sexta-feira, 30 de maio de 2014

COMUNICADO E INFORMADO - qual usar? qual é melhor?

Costumo assistir ao Jornal da Record e, no final de uma reportagem sobre o problema do gerundismo, Boris Casoy comentou dois ou três erros que as pessoas costumam fazer, tipo “vai estar recebendo” e “fulano foi comunicado”. Não entendi o que há de errado em foi comunicado, qual o problema em usar essa expressão? Adroaldo de Andrade, São José/SC

Boris Casoy falou assim porque na linguagem culta se diz que “um fato é comunicado”, e não “uma pessoa é comunicada”. Já explico.

Tomemos a seguinte frase “errada” como exemplo: “O inquilino foi comunicado pelo síndico que as taxas seriam aumentadas”. Essa é uma construção passiva que teria como correspondente “O síndico comunicou inquilino...”. Grifei o artigo o para chamar a atenção da ingramaticalidade da oração, que, de acordo com o português padrão, é dita assim: “O síndico comunicou ao inquilino”.

A regência normal do verbo comunicar, que todo mundo sabe, é: a gente - comunica -  alguma coisa -  a alguém. [voz ativa]

Aí vemos objeto direto de coisa objeto indireto de pessoa, a mesma regência que se observa nestes exemplos:

O repórter comunicou a morte de Getúlio Vargas à nação.

O gerente comunicou ao servidor que seu horário fora alterado.

Peço que nos comunique qualquer decisão em contrário.

Gostaria de comunicar-lhe que você foi aprovado nos exames.

Então, ao passar esse tipo de frase para a voz passiva, ou seja, quando se usa o particípio
“comunicado”, o objeto direto [de coisa] vem a ser o sujeito da oração: alguma coisa  - 
é comunicada  -  a alguém.  [voz passiva]

E não o contrário, não a pessoa como sujeito: “alguém é comunicado de algo”, como já é
hábito falar (esta construção já está tão arraigada que pouquíssimas pessoas se dão
conta da sua ingramaticalidade). De qualquer modo, a construção passiva recomendada
com o verbo comunicar é a seguinte:

O resultado das eleições será comunicado em rede nacional.

O aumento das tarifas foi comunicado aos inquilinos.

Foi-me comunicado que passei nos exames.

Qualquer decisão em contrário deverá ser comunicada à diretoria.

A morte de Getúlio Vargas foi comunicada à nação pelo Repórter Esso.

Qual a alternativa para quem quer ser “gramaticalmente correto” mas ao mesmo tempo não
deseja usar este último tipo de frase? É se valer do verbo informar, que tem mais flexibilidade
e admite tanto pessoa quanto coisa/fato como sujeito passivo. Assim, em vez de “Fulano
foi comunicado”, podemos dizer:

Josué foi informado de sua demissão.

O inquilino será informado de que as tarifas devem aumentar.

O povo brasileiro foi informado da morte de Vargas pelo Repórter Esso.

Fui informada de que passei nos exames.

Os diretores deverão ser informados de qualquer decisão em contrário.

O rapaz foi informado pelo gerente de que seu horário havia sido alterado.

Maria Tereza de Queiroz Piacentini

quarta-feira, 28 de maio de 2014

POR SI SÓ: tem plural?

A expressão “por si só” é usada sempre no singular ou deve também ser flexionada no plural?

 Por exemplo: as provas apresentadas, por si só, não foram suficientes para caracterizar o dano.

 Caroline de Souza, Florianópolis/SC



Deve-se pluralizar a expressão de acordo com o substantivo em referência.

 Quando reforça o pronome si (que serve para singular e plural),

 a palavra  tem valor adjetivo e é portanto flexionável.

 É como se disséssemos “a ação por si mesma,
 as provas por si mesmas,
 os fatos por si próprios”. Alguns exemplos:

Os fatos por si sós recomendam a punição do infrator.

Essas medidas por si sós resolverão o caso.

As provas apresentadas, por si sós, não são suficientes para caracterizar o dano.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

BARATO [preço] tem feminino?

Gostaria de saber se a palavra barato, referente a preço, tem feminino;
por exemplo, a roupa é barata. Wagner de Jesus Baptista, São Paulo/SP.


O adjetivo barato tem o feminino barata, sim. E tem plural.
Ou seja, flexiona em número e gênero quando qualifica um
substantivo na sua proximidade [exemplos 1 e 2] ou em frases
com verbos de ligação, dos quais ser e estar são os principais
[exemplos 3 a 6]. O mesmo vale para o adjetivo “caro”:


1) Eles levam uma vida barata.

2) Encontraram diversões baratas na cidade.

3) A roupa é muito barata nos nossos estabelecimentos.

4) Os pãezinhos estão cada vez mais caros, quando deviam ser baratos.

5) As viagens internacionais ficaram mais caras com o aumento do dólar,
o que não significa que as nacionais estejam mais baratas.

6) Com a redução do IPI, os carros podem ficar mais baratos.


Barato só não flexiona (permanece no masculino singular) quando
é usado adverbialmente, isto é, junto com verbos que não sejam
de ligação, como custar e sair:

A roupa custa barato, mas os móveis custam caro.

Os tapetes saíram barato; as aulas afinal saíram caro.

O candidato promete que os itens da cesta básica custarão mais barato.

VIDE, VEJA OU VER?

Vide. Essa expressão é usada amiúde, como imperativo do verbo ver.

Ex.: Vide rodapé; vide página 13 etc.

Pergunto se o correto não seria vede e em que hipótese devemos usar o vide acertadamente. Aparecido Ladislau Favini, Campo Mourão/PR.


