sábado, 4 de abril de 2009

REDIRECIONAMENTO LITERÁRIO:

==> Houve época -> por volta de 1850 -> em que alguns romancistas e poetas se inspiraram no índio. Mostraram um índio forte, valente, destemido, um verdadeiro herói. Era o índio, realmente, tudo isso? Hoje, como ele é? O que aconteceu ao herói cantado nas poesias do século passado? Observe como o poeta Gonçalves Dias mostrou o índio brasileiro:

CANÇÃO DO TAMOIO (Natalícia)

I
Não chores, meu filho;
não chores, que a vida
é luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
que os fracos abate,
que os fortes, os bravos,
só pode exaltar.


II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
não teme da morte;
só teme da morte;
só teme fugir;
no arco que entesa
tem certa uma presa,
quer seja tapuia,
Condor ou tapir.


III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
se morre, descansa
dos seus na lembrança,
na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
que a morte há de vir!


V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamaio nasceste,
Valente serás,
Sê duro guerreiro,
robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
na guerra e na paz.


VI
Teu grito de guerra
retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
pior que o trovão.


VII
E a mãe nessas tabas,
querendo calados
os filhos criados
na lei do terror;
teu nome lhes diga,
que a gente inimiga
talvez não escute
sem pranto, sem dor!


VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do imigo falaz!
Na última hora
teus feitos memora,
tranquilo nos gestos,
impávido, audaz.


IX
E cai como o tronco
do raio tocado,
partido, rojado
por larga extensão;
assim morre o forte!
No passo da morte
triunfa, conquista
mais alto brasão.


X
As armas ensaia,
penetra na vida:
pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
os fracos abate,
aos fortes, aos bravos,
só pode exaltar.

DADOS SOBRE O AUTOR:
Antônio Gonçalves Dias -> nasceu em 1823 no Maranhão. Jovem ainda foi para Portugal estudar Direito. Voltando ao Brasil em 1845 obteve a proteção imperial, ocupando cargos de importância. Morreu num naufrágio em 1864. Suas obras poéticas falam sobre o índio, a Natureza, a Pátria e o amor. Deixou os livros: Primeiros Cantos, Segundos Cantos, Sextilhas de Frei Antão, Últimos Cantos. Escreveu também o Dicionário de Língua Tupi e o Vocabulário da Língua Geral Usada no Alto Amazonas.







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