domingo, 19 de abril de 2015

PONTUAÇÃO (em excesso)

- Gostaria de saber se é correta a colocação de ponto final no término de frases que tão somente indicam a data em que o documento foi elaborado. Daniel, Florianópolis/SC

--- Gostaria de saber se se usa ponto final no fim de datas, como por exemplo: Joinville, 9 de abril de 2003. P. I. P. C., Joinville/SC

Usa-se um ponto para marcar fim de frase. Pode-se dizer de outro modo, à maneira de Carlos Goes (Método de análise morfológica e sintática,1961, p.12): a frase começa sempre por letra maiúscula e termina por ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação ou reticências. O autor chega a fazer uma nota para deixar bem claro que o período termina por ponto de exclamação ou de interrogação “quando estes coincidem com o ponto final”. Inferência básica: não se usa ao mesmo tempo a interrogação e o ponto final, ou a exclamação e o ponto final. Basta um deles para marcar o término do período. Portanto, é inadequada, por excessiva, a pontuação encontrada nos seguintes casos:

*A menina ficou aos prantos: Socorro! Socorro!.


*Admirou-se: “O presidente não gosta de assistir à televisão?”. 






O BCCCV informa:


A pontuação fica perfeita assim:

A menina ficou aos prantos: Socorro! Socorro!
 

Admirou-se: “O presidente não gosta de assistir à televisão?”

Observe que é redundante esse ponto final mesmo quando existem aspas depois da interrogação ou exclamação. Repito um bom exemplo:

Após uma exibição privada de Sunset boulevard, título original deste filme, Louis B. Mayer, o ex-chefão da Metro, virou-se para o diretor polonês Billy Wilder e gritou: “Canalha!” Para o executivo, era demais... 

Excetua-se da regra, naturalmente, a exclamação ou interrogação que faz parte de um nome próprio e que por coincidência venha no final da frase:

“Eu não quero presente. Eu quero é dinheiro.” Dercy Gonçalves, atriz que acaba de completar 96 anos, em entrevista no A Casa É Sua, da Rede TV!. 

E o ponto da data, para que serve? Configura a data uma frase? Se não é frase, nada de ponto. Frase – resumindo o que dizem as gramáticas – é qualquer enunciado com sentido completo, contenha verbo ou não. Pode ser feita de uma só palavra ou uma reunião delas, e seu sentido é dado pelo contexto. São exemplos de frases sem verbo (o que nos interessa agora): Fogo! Silêncio! Oi, tudo bem? Tudo certo. Muito obrigada pelas flores, meu anjo. Que maravilha... Grandes amores, grandes tormentos.

Em princípio, uma data é um fragmento de frase. E fragmento não leva ponto. Se isso não convence, posso acrescentar que não se pontuam os títulos (de livros, capítulos, artigos, matérias de jornal etc.), as assinaturas, nomes de cargos, endereços e todo o cabeçalho de correspondência ou de redação escolar. Se a data aparece numa dessas circunstâncias, não é necessário pespegar-lhe um ponto final. Eu não chegaria a afirmar que é erro, pois não me agradam as camisas de força em termos de linguagem. Mas recomendo economizar esse pontinho nas datas isoladas.

“Ponto final em data não tem justificação, quer a data encabece quer feche carta, quer antecedida quer não do nome do lugar em que é declarada. Felizmente o Formulário Ortográfico não se meteu nisso.” Assim se expressou o gramático Napoleão Mendes de Almeida  no seu Dicionário de Questões Vernáculas (1981, p. 239-40).

Maria Tereza de Queiroz Piacentini 

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