Usa-se vide quando se quer remeter alguém a um livro,
capítulo, página ou trecho diferente do que se está vendo.

Abrevia-se v. ou V. – inicial maiúscula quando no início da frase.

O imperativo do verbo ver de fato é vede,

que se refere a vós, pronome raro no Brasil,

o que talvez explique a preferência pelo latim “vide”.

Melhor seria usar ver ou veja, por exemplo:

Veja pág. 10.
Ver bula.
Ver referência no final do capítulo.






















sexta-feira, 2 de maio de 2014

PRESIDENTE, sim! PRESIDENTA,não!

UTILIDADE PÚBLICA.
COM MUITA ALEGRIA TENHO A GRATA SATISFAÇÃO DE REPASSAR

À PRESIDENTE E A TODOS OS BRASILEIROS, ESSE ESCLARECIMENTO


QUE FOGE AO ALCANCE DE CERTAS PESSOAS LIMITADAS.
ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM CORRIGIU ISSO
(aula de português)

Uma belíssima aula de português!

Foi elaborado para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem presidente ou presidenta.

A presidenta foi estudanta? Existe a palavra: PRESIDENTA?

Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto?

Miriam Rita Moro Mine - Universidade Federal do Paraná.

No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.

Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é 

cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante...

Qual é o particípio ativo do verbo ser?

O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que

 expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.


Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", 

independentemente do  sexo que tenha.


Diz-se: capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não 

"estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não 

"pacienta".

Um bom exemplo do erro grosseiro seria:

"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina 

ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia 

sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas 

atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para 

ficar contenta".

EMBAIXO, EM BAIXO, EM CIMA ...

“A diferença de embaixo e em baixo”.

Aproveitaremos para ver também a locução adverbial em cima.


Há um par de advérbios que chama a atenção pela incoerência da grafia:

embaixo em cima, um junto e um separado.

Mas é melhor observar a lista completa:


1) abaixo (rio abaixo)                        2) acima (rio acima)
    debaixo do tapete                              de cima do banco
    embaixo da mesa                             em cima do balcão
    por baixo dos panos                        por cima dos fatos



No caso 1, escreve-se três vezes junto e uma vez separado,

até pelo fato de que a preposição POR tem mais evidência

que as outras (“porbaixo” ficaria deveras estranho!); 

no caso 2, três vezes separado e uma vez junto! Fazer o quê?

É imposição oficial. Mas há um caso em que se escreve “baixo”

separado da preposição A ou DE: é na relação entre de ... a

como nos seguintes exemplos:


A parede rachou de alto a baixo. 

Pintou a escada de baixo a cima.



Já para usar a sequência “em baixo” é preciso agregar-lhe um substantivo,

pois aí a palavra “baixo” é um adjetivo, portanto variável:


Falou em baixo tom.

Vive em baixo astral.

Trafega em baixa velocidade.

                                                BCCCV esclarece~~ DICAS/2014

MUSSARELA, MOZARELA, MUÇARELA ?!?

Queijo Mozzarella

 Há 15 anos trabalhando como revisor,

 principalmente em agências de publicidade,

 quando ocorre num trabalho de um cliente querer grafar “mussarela” 

como o nome daquele queijo muito utilizado em pizzas, tenho conseguido

 convencê-los a aceitar a forma mozarela, que consta no Michaelis

 (ao lado de muçarela, infelizmente) como aportuguesamento do italiano mozzarella.

 Isso apesar da turma do “mas eu sempre vi escrito assim”.

 Qual a sua opinião a respeito? Celso Mattos, Mogi das Cruzes/SP.



Entendo que se deve adotar o termo italiano original – mozzarella 

 ou uma das duas formas dicionarizadas (Michaelis, Aurélio, Houaiss, PVOLP): 

ou mozarela, aportuguesamento da grafia italiana, ou muçarela

grafia baseada na pronúncia brasileira, mas que ainda parece estranha,

 por ser pouco usada.

 Trocar o cê cedilha por dois esses (mussarela)?

 Até ficaria simpático, mas deixaria muito confuso quem recorresse ao

 dicionário em caso de dúvida, pois não encontraria ali essa grafia.

 Na verdade é uma questão de hábito. Já nos acostumamos, por exemplo,

 com o cê cedilha em palavras como maça (arma de ferro), maçaneta,

 maçante, maçarico, maçom, miçanga, moçárabe, moçoró, muçulmano, muçum.


BCCCV esclarece~~

Gravidez : tem plural?

Primeira vez que me perguntaram se a palavra gravidez tinha plural,

eu disse que não,

até porque dois médicos a quem dirigi a mesma pergunta

responderam que não há, e eu mesma,

não encontrei o plural nos dicionários e nos livros de medicina de que disponho.

Além do mais, “gravidezes” soa estranho,

o que justifica o seu desuso ou raridade,

embora em artigos na internet seja bem frequente.

A explicação para tal flexão é que as palavras terminadas em Z ou EZ

formam o plural com o acréscimo de “es”,

caso de avestruz – avestruzes, vez – vezes.

Mas devo contrapor que nem sempre é assim:

o plural de tez (cútis) é tez, não *tezes,

e tampouco o adjetivo indez se usa no plural:

os ovos indez. Por que então gravidez teria obrigatoriamente um plural?

Sendo assim, no caso de mais de uma, é melhor e mais elegante falar em gestação:

Maria teve sete gestações em 10 anos.

Ainda é possível reestruturar a frase:

Maria teve gravidez tubária duas vezes.

Ela teve gravidez de risco nos quatro filhos. [em vez de quatro gravidezes].