salvaguarda perante as intempéries que determinada situação, não corriqueira, lhe causa em seu mais incorporado receio ou medo.
No conto, a necessidade de ter com o outro, que não havia há muito tempo, pois sozinho estava por demasiado, causa-lhe a pulsão do outro. Esse impossível ter com o outro assombra, pois o ser humano é aquele que depende de sua socialização uma vez que, sem ela, é incompleto; sem identidade.
Assim, em situações difíceis, é possível o choque de duas identidades: a habitual vai-se com a dificuldade e aquela que perdura é a da segurança: a forma com a qual se espera que os outros vejam e reconheçam e que, de fato, interpretem.
O personagem, perdido em uma dessas situações, veste sua roupa de alferes, e ali, dessa forma, se sente seguro; como jamais havia se sentido antes.
A maneira qual as outras pessoas enxergam o indivíduo é para ele mais importante do que sua forma habitual de ser, criando assim duas identidades.
Uma dessas o leva a crer em sua força, que rechaça o medo, inclusive o pavor da solidão. A outra é aquela que sempre está presente, apenas deixada de lado em momentos apreensivos. Segundo ele, a identidade real é suplantada pela metafísica, nesses casos.
O que se nota no conto é a influência que outras pessoas possuem, de uma forma ou outra, sobre o indivíduo.
Ele é moldado e configurado a partir do outro. Este precisa ser visto e interpretado por aquele; precisa, acima de tudo, ser aceito.
Para isso, a troca de experiências num interacionismo irá afeiçoar os gostos, os sabores e dissabores de toda uma vida, inclusive da existência em sociedade; em um aprendizado que envolve não apenas aptidões, mas sim, antagonismos diversos.
E são nas incompatibilidades que afloram para mais ou menos, que se afirma as identidades manifestadas no conto de Machado de Assis.
vida social como um todo, em uma fatia de convivência necessita da aprovação do outro. Para muitos, a falta dessa afirmação perante o próximo pode aflorar a identidade de segurança, ou a maneira que se espera que o outro o veja. Em muitas situações, essas inadequações podem causar um duelo de personalidades, como afirma FREUD, e vencerá aquela capaz de confortar/confirmar uma autoafirmação.
Para o personagem do conto O espelho, sua determinação vinha por conta de um uniforme de alferes, que é como gosta que os outros o vejam.
De toda forma, independentemente da identidade que se confirma, o outro é sempre o caminho, a meta e a necessidade.
Iverson Kech Ferreira